31 Janeiro 2020
“A demanda em enfrentar com rapidez e contundência a crise climática, no momento, é adiada e fica sem resposta, o que cria um ambiente de pânico que se expressa no medo do futuro, alimentado com a realidade vivida por muitas populações em todos os lugares. Isso favorece a ecoansiedade e o único antídoto que encontramos é praticar a esperança ativa, ou seja, a esperança verde que combina ativismo e espiritualidade, com o objetivo de gerar um forte compromisso com a saúde da Terra, para viver em harmonia com a natureza”, escreve Manuel Baquedano, sociólogo e fundador do Instituto de Ecologia Política do Chile, em artigo publicado por El Ciudadano, 28-01-2020. A tradução é do Cepat.
Os dramáticos incêndios florestais ocorridos na Austrália não podem mais ser vistos como uma advertência ou uma ameaça do que poderia nos acontecer com a mudança climática. Pelo contrário, são parte de uma realidade que temos que viver diariamente.
Superar a crise climática se torna, então, algo cotidiano e podemos dizer de que se trata de uma nova normalidade contra a qual não temos alternativa a não ser aceitar e se adaptar. Resulta lógico também pensar que essa adaptação gera nos seres humanos - e também em outras espécies do mundo animal - um tipo de angústia conhecida como “ecoansiedade”.
A ecoansiedade foi definida pela Associação Americana de Psicologia como “um medo crônico da destruição ambiental”. Esse medo se expressa de várias maneiras, mas aparece principalmente como ansiedade pelo impacto que podem ter os desastres causados pela crise climática sobre as pessoas, suas famílias e seus entes próximos.
Primeiro, devemos diferenciar o colapso do planeta do colapso da civilização. Com a crise climática, o que está em jogo não é a vida do planeta que continuará a existir depois de estabelecer um novo equilíbrio, com ou sem presença humana e certamente com menos biodiversidade. O que está em crise é a nossa civilização industrial, que baseou seu crescimento em combustíveis fósseis que produzem CO2, o principal gás do efeito estufa, que gera um aumento na temperatura global da Terra. O fim de uma civilização por razões ambientais é algo que aconteceu muitas vezes ao longo da história, aconteceu em mais de cem ocasiões e o ser humano sempre conseguiu se recuperar.
Uma vez que consideramos essa questão, aparece um segundo aspecto: a necessidade de se preparar para uma adaptação profunda. Essa adaptação deve se concentrar em mudanças no estilo de vida e na imigração para lugares menos vulneráveis à crise climática. As imigrações poderão ser temporárias ou permanentes e teremos que retomar certas formas de vida centradas no nomadismo e no minimalismo, como as sugeridas pelo acadêmico australiano Ted Trainer, em “Vía de la Simplicidad”.
Em Pucón (Chile), neste final de semana, realizamos a primeira oficina sobre ecoansiedade e esperança ativa, a fim de aprender mais sobre essa profunda adaptação. Uma conclusão clara que surgiu na oficina é que a única maneira de enfrentar o colapso é na comunidade e que é necessário lutar por políticas públicas que facilitem a adaptação. Em nosso país, um bom exemplo é o problema da escassez de água, onde a conjunção de um problema social e um problema ambiental nos força a encontrar uma solução justa e democrática que considere ambos os aspectos.
Devemos aproveitar os próximos sete a dez anos, antes que a crise climática esteja fora do alcance dos seres humanos, e usar esse tempo para nos preparar como pessoas e como sociedade. O primeiro gesto desta preparação é dizer às pessoas a verdade sobre o que está por vir, para que a fase aguda da crise não nos surpreenda e que todos saibamos o que enfrentaremos e o que podemos fazer.
Os cientistas da ONU soaram o alarme e relataram que um aumento na temperatura provocado pelo homem que supere 1,5 grau transformará os ecossistemas irreversivelmente e os deixará em um estado incontrolável. Para tentar estabilizar o clima, os cientistas marcaram uma data: o ano de 2030. Atualmente, temos quase 1,3 grau de aumento e tudo indica que a meta da ONU não será alcançada. Esse limite perigoso de temperatura pode ser alcançado em 2027. Em que baseamos essa previsão? No fato de que para alcançar a meta estabelecida pela ONU, é necessário reduzir as emissões de CO2 em 50% ao ano e hoje não há vontade política internacional que assuma esse desafio. O difícil dessa situação é que a elite econômica e política que governa o mundo - e também nosso país - não nos diz a verdade.
A demanda em enfrentar com rapidez e contundência a crise climática, no momento, é adiada e fica sem resposta, o que cria um ambiente de pânico que se expressa no medo do futuro, alimentado com a realidade vivida por muitas populações em todos os lugares. Isso favorece a ecoansiedade e o único antídoto que encontramos é praticar a esperança ativa, ou seja, a esperança verde que combina ativismo e espiritualidade, com o objetivo de gerar um forte compromisso com a saúde da Terra, para viver em harmonia com a natureza.
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Da ecoansiedade à esperança ativa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU