17 Agosto 2014
“Jovens católicos, em ambos os países (Brasil e EUA), constroem a identidade católica levando em conta um conjunto de referências, sejam elas familiares, grupais ou virtuais. Os ambientes os quais frequentam e com os quais interagem contribuem fortemente na constituição dessa identidade”, diz a socióloga.
Foto: bomjesusdospassos.com |
Entre os fenômenos recentes relacionados à juventude e à religião, evidencia-se, nos EUA, uma desfiliação religiosa dos jovens em relação ao catolicismo. Segundo pesquisas, “48% dos ex-católicos que hoje se consideram não afiliados ou ‘unaffiliated’ deixaram o catolicismo antes de completarem 18 anos”, informa Sílvia Fernandes em entrevista concedida à IHU On-Line, por e-mail. Para ela, os dados demonstram que “de modo semelhante ao Brasil, há um processo de desfiliação religiosa também naquele país”.
Apesar da queda do número de jovens fiéis católicos, a socióloga menciona que no contexto norte-americano “parece haver menor preocupação com a perda de jovens no catolicismo e mais problematização sobre o crescimento do número de jovens ‘Spirituals, but no religious’, tendência que no Brasil poderia ser apontada como os jovens sem religião”. As diferenças, menciona, ocorrem porque “enquanto no Brasil a Igreja Católica está concentrando esforços para não perder fiéis, sobretudo entre os mais jovens, nos Estados Unidos, a literatura produzida por intelectuais orgânicos está preocupada com o chamado indiferentismo religioso”.
Pesquisas recentes, como a desenvolvida por Sílvia Fernandes, ao compreenderem as mudanças em curso no que se refere à religiosidade da juventude, analisam, por outro lado, o perfil dos jovens católicos. No caso brasileiro, esclarece, essa identidade “se constitui por dois pilares básicos:
1. A espiritualidade alimentada fortemente por elementos tradicionais do catolicismo, como o terço e a adoração eucarística;
2. A valorização da música, principalmente em seu estilo gospel, privilegiando-se canções com letras de baixo teor litúrgico”.
Já no que diz respeito aos jovens católicos norte-americanos, pontua, “há uma intensa prática sacramental e forte concordância e conhecimento sobre a doutrina moral da Igreja. Desse modo, eles tendem a realizar confissões diárias e a atuar em grupos como o Pro-life, posicionando-se radicalmente contra o aborto e discursos mais liberais que defendam práticas consideradas feministas: sexo antes do casamento e homossexualismo”.
E acrescenta: “Se tomarmos esses elementos, podemos considerar que há similaridades com os jovens católicos que pertencem à Renovação Carismática Católica - RCC ou comunidades de vida. Mas o mesmo não se aplicaria à massa de jovens de paróquia, como os que estudamos na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro. Entre estes, ainda que o posicionamento contrário ao aborto seja mais unânime, não há unanimidade quando o assunto é sexo antes do casamento ou outros temas relacionados aos direitos reprodutivos”.
Sílvia Fernandes foi pesquisadora do Centro de Estatísticas Religiosas e Investigação Social – Ceris durante muitos anos. Atualmente, é professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense, é mestre e doutora em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Dentre outros livros, é autora de Jovens religiosos e o catolicismo – escolhas, desafios e subjetividades (Rio de Janeiro: Quartet/FAPERJ, 2010); Novas Formas de Crer - católicos, evangélicos e sem-religião nas cidades (São Paulo: Promocat, 2009) e organizadora de Mudança de religião no Brasil – desvendando sentidos e motivações (São Paulo: Palavra e Prece, 2006).
Confira a entrevista.
Foto: www.engeplus.com.br |
IHU On-Line - Que relações é possível estabelecer entre o catolicismo e as novas gerações? Há uma tentativa de aproximação entre os jovens e a Igreja?
Sílvia Fernandes - Primeiramente, é preciso considerar que os jovens católicos possuem diferentes modos de inserção e relacionamento com o catolicismo, mas nossas últimas pesquisas, com jovens brasileiros de diferentes faixas etárias, têm mostrado um perfil de juventude católica que se constitui por dois pilares básicos:
1. A espiritualidade alimentada fortemente por elementos tradicionais do catolicismo, como o terço e a adoração eucarística;
2. A valorização da música, principalmente em seu estilo gospel, privilegiando-se canções com letras de baixo teor litúrgico. O acento, no caso das letras dessas canções, é pessoal e menos comprometido com sofisticação ou com uma necessária conexão com os tempos do chamado "ano litúrgico".
No Brasil, há 63,4% de jovens na faixa de 15-29 anos que se declaram católicos. Contudo, esse percentual não expressa necessário vínculo ou prática religiosa no catolicismo. Como ocorre no conjunto da população brasileira, a declaração de ser católico carrega um mundo de idiossincrasias e possibilidades, fato que tem sido apontado constantemente pela literatura. Não obstante o índice de 63% de jovens católicos, a tendência é de declínio e não de ascensão. Por outro lado, o catolicismo que mais atrai a juventude brasileira é aquele oferecido pelas novas comunidades religiosas, majoritariamente pautadas na espiritualidade da Renovação Carismática Católica - RCC.
A Igreja Católica tem investido na conquista da juventude por meio de eventos de massa, como a Jornada Mundial da Juventude - JMJ, que está em sua 28ª edição, e através da promoção de campanhas missionárias, focadas em convocar os jovens para a tarefa de evangelização. Essa prática mobiliza jovens de diferentes regiões, por meio das ações diocesanas, em torno da promoção de atividades voltadas para o fortalecimento da pertença institucional.
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“Como ocorre no conjunto da população brasileira, a declaração de ser católico carrega um mundo de idiossincrasias e possibilidades” |
Dentre as inúmeras iniciativas institucionais nesta direção, no Rio de Janeiro, sob a coordenação da arquidiocese, foi criado o Instituto para a Juventude, "IJuventude", como um legado da JMJ demonstrando a tentativa da Igreja em criar um espaço e uma linguagem exitosas em atrair os jovens. O uso da letra "I" à frente da palavra Juventude que nomeia o Instituto é uma analogia aos novos dispositivos tecnológicos, tais como IPhone, Ipad e outros, que tanto mobilizam as novas gerações.
IHU On-Line - A senhora tem pesquisado o catolicismo entre as novas gerações. Quais são os pontos comuns e as diferenças entre jovens católicos no Brasil e jovens católicos nos EUA?
Sílvia Fernandes - A minha pesquisa é exploratória e está em andamento. Os dados levantados até o momento permitem delinear um primeiro perfil de jovens católicos nos Estados Unidos, mas não podemos fazer generalizações, por se tratar de um estudo de caso em curso. A ideia é explorar dados de abrangência nacional também a partir das pesquisas do Pew Forum on Religion and Public Life. Este instituto constatou que 48% dos ex-católicos que hoje se consideram não afiliados ou "unaffiliated" deixaram o catolicismo antes de completarem 18 anos. Esse dado mostra que, de modo semelhante ao Brasil, há um processo de desfiliação religiosa também naquele país.
A pesquisa pós-doutoral se realizou com jovens do Student Catholic Center, um centro católico da Paróquia de Santo Agostinho, situada na cidade de Gainesville, Flórida. As atividades deste centro são promovidas por jovens universitários na Universidade da Flórida, em sua maioria. Eles articulam várias ações com o intuito de atrair outros jovens — particularmente universitários — para a Igreja. Desse modo, o lema do Centro é: "To bring Christ to the campus and the campus to Christ".
São inúmeras as ações promovidas pelos jovens católicos engajados no Student Catholic Center. Eles exploram as práticas esportivas próprias à cultura da cidade e da Universidade, como os campeonatos de football e estão envolvidos com um conjunto de atividades próprias aos jovens, não se restringindo aos encontros religiosos. Obviamente, entretanto, a presença dos jovens católicos nestes eventos esportivos também se apresenta como um veículo para atrair jovens não católicos para o Centro. Os jovens do Student Catholic Center promovem um conjunto de ações beneficentes e estão mais mobilizados do que os jovens católicos no Brasil para missões humanitárias em países da África ou até mesmo da América Latina. Assim, podemos apontar uma primeira distinção entre as ações dos jovens católicos no Brasil e nos Estados Unidos: entre nós, as missões humanitárias são mais frequentemente realizadas por jovens religiosos vinculados a Institutos missionários, sendo mais incomum entre os jovens de paróquia, como os que acompanhamos nos EUA.
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“O catolicismo que mais atrai a juventude brasileira é aquele oferecido pelas novas comunidades religiosas, majoritariamente pautadas na espiritualidade da Renovação Carismática Católica” |
IHU On-Line - O que os jovens de ambos os países entendem por “ser católico”?
Sílvia Fernandes - Em termos do contexto norte-americano mais geral, gostaria de destacar que parece haver menor preocupação com a perda de jovens no catolicismo e mais problematização sobre o crescimento do número de jovens "Spirituals, but no religious", tendência que no Brasil poderia ser apontada como os jovens sem religião.
Assim, enquanto no Brasil a Igreja Católica está concentrando esforços para não perder fiéis, sobretudo entre os mais jovens, nos Estados Unidos, a literatura produzida por intelectuais orgânicos está preocupada com o chamado indiferentismo religioso. Todavia, agentes institucionais também produzem materiais e iniciativas que visam reforçar a fé católica, tais como livros e encontros de formação nas paróquias, respectivamente.
Quanto aos jovens católicos que pesquisamos nos Estados Unidos, vimos que há uma intensa prática sacramental e forte concordância e conhecimento sobre a doutrina moral da Igreja. Desse modo, eles tendem a realizar confissões diárias e a atuar em grupos como o Pro-life, posicionando-se radicalmente contra o aborto e discursos mais liberais que defendam práticas consideradas feministas: sexo antes do casamento e homossexualismo. Se tomarmos esses elementos, podemos considerar que há similaridades com os jovens católicos que pertencem à RCC ou comunidades de vida. Mas o mesmo não se aplicaria à massa de jovens de paróquia, como os que estudamos na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro. Entre estes, ainda que o posicionamento contrário ao aborto seja mais unânime, não há unanimidade quando o assunto é sexo antes do casamento ou outros temas relacionados aos direitos reprodutivos.
É importante destacar que jovens católicos, em ambos os países, constroem a identidade católica levando em conta um conjunto de referências, sejam elas familiares, grupais ou virtuais. Quero dizer, os ambientes os quais frequentam e com os quais interagem contribuem fortemente na constituição dessa identidade. Por exemplo, alguns jovens norte-americanos que fizeram o que denomino de "migração inversa", isto é, saíram do Protestantismo histórico para o catolicismo, possuem representações e práticas diferenciadas, pautadas numa cosmovisão de seu universo religioso anterior mesmo que sejam católicos praticantes.
Observamos, em alguns casos, mais flexibilidade no que se refere a questões ligadas ao campo da sexualidade e ainda menor apreciação de missas com perfil carismático promovidas por jovens latino-americanos. As redes sociais também funcionam como um relevante fator na formação da identidade católica juvenil. Por meio delas os jovens discutem questões de fé, pedem conselhos e muitas vezes passam a conhecer temas e posições da Igreja até então ignorados.
IHU On-Line - É possível traçar um perfil dos jovens católicos em cada país? Que postura eles assumem na Igreja, tanto em relação à participação de modo geral quanto à doutrina da Igreja e à liturgia, por exemplo?
Sílvia Fernandes - Muitos jovens no Student Catholic Center são de orientação carismática, mas há diferenças interessantes nas práticas de oração (em nenhum dos encontros vi glossolalia, por exemplo) e na expressão corporal durante as reuniões de oração e formação.
Em geral, não se notava que eram carismáticos a não ser pelas palestras que enfatizavam o conservadorismo moral e pela intensa prática da oração do terço, formando, inclusive, o Human Rosary no Campus da Universidade. Este evento religioso consiste na distribuição dos jovens no campus da Universidade formando o desenho do terço com seus corpos. Eles vestem camisetas coloridas diferenciando o que seria o conjunto de cada 10 ave-marias do terço e o pai-nosso. Pense em um terço humano colorido e iluminado com velas acesas e você entenderá o que é o Human Rosary. O fervor com o terço e com a Bíblia aproxima os jovens católicos brasileiros que tenho estudado daqueles atuantes na Paróquia St. Augustine, na Flórida. Estes últimos se comunicam por meio de uma página no facebook onde convocam as pessoas para encontros, ações beneficentes; pedem orações por familiares e amigos em situações de doenças. No Brasil, há também uma infinidade de páginas no facebook que cumprem função semelhante.
Conforme mencionado, a maioria dos jovens católicos parece estar afinada com a espiritualidade e o ethos da RCC. Entre nós, entretanto, os jovens tendem a ter menos reserva na expressão corporal durante os momentos de oração e mais uso de glossolalia, ainda que se compararmos com os anos iniciais da RCC em nosso país, o uso da glossolalia esteja, na atualidade, menos frequente. Leve-se em consideração, neste caso específico, as orientações pastorais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB para a RCC. Além disso, muitos jovens católicos têm aderido a associações de fiéis e comunidades de vida que possuem, em geral, um membro da hierarquia que os acompanha, provocando um ordenamento das práticas e modos de inserção institucional, como é o caso dos jovens da Toca de Assis.
IHU On-Line - Há também diferenças em relação à atuação e à aproximação da Igreja dos EUA e da Igreja do Brasil com os jovens?
Sílvia Fernandes - É certo que a atenção das instituições em relação aos jovens, nestes tempos de impermanências e desvinculações, tem se tornado mais aguda. As instituições tendem a fazer uso de diferentes recursos para assegurar a presença juvenil em seus bancos. No estudo da literatura produzida naquele país, constatamos que há uma ênfase nas pesquisas que analisam a relação entre juventude e religião de modo geral, assim como o crescimento do “none” e dos “spiritual, but no religious”. Quero dizer que os estudiosos de diferentes áreas nos EUA (Psicologia, Religious Studies e Sociologia) concentram suas pesquisas nas mudanças do comportamento juvenil frente à religião sem tanta ênfase em denominações específicas.
Sobre a juventude católica, a maioria dos estudos é produzida pelas Universidades Católicas em modelos similares a algumas iniciativas de professores que atuam nas Pontifícias Universidades Católicas - PUCs no Brasil. Em geral, os autores norte-americanos assinalam a preocupação com a transmissão religiosa e com a continuidade da fé entre os jovens.
Mas há, nos EUA, um importante Centro católico que desenvolve pesquisas visando subsidiar a Igreja Católica. Este Centro, denominado Center for Applied Research in the Apostolate – CARA, tem desenvolvido várias pesquisas sobre os católicos nos Estados Unidos e estas iniciativas se equivaleriam ao que anteriormente era feito no Brasil a partir do Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais - CERIS, atualmente inativo. Pode-se afirmar que, diferentemente da Igreja no Brasil, a Igreja Católica nos Estados Unidos tem se dedicado a conhecer a realidade sociorreligiosa e cultural de maneira mais ampla visando desenhar suas estratégias de atuação. A título de exemplo, vimos que um dos últimos estudos de CARA, com jovens na idade de 14 a 17 anos, mostrou que 12% — não obstante o fato de os pais serem católicos — se afirmaram como não afiliados ou não católicos. Podemos dizer que as ações desenhadas pela Igreja norte-americana em relação à juventude tendem à efetivação de um maior planejamento embasado em estudos populacionais, fato que não ocorre no Brasil atualmente.
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“A partir dos discursos do papa na JMJ fica claro que a Igreja continuará investindo no aspecto missionário para assegurar a sua permanência na sociedade, incrementar as taxas de adesão e fortalecer aspectos primários da fé cristã” |
IHU On-Line – A senhora também estuda a formação de jovens padres católicos? É possível identificar um perfil entre eles?
Sílvia Fernandes - Como a maioria dos jovens que hoje busca a vida sacerdotal é proveniente dos novos movimentos da Igreja Católica, identifica-se entre eles um perfil mais tradicional e conservador no que tange à expansão e ao conhecimento da doutrina católica.
Majoritariamente, os jovens seminaristas primam pelo uso de trajes inerentes à sua condição, tais como clergyman e roupas escuras e formais, e realizam trabalho pastoral prioritariamente em paróquias, em detrimento de outros espaços formativos que poderiam contribuir para o desenvolvimento de uma abordagem socioantropológica em seus discursos e ações. O que ocorre é que tão logo têm a chance de fazer estudos pós-graduados, os novos padres priorizam o Direito Canônico.
A longo prazo, dentre os efeitos possíveis desse quadro, pode-se vislumbrar a existência de um corpo de sacerdotes cada vez mais voltado para a dimensão estritamente institucional e menos hábil para o diálogo com a sociedade contemporânea, incluindo-se aí as novas gerações e suas demandas.
Em frequentes assessorias sobre a temática Juventude, observo a perplexidade de muitos membros do clero frente aos desafios que os jovens representam. Tais desafios se constituem pela linguagem, modos de relacionamento com a Igreja e até mesmo com a maneira como se inserem nos grupos. Alguns jovens manifestaram incômodo por serem chamados para "arrumar a Igreja", "organizar festas" e "animar encontros". Alguns deles se perguntavam se seriam apenas essas as contribuições que poderiam trazer à dinâmica paroquial e à vida da Igreja. O novo clero, particularmente no Brasil, tem essa realidade como dado.
IHU On-Line - Em relação à religiosidade, percebe mais trânsito religioso ou permanência entre os jovens?
Sílvia Fernandes - Nossas pesquisas indicaram que a mobilidade religiosa entre os jovens no país é um pouco inferior a dos adultos. Enquanto entre os jovens na faixa de 18 a 25 anos 17% já mudaram de religião, entre adultos a média é de 26%. Contudo, é importante considerar que há várias nuances nas formas como a juventude concebe a própria pertença; é o que chamamos, na sociologia, de representação. Os jovens podem considerar-se vinculados a uma determinada religião ainda que estejam transitando ou circulando por outras propostas religiosas e/ou igrejas.
Em relação ao sistema de crenças há uma postura bastante inclusiva do segmento juvenil, mesmo entre os católicos que são considerados praticantes. Os jovens podem fazer uma espécie de "ecumenismo" de crenças, sobretudo se não pertencerem às comunidades de vida ou RCC. No caso daqueles que pertencem a esses grupos, o sistema de crenças tende a ser mais afinado com as prescrições católicas.
No universo dos adultos, entretanto, algumas de nossas pesquisas mostraram um sistema de crenças aberto mesmo entre os carismáticos. E isso ocorria porque essa população católica transitava mais do que os católicos chamados tradicionais ou até mesmo aqueles que atuavam em Comunidades Eclesiais de Base. Não há dados que nos permitam avaliar se jovens católicos carismáticos que transitaram possuem um sistema de crenças mais ou menos exclusivo.
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“Majoritariamente, os jovens seminaristas primam pelo uso de trajes inerentes à sua condição, tais como clergyman e roupas escuras e formais, e realizam trabalho pastoral prioritariamente em paróquias” |
IHU On-Line - Como avalia a Jornada Mundial da Juventude, como um evento específico da Igreja para os jovens?
Sílvia Fernandes - Com esse evento, a Igreja demonstrou alta capacidade de mobilização. A JMJ, especialmente por conta da presença do novo papa Francisco, fez com que a Igreja Católica ganhasse visibilidade social, sendo reinscrita na cena pública.
A partir dos discursos do papa na JMJ fica claro que a Igreja continuará investindo no aspecto missionário para assegurar a sua permanência na sociedade, incrementar as taxas de adesão e fortalecer aspectos primários da fé cristã, tais como a evangelização e a conversão.
Neste sentido, há uma clara continuidade no remodelamento do que em décadas anteriores foi compreendido como um caminho de mudanças socioestruturais a partir do engajamento social dos cristãos e da experiência de fé diretamente relacionada à atuação em prol da justiça social.
Uma pesquisa em que participo, coordenada pelos professores Cecília Mariz, da UERJ, e Paulo Gracino, do IUPERJ, está mapeando a atuação juvenil em eventos de massa. Além disso, por ocasião da JMJ, alunos pesquisadores do grupo de pesquisa Dinâmicas Territoriais, Cultura e Religião, que coordeno, coletaram depoimentos junto a jovens participantes do evento. Desse modo, em breve teremos mais elementos para uma análise adensada sobre a relação entre juventude e religião no Brasil. A instituição vem tentando chamar a atenção dos jovens para questões como solidariedade, comunhão e testemunho de fé. Atitudes estas que, segundo as lideranças católicas, devem ser preservadas também no mundo virtual. Simultaneamente, os líderes católicos convidam os fiéis para uma postura mais evangelizadora em todos os ambientes de sociabilidade, e alguns dos organizadores da JMJ acreditam ser possível perpetuar um sentimento no qual a juventude católica se mantenha engajada para além da Jornada Mundial da Juventude e da visita do Papa.
(Por Patricia Fachin)
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Jovens católicos: o fervor com o terço e a Bíblia no Brasil e a concordância com a doutrina moral da Igreja nos EUA. Entrevista especial com Sílvia Fernandes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU