09 Dezembro 2019
"Destacou-se por seu incansável trabalho em defesa das comunidades indígenas, pelos estudos etnológicos e antropológicos, por sua contribuição à educação escolar dos povos indígenas Guarani, especialmente do povo Aché e Enawenenawe", escreve Aloir Pacini, padre jesuíta e professor da Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT.
Bartomeu Melià, padre jesuíta, foi mais uma vez hospitalizado e falece com várias complicações de sua saúde por volta das 4 horas da madrugada desta sexta-feira 06 de dezembro de 2019 em Taita Róga, na cidade de Assunção (Paraguai). Sua saúde piorou após uma queda que causou uma lesão grave no quadril. Ainda no Sínodo da Amazônia, entrei em contato com ele para comunicar a respeito do que estava acontecendo em Roma e falei do plano para fazer o pós-doutorado sob sua orientação para ver como acompanhar melhor os Guarani no Brasil. E a resposta veio pronta: Apressa-te, pois já tenho 87 anos!
Nascido em Porreres, Mallorca (Espanha), em 7 de dezembro de 1932, tornou-se missionário no Paraguai onde foi ordenado Padre em 1954.
Doutorou-se em Linguística pela Universidade de Strasburgo, França e passou a colaborar com León Cadogan, da Universidade Católica "Nuestra Señora da la Assunção". A Universidade de Estrasburgo (França) concedeu a ele também o título de Doutor em Ciências Religiosas, em 1969. Foi morar com os Guarani como pesquisador no Centro de Estudos Paraguaios "Antonio Guasch" e no Instituto de Estudos Humanísticos e Filosóficos. Tornou-se presidente do Centro de Estudos Antropológicos da Universidade Católica, e diretor das revistas Suplemento Antropológico e Estudios Paraguayos, até 1976, quando foi expulso pelo ditador Alfredo Stroessner toma o poder (de 1954 a 1989).
Em 1976, devido ao seu repúdio público ao massacre sistemático de Ache-Guayaki, ele foi forçado ao exílio.
Veio ao Brasil e continuou com os indígenas, com os Kaingang (Miraguaí, RS) e os Enawenenawe (MT), com o Irmão Vicente Cañas. Seus estudos de etnohistória e etnolinguística permitiram que atuasse de forma discernida na educação intercultural bilíngue tanto no Brasil, quanto no Paraguai, Bolívia e Argentina. Distinguido pelo amor aos indígenas recebeu várias condecorações: Prêmio Nacional de Ciência em 2004; em 2005, obteve a nacionalidade honorária do Paraguai, concedida pelo Congresso Nacional e, em 2011, recebeu a cidadania paraguaia; em 2010 recebeu o prêmio Bartolomé de Las Casas pela Embaixada da Espanha em Assunção; a "Ordem Nacional de Mérito", em 2012.
Em 14 de novembro de 2019 recebeu uma distinção do Senado por sua inestimável contribuição à sociedade paraguaia e latino-americana, em defesa dos direitos linguísticos e culturais, à democracia e à justiça. Falece como membro da da Academia Paraguaia de Língua Espanhola, da Real Academia Espanhola de História e da Academia Paraguaia de História. Em dezembro de 2012, recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Católica de Assunção e da Universidade Pontifícia de Comillas (Espanha).
Destacou-se por seu incansável trabalho em defesa das comunidades indígenas, pelos estudos etnológicos e antropológicos, por sua contribuição à educação escolar dos povos indígenas Guarani, especialmente do povo Aché e Enawenenawe. Alguns dos seus livros mostram a profundidade de seu trabalho: El guaraní conquistado y reducido; The mountain of evil of the guaraníes; Pueblos indígenas del Paraguay; Diálogos da Língua Guarani.
Diante da notícia dessa ressurreição, algumas manifestações: “MEUS sentimentos e preces. Foi meu professor! Mais um dos nossos Profetas na casa do PAI!” (Irmã Cleide); “Deixou um grande legado com referencial, para os missionários indigenistas e ativista do Direitos Humanos. [...] Nossa solidariedade aos amigos parente e missionários, e aos Jesuítas que tiveram a alegria de conviver com esse grande missionário.” (Elismar); “Sua contribuição para a educação escolar indígena é inestimável! Grande perda para todos nós! Nhanderu com certeza o receberá de braços abertos!” (Eunice Dias de Paula)
“É com profundo pesar que a SAB informa o falecimento do Prof. Dr. Bartomeu Melià, etnólogo e sacerdote da Companhia de Jesus, ocorrido na cidade de Assunção, Paraguai. O Pe. Melià, como costumamos o chamar, influenciou positivamente a várias gerações de arqueólogas/os dedicadas à Arqueologia Guarani e outros temas, tanto no Brasil como em outros países sul-americanos. Aguyjevete, Pa’i Melià!”. Veja aqui.
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Partiu para a casa do Pai o jesuíta antropólogo e linguista dos Guarani - Instituto Humanitas Unisinos - IHU