20 Outubro 2018
Há uma pobreza “clássica”, a de afastar-se das riquezas e do desapego, com as mãos e o coração, do dinheiro.
Depois há outro tipo de pobreza que é a de “receber humildemente as perseguições”, tolerar as calúnias, os pequenos ataques no bairro ou nas paróquias, ou então os grandes escândalos públicos, a violência e o martírio por causa do Evangelho.
E há também outro tipo de pobreza, que é a solidão e o abandono, que são experimentados no final da vida.
O Senhor chama todas estas pobrezas e estas três pobrezas marcam o caminho do discípulo, de acordo com o Papa Francisco, que as explicou durante a homilia da missa da manhã de hoje, 18 de outubro, na capela da Casa Santa Marta.
A entrevista é de Salvatore Cernuzio, publicada por Vatican Insider, 18-10-2018. A tradução é de André Langer.
O Pontífice refletiu, segundo Vatican News, sobre o Evangelho de Lucas que se refere ao envio dos 72 discípulos sem “bolsa nem alforje nem sandálias”, em absoluta pobreza, porque Deus quer que o caminho do discípulo seja pobre. O discípulo apegado ao dinheiro ou à riqueza não é um verdadeiro discípulo, disse Francisco. Ter “um coração pobre” é “a condição para começar o caminho do discipulado”.
E, “se no trabalho apostólico são necessárias estruturas ou organizações que pareçam um sinal de riqueza, que sejam bem usadas, mas com a atitude de desapego”, advertiu Bergoglio. “Se quer seguir o Senhor, escolha o caminho da pobreza e se tiver riquezas, porque o Senhor lhas deu, que sejam para servir os outros, mas com o coração desapegado. O discípulo não deve ter medo da pobreza, ou melhor: deve ser pobre”.
Muito mais difícil é aceitar a segunda forma de pobreza, que são as perseguições. Na passagem do Evangelho de hoje, o Senhor envia os discípulos “como cordeiros no meio de lobos”. Lobos, hoje, há muitos, mas também cordeiros, ou seja, todos os cristãos perseguidos no mundo por sua fé. Francisco deu um exemplo recordando a intervenção na aula sinodal de “um bispo de um desses países onde há perseguição”, que contou a história de “um menino católico capturado por um grupo de rapazes que odiavam a Igreja, fundamentalistas; foi espancado e depois jogado em uma cisterna, lançando lama até que chegou ao seu pescoço: ‘Diga pela última vez: você renuncia a Jesus Cristo?’ – ‘Não!’ Jogaram uma pedra e o mataram. Todos nós ouvimos isso. E isso não é dos primeiros séculos: isso aconteceu há dois meses! É um exemplo. Mas quantos cristãos hoje sofrem perseguição física: ‘Oh, este blasfemou! Para a forca!’”.
São violências que parecem estar distantes anos-luz dos países mais ocidentalizados e desenvolvidos, mas, pelo contrário, observou Bergoglio, estão presentes de outras formas. Ou seja, são todas as calúnias, as acusações, os ataques que o cristão suporta “calado”. Ele tolera “essa pobreza” e, “às vezes, é preciso defender-se para não causar escândalo”. “As pequenas perseguições no bairro, na paróquia... pequenas, mas são as provações: as provações da pobreza”, disse Francisco. “É o segundo modo de pobreza que o Senhor nos pede”.
O terceiro modo de pobreza é o da solidão e do abandono, que até o “grande Paulo” sofreu, o apóstolo que “não tinha medo de nada” e que em sua primeira defesa no tribunal disse que ninguém o ajudou: “todos me abandonaram”, exceto o Senhor, “que lhe deu força”. “O mesmo pode acontecer, por exemplo, com uma moça ou um rapaz de 17 ou 20 anos, que com entusiasmo deixa as riquezas para seguir Jesus; depois, “com fortaleza e fidelidade” tolera “calúnias, perseguições cotidianas, ciúmes”, pequenas e grandes perseguições, e no final o Senhor pode lhe pedir também a “solidão”.
“Penso no maior homem da humanidade – explicou o Pontífice –, e esta qualificação vem da boca de Jesus: João Batista; o maior homem nascido de mulher. Grande pregador: as pessoas iam a ele para serem batizadas. Como foi o seu fim? Sozinho, na prisão. Pensem no que é um cárcere e como poderiam ser as prisões daquele tempo, porque se as de hoje são assim, pensem naquelas... Sozinho, esquecido, degolado pela fraqueza de um rei, pelo ódio de uma adúltera e pelo capricho de uma garota: assim, terminou o maior homem da história. Sem ir muito longe, muitas vezes nas casas para idosos onde vivem sacerdotes e religiosas que dedicaram suas vidas à pregação, eles se sentem sozinhos, sós com o Senhor: ninguém se lembra deles”.
“O discípulo, portanto, é pobre – resumiu o Papa –, no sentido de que não está apegado às riquezas, e este é o primeiro passo. Depois é pobre porque é paciente diante das pequenas ou das grandes perseguições e, terceiro passo, ele é pobre porque entra nesse estado de espírito de sentir-se abandonado no final da sua vida”.
Rezemos, pois, convidou o Sumo Pontífice, por todos os discípulos, “sacerdotes, freiras, bispos, papas e leigos”, para que “saibam percorrer o caminho da pobreza como o Senhor quer”.
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“Calado nas perseguições, sozinho no fim da vida: o cristão também aceita essas pobrezas” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU