30 Agosto 2019
Ansioso por esverdear sua imagem, Emmanuel Macron garante: “mudou” sua visão sobre a ecologia. Entre as promessas do chefe de Estado está a redução da velocidade dos navios com vistas a reduzir suas emissões de gases de efeito estufa. “Vamos agir pela proteção dos oceanos, de maneira muito solene”, assegurou no sábado 24 de agosto, no primeiro dia do G7 em Biarritz. “Pela primeira vez, vamos nos comprometer com as transportadoras marítimas, para que reduzam a velocidade, o que é uma das formas mais eficientes de reduzir as emissões de gases de efeito estufa”.
A reportagem é de Adrien Sénécat, publicada por Le Monde, 27-08-2019. A tradução é de André Langer.
Emmanuel Macron tem razão em exaltar os méritos dessa medida? E, em caso afirmativo, ela tem alguma chance de ter êxito?
O transporte marítimo de mercadorias representa atualmente de 2% a 3% das emissões globais de gases de efeito estufa. Portanto, contribui significativamente menos para o aquecimento global do que os carros particulares e os caminhões. Por outro lado, emite outros tipos de poluentes, incluindo óxidos de nitrogênio e óxidos de enxofre (NOx e SOx), o que pode representar uma poluição considerável em alguns portos.
Outra exceção: o setor arrasta os pés para reduzir suas emissões de CO2, que continuam a crescer ano após ano. Neste ritmo, o transporte marítimo poderá representar 17% das emissões globais de CO2, de acordo com um relatório do Parlamento Europeu publicado em 2015, uma vez que outros setores começaram, ao contrário, a sua mudança.
A Organização Marítima Internacional (OMI) adotou, em abril de 2018, uma estratégia para reduzir as emissões de CO2 do setor em pelo menos 40% até 2030 em comparação com 2008 e em 50% até 2050. Uma maneira de se alinhar, finalmente, com os objetivos dos acordos de Paris de 2015. Mas seu roteiro ainda precisa ser especificado. “As negociações tropeçam na adoção de medidas de curto prazo”, reconheceu o governo francês em maio passado.
Existem diferentes opções para reduzir a pegada de carbono dos navios, tanto pelo desenvolvimento de combustíveis menos poluentes, como pelo incentivo a inovações tecnológicas (captação das fumaças tóxicas, eco-design, etc.). Mas a limitação da velocidade dos barcos tem a vantagem de poder ser implementada rapidamente, sem esperar a renovação das frotas. “Esta é uma das melhores opções para alcançar resultados em três, quatro ou cinco anos”, diz Jasper Faber, especialista em mobilidade e transporte da CE Delft, uma organização independente de pesquisa e consultoria.
A explicação técnica é simples: quanto maior a velocidade de um navio, maior a energia necessária para percorrer uma mesma distância, e isso de maneira exponencial. Assim, um petroleiro que reduz sua velocidade de doze para onze nós reduz seu consumo em 18%, um consumo que até reduz em 30% se cair para dez nós, segundo dados do Ministério da Transição Ecológica e Solidária.
No entanto, a equação é um pouco mais complexa do que isso. O tipo de embarcação e sua motorização também são levados em consideração, assim como o fato de que uma diminuição na velocidade implicará na colocação de mais navios em circulação para transportar o mesmo volume de mercadorias em tempo equivalente.
Mas, de acordo com especialistas, mesmo considerando todos estes fatores, o resultado seria tangível. Uma queda de 10% na velocidade reduziria as emissões de gases de efeito estufa do setor em cerca de 13% até 2030, de acordo com um relatório da CE Delft publicado em 2017. A economia poderia até subir para 33% para uma redução de 30% na velocidade, segundo a mesma fonte, ao incorporar no cálculo o aumento do número de navios em circulação.
A medida também seria benéfica para os ecossistemas marinhos. Por exemplo, uma redução de 10% na velocidade do frete reduziria o ruído do transporte em até 40% e poderia reduzir o risco de colisão com as baleias, de acordo com um estudo publicado no Frontiers in Marine Science em 16 de agosto passado.
A ideia de reduzir a velocidade dos navios está na mesa há anos, mas as tropas dos apoiadores se expandiram nos últimos meses. Vários países, incluindo a França e a Grécia, pediram à Organização Marítima Internacional (OMI), em abril de 2019, que estabelecesse um regulamento nesta área, apoiados publicamente por ONG e armadores.
Mas a proposta suscita reservas de algumas indústrias e de alguns Estados, especialmente os exportadores de produtos perecíveis, que temem por sua competitividade econômica. É por isso que as negociações sobre o assunto na OMI malograram novamente na primavera, adiando um possível acordo para novembro de 2019.
“Há contra-argumentos válidos contra essa medida”, admite Jasper Faber, da CE Delft. Especialmente o fato de que, com uma limitação de velocidade, a poluição é apenas indiretamente visada, e que tal quadro poderia restringir a inovação. No entanto, existem soluções para evitar essas armadilhas, garante o especialista. Por exemplo, adicionando alguma flexibilidade à regulamentação, que poderia prever que um navio que emite um baixo nível de gás de efeito estufa (graças à utilização de combustíveis “limpos”) possa se beneficiar de limites de velocidade mais altos.
De qualquer forma, a maioria dos especialistas do setor acredita que apenas um quadro regulatório obrigatório, se possível internacional, realmente alcançará resultados. Um resultado longe de ser alcançado por enquanto, em um contexto em que a tomada de decisão na OMI é feita com base no consenso.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Transporte marítimo: navegando mais devagar para poluir menos, uma pista eficiente mas longe de ser colocada em prática - Instituto Humanitas Unisinos - IHU