08 Janeiro 2019
Encerrada a fase diocesana da causa de beatificação do prelado chamado "o bispinho" devido à sua estatura, mas que deixou uma marca pastoral profunda em seu país. Fala o postulador.
A reportagem é de Lucia Capuzzi, publicada por Avvenire, 05-01-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
O arcebispo brasileiro Hélder Câmara (1909-1999)
"Quem, pobre ou rico, estiver desesperado, terá um lugar especial no coração do bispo. Mas eu não venho para ajudar ninguém a se enganar, a acreditar que seja suficiente um pouco de generosidade e assistência social. Há misérias que gritam, diante das quais não temos o direito de permanecer indiferentes".
A distância de 55 anos - no dia de sua entrada na diocese de Olinda e Recife, em 11 abril de 1964 -, as palavras proferidas de Dom Hélder Câmara sacodem as consciências contemporâneas com a mesma força de então. Agora, como meio século atrás, "dom Hélder" nos pede para não esquecermos os pobres, os indefesos, os marginalizados. Nós, cristãos, devemos lutar pelos direitos daqueles que não têm voz, pelos oprimidos e pelos sofredores. Devemos comprometer-nos para que seja praticada a paz e a justiça", explica frei Jociel Gomes, capuchinho e profundo conhecedor do pensamento do Bispo de Olinda e Recife, nascido em 1909 e que morreu exatamente 90 anos mais tarde.
Por isso, foi nomeado postulador da causa de beatificação em curso, cuja fase diocesana terminou em 19 de dezembro. Nestes dias, a documentação - o resultado de três anos de estudo intensivo, entre a escuta das testemunhas, relatos históricos dos especialistas e análise teológica dos escritos - chega a Roma, onde vai passar ao exame da Congregação para as Causas dos Santos. "Não sabemos quanto tempo durará o processo - acrescenta o padre -. De nossa parte, nos comprometeremos a seguir escrupulosamente e prontamente as indicações da Congregação para encurtar os tempos. Estamos ansiosos para que o testemunho da vida e santidade do Monsenhor Hélder seja proclamado ao mundo ".
Uma santidade ainda incômoda, como a de Óscar Romero. "Ambos tiveram uma profunda intimidade com Deus e ambos foram pioneiros naquilo que hoje o Papa Francisco prega com tanta veemência: um Igreja em saída, capaz de chegar às periferias geográficas e existenciais", afirma frei Jociel. " Quando teu navio, ancorado muito tempo no porto, te deixa a impressão enganosa de ser uma casa. Quando teu navio começar a criar raízes na estagnação do cais, faze-te ao largo. É preciso salvar a qualquer preço a alma viajora de teu barco e tua alma de peregrino", dizia um famoso poema de Dom Hélder. É uma feliz coincidência, portanto, que sua causa chegue ao Vaticano poucos meses depois da proclamação de São Romero. E de São Paulo VI, com quem Câmara - assim como o mártir salvadorenho - cultivou uma preciosa amizade espiritual.
Além de compartilhar incompreensões e críticas pela fidelidade ao Concílio, do qual ambos haviam participado e do qual permaneceram profundamente marcados. Foi precisamente o Papa Montini que apoiou o bispinho - como era chamado por causa da estatura modesta - durante os anos difíceis da ditadura militar (1964-1985). Os generais, de quem Câmara denunciava com coragem profética os abusos, tentaram desacreditá-lo de todas as formas. O "bispo vermelho", zombavam dele por causa de seu compromisso evangélico em defesa dos direitos humanos e dos pobres que, ainda hoje, lotam a Igreja das Fronteiras de Olinda, que abriga seu túmulo após a morte, aos noventa anos, em 1999. Mas Paulo VI não dava crédito a falsas acusações. "Estava com saudade de encontrá-lo, vê-lo novamente", disse ele no último encontro, em 15 de junho de 1978. "Irmão dos pobres e meu irmão", cumprimentou-o oito anos depois, durante a viagem ao Brasil, João Paulo II. Uma prova do que amava repetir o bispinho: "a perseguição é muito normal na vida cristã", mas "Deus está conosco".
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Hélder Câmara, o 'bispinho' rumo aos altares - Instituto Humanitas Unisinos - IHU