06 Dezembro 2018
Trump é, sem dúvida, o mais bizarro. Mas ao defenderem a globalização corporativa, os governantes do grupo, em seu conjunto, tramam o desastre climático.
O artigo é de Maxime Combes, publicado por Outras Palavras, 04-12-2018. A tradução é de Felipe Calabrez.
Intoxicados por combustíveis fósseis e em busca do crescimento econômico a qualquer custo, os países do G20 respondem por 80% do consumo global de energia – e por 78% da emissão de CO² – embora abriguem apenas 60% da população mundial. O relatório publicado recentemente pelo PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) é claro: Os países do G20, vistos em conjunto, não estão caminhando em direção aos objetivos que eles mesmos fixaram para 2030. Entre os faltosos, podemos incluir EUA e Arábia Saudita, como se poderia esperar, mas também Canadá e União Européia, que em geral apresentam-se como os “Campeões do Clima”.
É uma ideia falsa. O G20, em matéria de luta contra mudança climática, é como uma classe só de maus alunos.. Culpabilizar apenas Donald Trump e os EUA, como se faz habitualmente, é um equívoco. É esquecer que em uma turma de faltosos, mesmo o melhor entre eles não ajuda nada. Por exemplo: a União Europeia, longe da imagem que busca manter de si mesma, não está em condições de garantir que seus objetivos para 2030 sejam atingidos. E dentro da União Europeia, a França está longe de ser exemplar, ao contrário do que dizem os defensores da energia nuclear na matriz energética do país: Suas emissões de CO²aumentaram 3,2% em 2017 em relação a 2016, contra um aumento de 1,8% da UE.
É preciso dizer que os combustíveis fósseis ainda representam 82% da matriz energética dos países do G20, afirma um segundo relatório, publicado pela Climate Transparency. Os combustíveis fósseis, seguem amplamente subsidiados: os países do G20 lhes concederam 147 bilhões de dólares em 2016, contra 75 bilhões em 2007. Um aumento de 96%! Os países do G20 estão, portanto, financiando o agravamento do aquecimento global. Impunemente. E em total contradição com o compromisso assumido em 2009 (na ocasião da terceira reunião do G20, em Pittsburgh) e renovado regularmente desde então, que consiste em remover essas subvenções, ou ajudas disfarçadas. Não tem sido assim. Muito pelo contrário.
De acordo com esse relatório, as emissões de gases de efeito estufa estão aumentando novamente em 15 dos 20 países do G20, que se afastam progressiva e irremediavelmente de uma trajetória em conformidade com os objetivos de elevar a temperatura em no máximo 2º C – idealmente 1,5 ºC – definidos no Acordo de Paris. Tomemos nota: o objetivo de redução de 80% das emissões entre 2005 e 2050 – o mínimo requerido dos países ricos – exige uma redução anual constante de cerca de 3,5% durante esse período. Os países do G20 estão muito distantes e nos conduzem, sozinhos, a um aquecimento global superior a 3,2º C.
Embora os chefes de Estado dos países do G20 devessem ser todos condenados, pelos seus fracos resultados na luta contra as alterações climáticas, os comentadores e principais meios de comunicação nos reservam a habitual encenação: de um lado, os bons chefes de Estado, aqueles que querem que a luta contra as mudanças climáticas apareça no comunicado final; de outro, aquele, ou talvez aqueles, que não o querem. Uma cena idêntica à do G20 de Hamburgo no ano passado, ou o G7 na Itália (2017) e no Canadá (2018). E para que resultado? Nenhum, uma vez que as emissões de gases com efeito de estufa da maioria destes países aumentaram em 2017.
Devemos listar os membros do G7 e do G20 que assumiram compromissos na luta contra a mudança climática? O G8 de Aquila, em 2009, não havia anunciado grande prioridade alguns meses antes do fracasso da Conferência de Copenhague sobre as mudanças climáticas? Todos estes compromissos, repetidos ano após ano, podem ser retomados e analisados. Nenhum deles surtiu efeito e os países do G20, no seu conjunto, são os principais responsáveis pelo agravamento das mudanças climáticas.
Há, no entanto, analistas que se congratulam, porque, à margem do G20, em Buenos Aires, alguns países, reunidos em torno da França e da União Europeia, reafirmaram sua determinação em lutar contra o aquecimento global. Os mesmos analistas se congratularão por conta de um comunicado no qual o G19 (G20 exceto EUA) tomará distância de Donald Trump no que diz respeito ao comércio internacional, renovando um apoio incondicional à liberalização do comércio. Farão isso sem se dar conta da incongruência entre essa posição e a crise climática alimentada por essa mesma liberalização, desencadeada há mais de trinta anos.
Realocar os circuitos de produção e consumo, reduzir o transporte internacional de mercadorias, tributar o querosene e o óleo pesado usados para impulsionar essa globalização do comércio, remover as regras da OMC que hoje limitam as políticas de transição energética adaptadas a territórios, defender uma agricultura camponesa e orgânica em vez das políticas de agro-exportação…são algumas das medidas indispensáveis do ponto de vista da urgência climática. Infelizmente, não tiveram lugar no comunicado final do G20. Infelizmente, raros são os analistas que põem em evidência essa contradição, como se pudéssemos resolver a crise climática ao mesmo tempo em que se aprofunda a globalização neoliberal.
Mais raros ainda serão os analistas a sugerir uma terceira via que possa se posicionar, ao mesmo tempo, contra a “retomada identitária” de Donald Trump e contra uma globalização desastrosa que o presidente francês Emmanuel Macron e outros defendem, e em favor de regulações que primem pela emergência climática, pelos direitos sociais, pelos direitos humanos, pela proteção da biodiversidade, colocando-os acima do business as usual.
Isso tudo, porém, não está na ordem do dia do G20. Este grupo, que abriga vinte criminosos do clima, ocupado demais em preservar os interesses de suas respectivas multinacionais na globalização neoliberal, não encontra tempo para implementar políticas efetivas de combate ao aquecimento global.
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