10 Setembro 2018
A menos de um mês do Sínodo convocado pelo Papa Francisco sobre os jovens, padre Giacomo Costa, secretário especial, faz um balanço do evento. "Reconhecer aonde e como os jovens são", o imperativo. "Nem com Jesus, nem com a Igreja", o risco a ser esconjurado para um evento cuja dimensão "envolve toda a Igreja".
"Um evento que envolve toda a Igreja", e que pede aos adultos um suplemento de escuta para "reconhecer onde e como os jovens são". Menos de um mês antes do Sínodo sobre os jovens, que será aberto em 3 de outubro no Vaticano, fizemos um balanço com o padre Giacomo Costa, secretário especial nomeado pelo Papa, juntamente com o padre Rossano Sala.
A entrevista é de M. Michela Nicolais, publicada por Servizio Informazione Religiosa - SIR, 07-09-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Existe muita expectativa para o terceiro Sínodo do Papa Francisco: qual é o valor do que está em jogo?
Certamente há muita expectativa entre aqueles que, dentro da Igreja, trabalham com os jovens. E mesmo entre estes últimos há certamente interesse e curiosidade, como demonstram os vários eventos promovidos durante o processo preparatório. No entanto, seria ingênuo não salientar que, no nível midiático, da opinião pública e talvez mesmo em amplos setores da própria Igreja, este Sínodo corre o risco de ser substancialmente ignorado, ao contrário do que aconteceu com os dois sobre a família.
Seria uma oportunidade perdida, porque as apostas são realmente altas: de fato, esse encontro exige abordar a questão das relações entre as gerações, repensando o presente de uma maneira que deixe espaço para o futuro. É um tema fundamental para toda a nossa sociedade. Para a Igreja, então, é vital para compreender como continuar a incidir sobre a realidade: não só e não tanto para garantir o próprio futuro como instituição, mas porque está em jogo a transmissão da mensagem evangélica, que representa a sua razão de ser.
Entre as novidades, o Sínodo sobre os jovens inclui uma referente ao método: são os próprios jovens que, juntamente com os bispos, participam e foram explicitamente chamados pelo Papa para falar sobre si mesmos com "parresia" ...
Até agora esta foi uma das melhores surpresas em minha experiência como secretário especial. Nos questionários preenchidos on-line, mas especialmente na reunião pré-sinodal, em março último, os jovens – respondendo ao convite do Papa Francisco – sentiram-se muito livres para expressar suas aspirações e dizer o que pensam da Igreja, colocando sobre a mesa uma série de problemas ligados com a comunicação, a linguagem, a credibilidade e a inclusão das diferenças. Da mesma forma, muitas Conferências Episcopais admitiram corajosamente suas dificuldades e resistência em seu relacionamento com os jovens. Essa dinâmica tornou a preparação para o Sínodo um processo de real encontro e escuta entre gerações. Em suma, podemos dizer que, de acordo com as indicações do Papa Francisco, o Sínodo está se transformado de evento em processo.
Se o Sínodo oficialmente permanecer "dos bispos", precisamente por causa de seu papel como pastores, não pode senão tornar-se um evento que envolve toda a Igreja. Naturalmente trata-se uma evolução que ainda não foi concluída e que continuará mesmo depois de outubro. Em certo sentido, o pós-Sínodo será importante, pelo menos tanto quanto o Sínodo, e serão várias as comunidades eclesiais que terão que escolher como agir, em linha com a exortação pós-sinodal do Papa Francisco.
Jovens com Jesus, mas sem a Igreja: é um dos paradoxos denunciados pelo Documento preparatório; como superar essa "lacuna"?
Na realidade, a situação verificada durante o percurso de preparação, especialmente com o questionário on-line, é ainda mais radical ... Até mesmo Jesus às vezes é percebido como distante pelos jovens, quase um super-herói, mas que tem pouco a ver com a vida comum. Corremos o risco, portanto, de que os jovens acabem "nem com Jesus, nem com a Igreja" ...
Mas não é um distanciamento irreversível: muitos jovens continuam a ser portadores de perguntas e sensibilidades autenticamente espirituais, e há muitos que buscam uma Igreja autêntica e relacional, que seja próxima e permita vislumbrar através de seus gestos concretos a esperança do Jesus ressuscitado. A questão então investe a capacidade da Igreja e dos seus representantes de se apresentarem como interlocutores confiáveis dos jovens. Muitos adultos continuam a fazer referência, de forma mais ou menos irrefletida, a vínculos e situações em que cresceram, onde a adesão era dada como certa ou recebida de cima e, em qualquer caso, era ponto de partida. Hoje, o sentimento de pertencimento é um ponto de chegada que deve ser construído e descoberto individualmente através de uma jornada de aprendizado a partir da experiência e não pode prescindir de relações interpessoais autênticas. Nesse sentido, o "discernimento" - isto é, a releitura do que foi vivido e do que está sendo vivenciado para identificar, em diálogo com o Senhor, os próximos passos a serem dados - pode ser de ajuda.
O desafio do Sínodo é descobrir dentro da tradição espiritual e teológica da Igreja aquelas riquezas que lhe permitiriam sintonizar-se até mesmo com a mentalidade desta época, para que possa continuar a mostrar a relevância e a vitalidade da mensagem do Evangelho para cada geração.
Quais são as resistências que a "igreja adulta" deve superar para atender suas expectativas?
Além das dificuldades - imagináveis - de deixar efetivamente um espaço para os jovens e valorizar as forças e os entusiasmos que os caracterizam, eu acho que o principal desafio para a Igreja hoje seria o de reconhecer aonde e como os jovens são, já agora aqui, à nossa frente e à nossa espera, e que nos mostram os sinais do Senhor ressuscitado. Sempre nos perguntamos como a Igreja pode ajudar os jovens, quantas vezes nos perguntamos como os jovens podem ajudar a Igreja? Refiro-me, por exemplo, à presença no novo "continente digital".
Para entender essa "conversão" é fundamental entrar na perspectiva dos jovens que, na maneira de agir, significa, por exemplo - agradando ou não a nós adultos - uma prioridade da concretude e da ação em relação às análises e às discussões. Em vez de convidar os jovens para grandes encontros, reuniões e catequeses, é, portanto, mais oportuno "fazer" coisas concretamente com eles. Finalmente, como os próprios jovens repetidamente pedem, é preciso ter a coragem de nunca recusar o confronto e o diálogo: para os jovens o pluralismo, mesmo radical, das diferenças, representa um dado de realidade com o qual se confrontam diariamente.
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Sínodo. Padre Costa: ‘Reconhecer aonde e como os jovens são’ - Instituto Humanitas Unisinos - IHU