11 Janeiro 2018
Ao contrário da crença popular, muitos jovens católicos buscam desesperadamente oportunidades para aprofundar sua fé.
A reportagem é de Megan Cornwell, publicada no sítio da revista The Tablet, 09-01-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
As respostas dos jovens católicos da África Oriental e da América ao questionário publicado em vista do Sínodo sobre os jovens dão uma fascinante visão sobre as preocupações e as esperanças das jovens gerações de cristãos.
Um problema que foi levantado em ambos os contextos é o desejo de grupos de estudo da Bíblia nas paróquias, algo que os jovens adultos desses dois continentes radicalmente diferentes dizem que inexiste atualmente.
Para os jovens que vivem na África Oriental, o estudo bíblico é visto como uma ferramenta vital para prepará-los para debates apologéticos com outros cristãos pentecostais. Para os jovens da América do Norte, a pesquisa constatou que os jovens têm fome de oportunidades para compartilhar a fé conectadas com a sua vida cotidiana.
Isso significa que, contrariamente à crença popular de que os jovens estão desinteressados pelas em questões de espiritualidade, muitos, de fato, estão desesperados por oportunidades de encontro e amizade com outros membros do corpo de Cristo para aprofundar a sua compreensão da fé.
Vale ressaltar que muitos dos que responderam ao questionário são católicos comprometidos, que, por natureza, têm um certo nível de interesse pela religião que não seria encontrado na população em geral. Mas, com o aumento da popularidade da meditação, do mindfulness e da ioga, uma conexão com um poder superior é algo que a maioria dos jovens procuram, mas eles simplesmente estão procurando respostas fora da Igreja.
Com poucas paróquias católicas que organizam regularmente grupos de estudo bíblicos para jovens em nível local, estaríamos perdendo uma oportunidade? Os nossos amigos evangélicos no Reino Unido parecem estar à frente nesse jogo, já que muitas Igrejas carismáticas e pentecostais organizam semanalmente “pequenos grupos” que se reúnem nas casas das pessoas para discutir as homilias dominicais e para rezar uns pelos outros. Grupos pequenos, grupos em casa, grupos conectados, grupos via celular – eles têm muitos nomes – são uma maneira pela qual os membros de uma Igreja específica se conectam fora da celebração dominical e se reforçam mutuamente na fé, afinal “o ferro se afia com o ferro” (Provérbios 27, 17). Esses grupos garantem que novos membros da congregação não se sintam “perdidos” em uma grande Igreja, mas, ao contrário, são acolhidos na comunidade e apoiados.
Os benefícios de adotar essa abordagem na Igreja Católica são óbvios: os jovens seriam livres para desenvolver a sua fé fazendo perguntas sobre as Escrituras em um ambiente amigável. Eles seriam encorajados a construir relações duradouras com amigos cristãos que poderiam prover orientação espiritual e apoiá-los nos momentos mais desafiadores da vida. Isso pode até produzir oportunidades indispensáveis para se encontrar um cônjuge com as mesmas opções de vida.
Mas, se as dioceses ainda têm que inserir no DNA das suas paróquias essa nova maneira de organizar as comunidades, primeiro é necessária uma mudança cultural sísmica no sentido de um empoderamento dos leigos. O clero deveria investir na formação de lideranças dentro de suas paróquias que possam organizar pequenos grupos de estudo da Bíblia e, depois, agir como seu ponto de contato, caso surjam problemas ou questões difíceis que eles não se sentem capazes de responder.
Parece que, se os católicos querem aceitar o desafio do Papa Francisco de serem, em primeiro lugar, uma “Igreja em escuta” e, depois, uma “Igreja que ensina”, um bom começo seria encorajar a formação de pequenos grupos de estudo bíblico para jovens. Assim como os Cursos Alpha da tradição anglicana foram tão bem-sucedidos na criação de um espaço seguro em que os não cristãos e os agnósticos podem fazer perguntas sobre a fé, assim também os grupos de estudo da Bíblia favoreceriam um ambiente para que os católicos comprometidos possam abordar questões que lhes são pertinentes.
O questionário revelou que uma das principais preocupações dos jovens adultos envolve, talvez previsivelmente, questões relacionadas com os relacionamentos, o sexo e o namoro. Se a Igreja não oferecer espaços em que essas discussões possam ocorrer, em que a orientação e a sabedoria dos casais católicos possam ser ouvidas, os jovens simplesmente vão procurar por respostas em outro lugar, muitas vezes em detrimento deles mesmos.
Uma extensa pesquisa das atitudes dos jovens católicos dá à Igreja uma oportunidade única de ouvir um grupo demográfico tão frequentemente silenciado nos círculos religiosos. Não podemos deixar de pensar que o fracasso em abordar algumas das suas principais preocupações acelerará o processo de envelhecimento da Igreja, deixando os bancos das igrejas ainda mais cheios de cabelos grisalhos do que já estão.
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O que querem os jovens católicos? As respostas podem surpreender - Instituto Humanitas Unisinos - IHU