06 Dezembro 2018
“É um risco dos líderes se apegar muito às pessoas e não tomar distância”, disse o Papa Francisco, dando início a um novo ciclo de catequese dedicado ao “Pai Nosso”, durante a Audiência Geral. Nela destacou que, apesar de ser aclamado pelas multidões, Jesus, ao contrário, não estava interessado no “êxito plebiscitário”, razão pela qual “rezava com intensidade nos momentos públicos, compartilhando a liturgia de seu povo”, mas também “buscava lugares recolhidos, separados do barulho do mundo, lugares que permitissem entrar no segredo de sua alma”, em uma “intimidade com o Pai”. Portanto, desta maneira, tornou-se “mestre da oração de seus discípulos, como seguramente deseja ser para todos nós”.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por Vatican Insider, 05-12-2018. A tradução é do Cepat.
Apesar da urgência de sua missão e da insistência “de tanta gente que o reivindica, Jesus sente a necessidade de se afastar na solidão e de rezar”, disse Jorge Mario Bergoglio, na Sala Paulo VI. Após ter concluído nas últimas semanas os Dez Mandamentos, o Pontífice, introduzindo seu novo ciclo de catequese, recordou que o Evangelho de Marcos narra que a entrada de Jesus em Cafarnaum “terminou de maneira triunfal”: o Messias “prega e cura” e se “cumprem as antigas profecias e as expectativas de tanta gente que sofre”, que compõe uma multidão “ainda pequena, em comparação com as tantas outras multidões que se reunirão ao redor do profeta de Nazaré. Em certos momentos, são assembleias oceânicas, e Jesus está no centro de tudo, sendo o aguardado pelas pessoas, o resultado da esperança de Israel”.
No entanto, esclareceu o Papa, ele se desvincula; não acaba se tornando “refém” das expectativas dos que o elegeram como líder. Desde a primeira noite em Cafarnaum, demonstra que é um Messias original. É um risco dos líderes – destacou Francisco – se apegar muito às pessoas e não tomar distância. Na última parte da noite, quando o alvorecer já se anuncia, os discípulos ainda o procuram, mas não conseguem encontrá-lo. Até que finalmente Pedro o encontra em um lugar isolado, completamente absorto na oração. Diz-lhe: “Todos te buscam!”. A exclamação – notou o Papa – parece ser a declaração de um êxito plebiscitário, a prova do bom êxito de uma missão. Contudo, Jesus diz aos seus que precisa ir para outra parte”, que “não deve fincar raízes, mas permanecer constantemente peregrino pelas ruas da Galileia e também peregrino em relação ao Pai, isto é, rezando. Em caminho de oração. Jesus reza”.
Com efeito, mais adiante em sua catequese, Francisco observou que em algumas páginas da Escritura “parece que é antes de mais nada a oração de Jesus, sua intimidade com o Pai, a que governa tudo”: “Para ele, a oração era entrar na intimidade com o Pai, que o sustentava em sua missão, como aconteceu no Getsêmani, onde recebeu a força para empreender o caminho da cruz. Toda a sua vida foi marcada pela oração, tanto privada como a litúrgica de seu povo. Essa atitude se vê também em suas últimas palavras na cruz, que eram frases tomadas dos salmos”.
Os discípulos, acrescentou Francisco, “viam Jesus rezar e tinham vontade de aprender como se fazia isto”: “Jesus rezava como qualquer homem, mas seu modo de fazer isso estava intrincado no mistério. Isto impactou seus discípulos e por isso lhe pediram: ‘Senhor, ensina-nos a rezar’. Jesus se tornou, assim, mestre da oração para eles, como também deseja ser para nós”.
O Papa recordou que também as últimas palavras de Jesus, antes de expirar na cruz, foram palavras dos salmos, da oração dos judeus, e afirmou com entusiasmo: “Jesus rezava com as orações que a mãe havia lhe ensinado”.
Colocando como exemplo a Parábola do publicano e o fariseu, o Santo Padre advertiu sobre as orações “inoportunas”, que não são recebidas por Deus. E recordou as palavras do Mestre: “porque todo aquele que se exalta será humilhado e o que se humilha será exaltado”. Deste modo, destacou que “o primeiro passo para rezar é sermos humildes”, porque “a oração humilde é escutada pelo Senhor”. E concluiu exortando: “a coisa mais bela e mais justa que todos podemos fazer é repetir a invocação dos discípulos: ‘Mestre, ensina-nos a rezar!’. Será belo, neste tempo de Advento, repetir: ‘Senhor, ensina-me a rezar’”.
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“Jesus não era como os líderes que se tornam reféns de grupos”, constata Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU