17 Mai 2016
Alguns expressam esperança, outros expressam receio, outros mais argumentam que a vida da Igreja no dia a dia é a mesma de sempre, com pouca mudança.
O comentário é de Peter Feuerherd, publicado por National Catholic Reporter, 12-05-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Mas o padre sulpiciano Phillip J. Brown, reitor do Colégio Teológico (Theological College), seminário diocesano nacional da Universidade Católica da América em Washington, diz que o efeito Francisco está vivo, atuante e cada vez crescendo mais, pelo menos entre os seminaristas. Está havendo um desenvolvimento repentino.
No fim do ano passado, ao ser perguntado por repórteres sobre o impacto do Papa Francisco no seminário, que educa e forma 84 homens com o apoio das dioceses de todo o país, o reitor disse que era cedo demais para avaliar. Isso não é mais verdade, disse ele numa entrevista recente concedida ao National Catholic Reporter.
Segundo ele, uma mensagem que o seminário sempre ensinou está em alta: “Não somos padres para agirmos como um policial. Devemos ser pastores. É essa a mensagem do papa”, disse.
Os números se mantiveram inalterados, mas as atitudes dos que chegaram mais recentemente começaram a transformar o lugar, disse o reitor. Essa transformação será sentida em breve nas paróquias.
O tema da mudança nas atitudes dos seminaristas é uma “situação delicada para mim como reitor do seminário”, reconheceu Brown, que estará se mudando ainda este ano para Baltimore onde assumirá um cargo semelhante no Seminário de St. Mary.
“A nossa abordagem para a formação dos seminaristas sempre esteve em harmonia com a que o Papa Francisco propõe”, disse ele, observando a exigência em particular de que os seminaristas estejam envolvidos no serviço direto com os pobres, oportunidade prontamente disponível na capital do país. O reitor sabe das queixas por parte de alguns fiéis americanos de que, às vezes, os padres recém-ordenados vão para as paróquias com a intenção de forçar certas mudanças.
Essa visão é “contrária à maneira como formamos os seminaristas. Sempre dizemos para irem às suas paróquias e observarem, durante um ano ou mais, para ver onde a paróquia se encontra em termos de abertura. Daí, conquistem a confiança das pessoas caso queiram propor mudanças”.
O reitor vê mudanças nas atitudes entre os seminaristas, em especial nas seguintes áreas:
Na tradição da Igreja. “Eles estão mais abertos à diversidade”, disse, notando que existe uma menor acolhida da apologética (visão segundo a qual o magistério da Igreja deve ser pregado a uma cultura laica que, em geral, a ignora) e uma maior acolhida da ideia de “andar com as pessoas e ver onde elas estão (...) Os meninos que estão chegando hoje estão mais curiosos, prontos a aplicar o ensino para a vida real do povo”.
Há uma ênfase menor na natureza sacerdotal do sacerdócio. É a visão segundo a qual os padres são homens destacados com poderes sacramentais particulares. Há também um foco maior sobre como um padre pode trabalhar entre o povo, aquilo que Francisco descreve como um pastor com o cheiro das ovelhas.
Existe uma ênfase menor nos sinais e símbolos que indicam certo tradicionalismo. Eles podem parecer coisa pequena: o uso de batinas, a hóstia somente na língua e não na mão, para citar dois exemplos. Mas, nos últimos anos, estes símbolos se transformaram no que Brown descreve como “marcadores de ortodoxia” com o indicativo de que aqueles que não seguem tais práticas são suspeitos.
“Essas coisas eu não vejo mais”, disse ele.
Os seminaristas mais novos têm um estilo mais ao modo do Papa Francisco – alguns diriam: ao modo Vaticano II –, uma visão de que a Igreja deve se engajar na cultura e não se ver como uma comunidade à parte. Antes, os seminaristas tinham ciência de que eram diferentes dos seus pares na cultura mais ampla da geração millennial. Hoje, eles estão mais propensos a se verem como bastante parecidos com os seus pares no mundo em geral, com o objetivo de transformar a cultura por meio da mensagem evangélica.
Mais impressões por parte do reitor do Colégio Teológico, que está à frente da instituição há cinco anos, são:
Nos termos do reitor, os seminaristas estão mais inclinados a abandonar uma visão da teologia moral calvinista, baseada em normas, para adotarem um entendimento mais diferenciado do papel do magistério católico na vida das pessoas. Eles estão menos propensos a ver o aconselhamento psicológico com suspeitas. A mensagem de Francisco sobre o meio ambiente está também sendo acolhida, segundo o reitor.
Aquelas pessoas que enxergam estas mudanças como uma boa notícia podem começar a se sentir mais esperançosas e confiantes. O impacto do magistério de Francisco está não apenas influenciando os novos seminaristas que começam os seus estudos neste momento inicial de seu pontificado. Ele está também penetrando na cultura do sistema inteiro.
Segundo o reitor, dentro de poucos anos os paroquianos deverão ver este impacto no ministério dos padres recém-ordenados.
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O “efeito Francisco” cresce entre seminaristas, diz reitor do Colégio Teológico - Instituto Humanitas Unisinos - IHU