18 Julho 2018
Terminou na segunda-feira, 9 de julho, a viagem do arcebispo Paul Richard Gallagher à Coreia do Sul. Entre os últimos compromissos do "Ministro do Exterior" do Vaticano, o encontro com os Parlamentares católicos de Seul. Enquanto isso, criou-se uma onda de indignação contra a agressão ao cardeal Brenes e ao núncio Sommertag na Nicarágua.
Após o evento de Bari, uma primeira resposta diplomática: o Patriarcado de Moscou anunciou a colaboração com a Igreja católica para a reconstrução de igrejas no Iraque.
A reportagem é de Andrea Gagliarducci, publicada por ACI Stampa, 14-07-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
A ação política, para os católicos, é uma vocação para o bem comum da sociedade. Isso foi ressaltado pelo arcebispo Paul Richard Gallagher, Ministro das Relações com os Estados da Secretaria de Estado Vaticano, reunido em Seul com Parlamentares católicos em 06 de julho.
O encontro com os Parlamentares católicos coreanos ocorreu quase como conclusão de uma visita de seis dias do "ministro do Exterior" do Vaticano no país da manhã calma, a convite do ministro das Relações Exteriores da Coreia, Kang Kyung-wha, que visitou no último 26 de janeiro o Vaticano.
Em 5 de julho, em uma recepção na presença do ministro da Cultura Do Jongwhan e do cardeal Andrew Yeom Soo-jung, arcebispo de Seul, o arcebispo Gallagher relembrou que "quando a Santa Sé estabeleceu relações diplomáticas com a Coreia 55 anos atrás, e mesmo antes de então, acompanhou o povo da Coreia em sua jornada rumo à paz e ao desenvolvimento".
O estabelecimento de relações diplomáticas - acrescentou -"deu reconhecimento formal a um relacionamento que se desenvolveu ao longo de muitos anos, com base em contatos religiosos, culturais e pessoais entre a Santa Sé e o povo coreano." Uma relação que sempre visou "demonstrar respeito mútuo e foi caracterizada, por parte da Santa Sé, por uma profunda apreciação da cultura coreana".
O arcebispo Gallagher destacou que o Papa Francisco tem o mesmo respeito e afeição pelo “povo desta terra e reza de uma forma especial, ainda mais agora, pela paz e a reconciliação na península.”
Na reunião com os Parlamentares católicos de Seul em 6 de julho, o arcebispo Gallagher elogiou o envolvimento dos parlamentares no trabalho “com grande empenho durante esta fase delicada e promissora da vida política da Coreia'” considerando que "talvez hoje, como nunca antes na história recente, os olhos do mundo estão sobre a situação social e política da península coreana".
O arcebispo Gallagher trouxe saudações do papa, e disse que o pontífice segue de perto todos os desenvolvimentos políticos, tanto a nível regional como internacional. Por isso, ele acrescentou, acredita que que cada parlamentar, "a partir de sua experiência pessoal e agindo com base nas próprias convicções de consciência, possa enriquecer a vida política com o seu testemunho para traçar o próprio caminho de fé, à luz do Evangelho."
Recordando a intervenção de Bento XVI ao Bundestag em 2011, o arcebispo Gallagher também enfatizou que também o Papa Francisco destacou a importância que a ação política permaneça sempre uma missão nobre, e que "para os católicos envolvidos na vida pública, se torne uma verdadeira vocação para o benefício de toda a sociedade" porque "saber distinguir o certo do errado, promover altos ideais tais como o respeito pela vida humana, a paz, o desenvolvimento integral da pessoa humana não é apenas uma questão de agudeza intelectual, mas um dom que vem de Deus".
O número de vítimas na Nicarágua subiu para 351, e o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, enfatizou a gravidade da situação e a presença de grupos paramilitares que estão disseminando violências e matando. O cardeal comentou o ataque ocorrido contra o cardeal Leopoldo Brenes, arcebispo de Manágua, seu auxiliar, Dom Baez, e o arcebispo Waldemar Sommertag no último 09 de julho, quando os prelados tinham ido levar conforto para aqueles que haviam se refugiado em uma igreja sob assedio.
Contra o episódio também foi emitida a condenação do COMECE, o Comitê das Conferências Episcopais da Europa, que monitora as atividades em Bruxelas.
O comunicado do COMECE observa que "nos últimos três meses, as tensões aumentaram na Nicarágua devido à deterioração da situação social e do processo eleitoral". O arcebispo Rimantas Julius Norvila de Vilkaviskis (Letônia), Presidente da Comissão de Assuntos Externos do COMECE, quis "expressar solidariedade para a Igreja na Nicarágua durante estes tempos difíceis" e pediu à UE para "apoiar os esforços de mediação e reconciliação dos Bispos da Nicarágua no processo em curso de diálogo nacional sobre o caminho para uma paz duradoura".
Três intervenções foram realizadas pela Santa Sé nas Nações Unidas em Nova York nesta semana. As duas primeiras foram pronunciadas em 9 de julho, a última em 13 de julho e foi a intervenção conclusiva das negociações para o acordo global sobre as migrações.
O primeiro ocorreu na sessão da sexta e última rodada das negociações intergovernamentais sobre o acordo Global para uma Migração Segura global Ordenada e Regular.
O arcebispo Bernardito Auza, Observador Permanente da Santa Sé junto às Nações Unidas em Nova York, acolheu positivamente duas modificações do texto que foram incluídas na última revisão. São medidas concretas para lidar com os desastres que acontecem a longo prazo ou improvisamente, e a ênfase no direito de manter a família unida.
Existem – ele acrescentou - três questões que precisam ser melhoradas em vista do texto final. A primeira é a eliminação das referências às diretrizes e princípios oriundos de documentos não negociados no plano intergovernamental e que contenham linguagem controversa e temas que não tenham um consenso compartilhado - e a referência é também ao tema do gênero, muito presentes nos documentos.
Manter tais referências - disse ele - "poderia influenciar significativamente quanto e em que medida a Santa Sé e as instituições católicas podem dar apoio ao acordo".
O arcebispo Auza também ressaltou - é a segunda questão a ser melhorada – que “todas as pessoas desfrutam dos mesmos direitos humanos básicos, que devem ser respeitados, protegidos e atendidos, não considerando o status de migração da pessoa”, e que "fornecer abrigo, saúde, educação e justiça são serviços mínimos que todos os Estados deveriam prestar e deveriam ser incluídos no Global Compact".
A última questão em jogo diz respeito ao direito humanitário e do princípio de non-refoulement, ou seja, o princípio pelo qual os migrantes não devem ser forçados a retornar para países onde poderiam ser perseguidos. O Observador da Santa Sé finalmente ressaltou que todas as pessoas têm o direito de permanecer em paz, prosperidade e segurança em seus países de origem, e isso requer a cooperação internacional de todos os Estados.
Nas Nações Unidas também foi discutido sobre "Proteger as crianças de hoje evita os conflitos de amanhã". O debate ocorreu no Conselho de Segurança das Nações Unidas. O arcebispo Auza disse que as crianças são as que mais sofrem por causa de guerras e conflitos, e que a forma como as crianças são tratadas tem consequências para o seu futuro e aquele do mundo, e ressaltou que a comunidade internacional pode fazer mais para "proteger as crianças de serem mutiladas, mortas, usadas como escudos humanos, homens-bomba, crianças-soldados e escravas sexuais e outros abusos.
Por essa razão - enfatizou a Santa Sé - o quadro da Agenda sobre Crianças e Conflitos Armados é especialmente importante, e deve ser melhorado, em especial para reforçar as medidas preventivas contra os abusos dos direitos humanos contra as crianças; priorizar a reabilitação e reintegração das crianças-soldado; garantir o direito à educação para crianças vítimas dos conflitos armados.
Em 13 de julho, foi realizada a sessão final de negociações do Acordo Global sobre as Migrações. Em seu discurso, o arcebispo Auza ressaltou que dois anos de processos de negociação têm destacado a realidade da migração internacional e que, depois que for formalmente adotado em Marrakech, em dezembro, o acordo servirá como a primeira referência internacional global para a prática e cooperação entre governos, ONGs e organizações religiosas em relação à gestão das migrações.
De acordo com o arcebispo Auza, o acordo “irá tornar mais difícil para todos continuar a ignorar os desafios que enfrentam os migrantes ou evitar responsabilidades compartilhadas em relação a eles”. O Observador da Santa Sé recordou o apelo do Papa Francisco para acolher, proteger, promover e integrar os migrantes - tema também do Dia Mundial da Paz deste ano - e disse que o acordo não só está respeitando, mas foi construído sobre esses princípios, expressando a esperança de que o Acordo não só irá ajudar a melhor gerir as migrações, mas poderá ser um significativo passo à frente na solidariedade e na misericórdia para com a dignidade de cada migrante e ao serviço da humanidade.
De 9 a 13 de julho, realizou-se na FAO uma Conferência sobre "Garantir atividades de pesca socialmente, ecologicamente e comercialmente sustentáveis". Monsenhor Fernando Chica Arellano, Observador Permanente da Santa Sé junto às Organizações e Organismos das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, fez uma intervenção em 11 de julho, observando que "muitas instituições da Igreja Católica no mundo estão empenhadas em desenvolver e continuar muitas iniciativas" para contribuir com o esforço para ter uma "pesca sustentável".
A Santa Sé está muito atenta ao tema da pesca e do Apostolado do Mar, organismo agora incluído no Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral, que organizou em outubro do ano passado uma conferência sobre tráfico de seres humanos na pesca, ressaltando o drama da exploração dos pescadores.
Em seu discurso de 11 de julho, a Santa Sé reconheceu o grande trabalho da FAO em favor da pesca sustentável, enquanto ressaltava, em sintonia com outras intervenções, que “a pesca cria milhões de empregos, permitindo assim o sustento de famílias, grupos e comunidades e representando para muitas nações um meio de receitas e o primeiro fornecedor de alimentos".
Ao mesmo tempo, afirmou monsenhor Chico Arellano, nunca deve ser esquecido que "a dimensão econômica, com todos os seus benefícios, nunca deveria obscurecer a indispensável dimensão humana, que é vital para assegurar um desenvolvimento compatível com a preservação meio ambiente".
Para a Santa Sé, a promoção da pesca sustentável e responsável deve ser "uma preocupação fundamental das atividades nacionais e internacionais", adotando uma abordagem ampla e abrangente que olhe para o impacto geral que a pesca tem no mundo. Impacto que na realidade é obscurecido pela exploração que "em muitas partes do mundo atingiu níveis insustentáveis", com o risco que a situação "se deteriore mais ainda", uma vez que ainda não foram tomaram medidas sobre a questão.
A discussão depois se deslocou para a exploração dos pescadores, tema da conferência de Taiwan. O seu trabalho - relatou monsenhor Chica Arellano - é "precário, em muitos casos forçado, e alguns foram, inclusive, vítimas de tráfico de seres humanos." Algo que "deveria fazer-nos pensar" sobre as atividades de nossos governos ou da sociedade civil, com a consciência de que "está na hora de agir", porque enquanto "a atividade pesqueira cresce rapidamente", também aparecem "formas atípicas de recrutamento, com empregos irregulares e ilícitos que não têm a justa estabilidade e não garantem padrões sociais mínimos".
Então, há trabalhadores que vivem "em condições humanas realmente desumanas", por longo tempo longe de suas famílias", recrutados por intermediar licita que sejam tomadas "medidas eficazes e iniciativas relevantes", para monitorar a situação e então "identificar e resgatar os pescadores que são vítimas de tráfico de seres humanos ou de tratamento degradante".
A ideia é de “desenvolver normas internacionais para tal propósito”, encorajando medidas para “proteger os pescadores explorados, traídos e abusados”, que estejam em conformidade com os tratados internacionais.
De 29 a 5 de junho foi realizado o encontro dos Secretários Gerais das Conferências Episcopais Europeias em Chipre. Entre os temas que foram discutidos, aquele da Ucrânia, relatado pelo Bispo Bodhan Dziurakh, secretário do Sínodo dos Bispos da Igreja Greco-Católica Ucraniana.
O bispo Dziurakh agradeceu aos participantes por seu apoio ao que chamou de uma "agressão russa", e disse que os números de feridos e mortos no leste da Ucrânia deveriam atrair mais atenção. "Para nós, ucranianos - disse ele - é muito importante saber que, juntamente com políticos cínicos e egoísmos comerciais, há pessoas e comunidades que podem compartilhar nossa dor com compreensão, conforto e solidariedade."
O bispo greco-católico declarou que a agressão não acabou e que isso representa uma ferida aberta que sangra na Europa. Monsenhor Duarte da Cunha, secretário-geral do Conselho das Conferências Episcopais Europeias, falou sobre a sua experiência de uma recente viagem à Ucrânia e pediu para não esquecer o que está acontecendo na Ucrânia, Síria e em outras regiões da Europa e do mundo.
No dia seguinte ao encontro em Bari, o Metropolita Hilarion, chefe do Departamento de Relações Exteriores Patriarcado Ortodoxo de Moscou, destacou em uma entrevista à agência de notícias russa TASS que o Patriarcado e o Vaticano trabalharão juntos para reconstruir sítios cristãos na Síria.
A notícia demonstra mais uma vez a vontade do Patriarcado de Moscou, não só de identificar um parceiro na Igreja Católica, mas também de demonstrar preocupação com os cristãos no Oriente Médio. Se o Papa Francisco convocou o encontro de oração em Bari, também é verdade que, desde que eclodiu a crise, o Oriente Médio é considerado pelo Patriarcado de Moscou "um lugar de prática ecumênica" a ponto de ser mencionado na declaração conjunta de Havana de 12 de fevereiro de 2016. E o primeiro germe da reunião de Bari nasceu provavelmente de um telefonema do Patriarca Kirill ao Papa Francisco, em 14 de abril passado, depois dos enésimos confrontos na Síria.
Esse é o contexto em que se insere o anúncio do Metropolita Hilarion, que em Bari não proferiu em público a oração, como previsto, e que durante o encontro se manteve um pouco à margem.
O Metropolita salientou que o Vaticano e o Patriarcado começaram a trabalhar na reconstrução, e "algumas igrejas-mosteiros estão agora em reconstrução, enquanto o trabalho de restauração está prestes a terminar em Maaloula, que é um dos maiores sítios sagrados da Igreja Ortodoxa da Antioquia". O Metropolita também afirmou que as condições permanecem tensas na Síria.
A Igreja Maronita vai realizar uma mediação em uma disputa entre os principais partidos cristãos no Líbano, as Forças Libanesas e o Movimento Patriótico Livre. A disputa causou um atraso na formação do gabinete de governo.
A notícia é divulgada pelo portal Ashar em Awsat. De acordo com o órgão de imprensa libanês, o cardeal Bechara Boutros Rai convocou para 12 de julho, o ministro da Informação Melhem Riachi e o jurista Ibrahim Kanaan, respectivamente das Forças Libanesas e do Movimento Patriótico Livre. Seus esforços culminaram em 2016, no chamado "acordo de Maarab" que levou à eleição de Michel Aoun como presidente em outubro daquele ano.
O Patriarca pretende dissolver a tensão entre os partidos cristãos e preparar um documento político para uma mediação entre os dois partidos.
Recentemente, o Líbano nomeou um novo embaixador junto à Santa Sé, depois de alguns mal-entendidos. O novo núncio, o arcebispo Joseph Spiteri, chegou ao Líbano no final de junho, depois de ter sido eleito em 7 de março último.
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Diplomacia Pontifícia, as frentes abertas: da Nicarágua à Coreia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU