25 Março 2019
A Amazônia é uma região que gera muita esperança, mas ao mesmo tempo apresenta grandes desafios. Muitos desses problemas estão presentes em muitos cantos da região e podemos dizer que eles aumentam nas fronteiras. A Igreja Católica está presente em muitas destas situações, superando as fronteiras com um trabalho comum, tentando colocar em prática aquilo que o Papa Francisco disse em um dos discursos em Puerto Maldonado, "onde há mãe, família e comunidade, pode não desaparecer os problemas, mas com certeza vai se encontrar a força para enfrentá-los de uma maneira diferente ".
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
Esta atitude comunitária está cada vez mais presente na Amazônia, sendo a REPAM - Rede Eclesial Pan-eclesial, um instrumento que ajudou a conscientizar a respeito. Isso se concretiza em ações específicas, como o trabalho trans-fronteiriço, onde vão se dando passos que ajudam a estar cientes e enfrentar o que dá nome ao que o próprio Francisco disse aos povos indígenas em Puerto Maldonado, "provavelmente os povos amazônicos originários nunca foram tão ameaçados em seus territórios como são agora".
(Fotos: Luis Miguel Modino)
As Igrejas do Vicariato de Pando, na Bolívia, o Vicariato de Puerto Maldonado, no Peru, e da Diocese de Rio Branco, Brasil, reuniram-se em 20 e 21 de março, em uma tentativa de avançar nessa direção. Na verdade, esta é uma história que começou em 2005, quando essas três igrejas se encontraram pela primeira vez. O encontro mostrou que a pressão dos interesses econômicos está aumentando, o que nessa tríplice fronteira se concretiza na exploração madeireira e minera, tanto legal quanto ilegal.
De fato, nos países da Pan-Amazônia, os governos, independentemente de serem de esquerda ou de direita, têm colocado o interesse econômico acima da defesa do território, dos povos e do meio ambiente, incentivando, ou pelo menos olhando para o outro lado, diante deste tipo de atividades. Isso causa consequências negativas para a vida dos povos, como reconhecem os povos indígenas presentes, pois tem os efeitos imediatos da falta de caça e pesca, o que dificulta a vida cotidiana.
Isso causou grandes mudanças sociais no Vicariato de Puerto Maldonado, onde a chegada de migrantes de outras regiões do Peru é algo antigo, mas nos últimos anos, motivado pela febre do ouro, do gás e da madeira, é algo que aumentou exponencialmente. Isso teve um impacto ambiental e social, causando rupturas familiares, divisão entre comunidades, enfraquecimento do movimento indígena, tráfico de pessoas, entre outros problemas.
É um lugar de dinheiro fácil, rápido e abundante, que não se traduz em bem-estar social, melhor saúde e educação, como reconhecido pelo Dom David Martinez de Aguirre Guinea, Bispo do Vicariato presente na reunião. O bispo assinalou que só em 2018, no Vicariato, foram desmatados onze mil hectares e que recentemente o governo peruano expulsou trinta e cinco mil pessoas relacionadas à mineração ilegal em uma região conhecida como La Pampa.
São problemas que são reproduzidos no lado boliviano e brasileiro. Na Bolívia, o próprio governo não respeita os parques nacionais, em busca de gás e madeira. No Brasil, a pressão do agronegócio sobre povos indígenas e tradicionais é uma constante no estado do Acre, situação que se repete em muitos lugares da Amazônia.
Alguns passos concretos foram dados, como o trabalho de atenção e apoio aos migrantes, a produção agroecológica, o cuidado das florestas. Isso mostra que, em uma região onde as pessoas vivem juntas, mesmo se eles estão em ambos os lados da fronteira, se a Igreja quer servir essas pessoas têm de caminhar juntos, superando as fronteiras nacionais e eclesiásticas, porque tudo está interligado.
Este é um sentimento que tem sido favorecido pelo Sínodo para a Amazônia, que gerou um novo processo tanto dentro da região quanto em escala global. A este respeito, o Sínodo é "tempo para amazonizar o coração romano da Igreja", segundo o jesuíta Fernando López, membro da Equipe Itinerante, acrescentando que é "tempo para a Igreja e para o mundo descobrir que a Amazônia é outra coisa", de aumentar a consciência, de mudar os paradigmas globais.
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"O Sínodo é um momento para amazonizar o coração romano da Igreja", afirma Fernando López - Instituto Humanitas Unisinos - IHU