28 Fevereiro 2020
Compartilhamos o comentário de Elisa Bacciotti, do Fiare Banca Ética, sobre a advertência realizada pela Oxfam no último Fórum de Davos sobre a imperiosa necessidade de superar a desigualdade em nossas sociedades.
Para Bacciotti "o sistema econômico atual produz um crescimento na renda e riqueza a nível mundial que é tudo menos inclusivo, e já não responde às necessidades da grande maioria dos cidadãos do planeta".
O comentário é publicado por CPAL Social, 23-02-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
O relatório Tempo de Cuidar apresentado pela Oxfam na véspera do Fórum Econômico Mundial de Davos é a história de dois extremos: uns extremos que convivem juntos, não em diferentes países ou diferentes regiões, mas sim, literalmente juntos, um ao lado do outro, em diferentes vizinhanças das mesmas metrópoles mundiais. Uma minoria que vê como se consolida sua fortuna e poder econômico, e milhões de pessoas que não vem que seus esforços estejam adequadamente recompensados.
Menos de 1% da riqueza é da metade mais pobre da população mundial; inclusive em termos de renda, a desigualdade é muito forte. Segundo os dados de 2017, um trabalhador que pertence aos 10% dos trabalhadores que ganham menos (22 dólares ao mês) deveriam trabalhar quase 350 anos para alcançar o salário médio anual do 10% melhor pago a nível mundial.
Essa disparidade desconcertante deixa claro que o sistema econômico atual produz um crescimento na renda e riqueza a nível mundial que é tudo menos inclusivo, e já não responde às necessidades da grande maioria dos cidadãos do planeta.
Com esse relatório, Oxfam queria voltar a colocar a dignidade do trabalho no centro: frente a tudo, o invisível e o não reconhecido, levado a cabo por mulheres em todo o mundo e em nosso país. Um trabalho que damos por garantido e que tem um valor econômico que deveríamos aprender a reconhecer: as mulheres no mundo dedicam 12.500 milhões de horas ao trabalho de cuidado não remunerado todos os dias. Uma contribuição à economia global que vale pelo menos 10,8 bilhões de dólares ao ano (três vezes o valor do mercado global de bens e serviços tecnológicos) e que, em vez de determinar sua valorização, é um fator potencial de cair ou permanecer na pobreza. No mundo, 42% das mulheres não podem trabalhar porque tem que cuidar de membros da família como pessoas anciãs, crianças, pessoas com diversidades múltiplas; e somente 6% dos homens estão na mesma situação.
Um tema que também concerne a Espanha e a Itália: em 2018, mais de 10% das mulheres não teve um trabalho fora de casa porque cuidava de seus filhos, em comparação com a média europeia de 3,7%. Um fenômeno não isento de consequência: esta “escolha” pode conduzir a menores lucros e, portanto, a uma menor interdependência econômica, hoje e no futuro, quando chegar a idade de aposentadoria tendo pago menos contribuições.
Na Espanha, segundo recorda a Oxfam Intermón, o trabalho de cuidados não remunerados equivale a 14,9% do PIB, segundo dados da OIT de 2018. As mulheres são 74,8% da população trabalhadora que recebe os salários mais baixos, enquanto representam somente 35,6% das pessoas trabalhadores que recebem os salários mais altos.
É bom lembrar que o crescimento da desigualdade, um fenômeno que retarda a saída de milhões de pessoas da pobreza extrema, não é um fenômeno natural, mas uma consequência das escolhas de governos e atores econômicos. Cada um de nós pode colocar seu grão de areia, não apenas ouvindo e participando, para conseguir maior equidade fiscal e coleta de recursos para proteger bens comuns, mas também com suas próprias opções de consumo e investimento.
O Fiare Banca Etica luta pela equidade e inclusão fiscal. Acreditamos que é hora de mudar as regras e incorporar leis contra sonegação e evasão fiscal. No nível internacional, a Oxfam também está pedindo aos líderes mundiais o esforço necessário para promover um sistema tributário internacional mais justo para todos os países.
Além disso, o Fiare Banca Etica acredita em financiamento inclusivo para trabalhadores que, de outra forma, seriam excluídos e marginalizados pela crise econômica ou por decisões comerciais erradas, que podem ter oportunidades úteis de trabalho cooperativo para criar valor social e ambiental e colocar dignidade no trabalho como central.
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Somente a luta contra as desigualdades pode reanimar a Economia Mundial - Instituto Humanitas Unisinos - IHU