A Igreja Católica denunciou, hoje, uma nova agressão contra a Nicarágua, após um grupo de desconhecidos ter incendiado a sede da Cáritas, em meio a uma crise que deixou mais de 351 mortos, em protestos contra o presidente Daniel Ortega.
A reportagem é publicada por Religión Digital, 17-07-2018. A tradução é do Cepat.
“Incêndio registrado tarde da noite nos escritórios da Cáritas, no município de Sébaco (norte). Rechaçamos este e outros fatos que durante as últimas semanas prejudicaram o povo nicaraguense e a igreja”, informou a Diocese de Matagalpa em suas redes sociais.
A Igreja Católica e seus mais altos representantes, que participam no diálogo nacional entre o Governo e a sociedade civil para buscar uma saída para a crise, sofreu diversos tipos de agressões por parte de grupos situacionistas, desde a deflagração social de abril passado.
O ataque mais recente foi ontem contra o veículo em que viajava o bispo de Estelí (norte), o nicaraguense Abelardo Mata, por um grupo de parapoliciais que se mantinham postados na estrada que conduz de Manágua a Masaya, denunciou um magistrado de um Tribunal de Apelações.
O mais comentado ocorreu na Paróquia da Divina Misericórdia, ao sul de Manágua, que durante 13 horas, neste final de semana, foi atacada com armas de guerra pelas “forças combinadas” do Governo, por servir de abrigo a estudantes universitários que fugiam das balas e que acabou em duas mortes.
“Recordamos que tais atos não contribuem para a paz e unicamente prejudicam e aumentam o estado de crise em que vive o país. Além disso, a Igreja sempre, apesar dos obstáculos, destacamentos e ameaças, continuará acompanhando o povo”, reiterou a Diocese de Matagalpa.
No último dia 9 de junho, forças situacionistas e parapoliciais, encapuzadas e fortemente armadas, invadiram a basílica de Diriamba para agredir o núncio Stanislaw Waldemar Sommertag, o cardeal Leopoldo Brenes, o bispo auxiliar de Manágua, Silvio Báez, e outros dois sacerdotes, enquanto resgatavam os paramédicos das ameaças desse grupo.
A sede da Cáritas, localizada a 101 km ao norte de Manágua, foi incendiada por homens em motocicletas e encapuzados, segundo as testemunhas.
O clero nicaraguense tem sofrido todo o tipo de ofensas através das redes sociais por pessoas que defendem Ortega, e que consideram que os sacerdotes estão contra o seu Governo.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) responsabilizou o Governo da Nicarágua por “assassinatos, execuções extrajudiciais, maus-tratos, possíveis atos de tortura e detenções arbitrárias cometidas contra a população majoritariamente jovem do país”.
As denúncias da CIDH são apoiadas pelo Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos e pela maioria do Congresso Permanente da Organização de Estados Americanos (OEA), mas o Governo nicaraguense nega. A Nicarágua atravessa uma crise sociopolítica, a mais sangrenta desde os anos 1980, com Ortega também como presidente.
Os protestos contra Ortega e sua esposa, a vice-presidente Rosario Murillo, começaram no dia 18 de abril passado, por algumas falidas reformas da seguridade social e se tornaram uma exigência de renúncia do mandatário, após onze anos no poder, com acusações de abuso e corrupção.