Por: Ricardo Machado | 07 Junho 2018
Não somente as tecnologias têm se modificado exponencialmente, mas também o mundo do trabalho. Ambas transformações correm na esteira da mudança do mundo em sua versão 4.0. Para discutir os dilemas e as potencialidades da nova configuração global o Instituto Humanitas Unisinos - IHU realizou o evento Revolução 4.0 e o trabalho. Dados esclarecedores e a necessária renda universal, com os professores da Unisinos Gilberto Faggion e Lucas Henrique da Luz. O evento integra a programação do 2º Ciclo de Estudos. Revolução 4.0 - impactos aos modos de produzir e viver.
Dividida em dois momentos, a apresentação começou com a fala de Lucas Henrique da Luz, que abordou as transformações da revolução 4.0 em perspectiva com a renda universal. Antes de aprofundar as questões relativas à renda de cidadania, o professor lembrou que a revolução 4.0 é caracterizada pela fusão das dimensões físicas, digitais e biológicas, que ocorrem a uma velocidade sem precedentes. Nesse novo universo, a emergência de objetos como Inteligência Artificial, robótica, Internet das Coisas, veículos autônomos, impressão 3D são cada vez mais comuns, além dos exponenciais avanços em nanotecnologia e biotecnologia. “A revolução 4.0 é maior que o conjunto de tecnologias que ela engendra, ela representa uma mudança nos modos de produzir e viver”, aponta Luz.
Gilberto Faggion e Lucas Luz | Fotos: Ricardo Machado/IHU
“O trabalho é um espaço de constituição do ser, onde constituímos nossas subjetividades, onde várias questões do ser têm relação com o trabalho. O trabalho tem uma dimensão material, de produtividade, e ao mesmo tempo tem uma função social”, ressalta Luz ao pensar as dimensões do trabalho tanto em termos sociais quanto subjetivos. “A promessa da terceira revolução industrial, de que ficaríamos mais livres, com tempo para a família e as relações sociais, não se cumpriu. Ao contrário, nos tornamos ainda mais presos às tecnologias e, de certo modo, assumimos o ritmo de produção destas tecnologias”, complementa.
É nesse contexto que o professor apresenta a renda básica universal como uma alternativa a todas estas mudanças. Embora no Brasil esse debate ainda seja muito incipiente, o tema vem sendo discutido pelo Fundo Monetário Internacional - FMI, por Elon Musk, Bill Gates, Mark Zuckerberg e, no caso brasileiro, por Eduardo Suplicy. “Quem é contra a iniciativa diz que não existe recurso para financiar e que desestimula o empreendedorismo. Quem é favorável argumenta que, como ela é universal, não corre o risco de ser estigmatizada, exige menos controle, inclui todos na movimentação da economia e essa renda permite que as pessoas possam ter maior poder de barganha sobre o trabalho que escolherão para fazer”, pontua. “O desafio é transformar as tecnologias como uma caminho para o bem comum e não para o aprofundamento das desigualdades”, projeta.
O professor Gilberto Faggion trouxe uma série de dados e pesquisas sobre o futuro do trabalho que são apresentadas por centros de pesquisas internacionais. Com base nesses estudos, os sites will robots take my job e o do Instituto McKinsey, entre outros, apresentam estimativas e cálculos da ocupação dos robôs nos postos de trabalho do futuro. “Vários levantamentos feitos até agora apontam para uma redução dos postos de trabalhos ocupados por humanos. Porém, as atividades menos propensas ao impacto das automações são as relacionadas às atividades humanas, como as de antropólogos, psicólogos e assistentes sociais”, explica Faggion.
Uma das questões mais sensíveis nesse cenário é que se não houver aumentos dos salários a tendência é que o desenvolvimento tecnológico produzirá ainda mais desigualdades. “As escolhas políticas, tanto públicas quanto institucionais, que serão feitas daqui para a frente determinarão como vamos nos preparar para qualificar e requalificar os trabalhadores para este novo mundo do trabalho”, desafia o professor.
Apesar do crescente avanço tecnológico, alguns estudos apontam que as competências esperadas para o perfil do trabalhador já em 2020 não são prioritariamente técnicas, mas humanas. “Alguns estudos apontam que há necessidade de respostas políticas e não somente econômicas, de modo que no curto prazo se invista em educação e melhores serviços sociais às pessoas. É nesse contexto que a capacidade de solução para problemas complexos exige pensamento crítico, criatividade e inteligência emocional como capacidades essenciais”, descreve Faggion.
Lucas Henrique da Luz é graduado em Administração e possui mestrado em Ciências Sociais Aplicadas, ambos pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos. É doutor em Administração pela mesma universidade, com estágio doutoral na Université de Poitiers, da França. Vinculou-se à Unisinos em 2005, onde é Professor Assistente, dedicando-se a projetos de pesquisa e ao ensino em nível de Graduação e Pós-Graduação, em cursos da Escola de Gestão e Negócios da Unisinos, nas áreas de estratégia, administração de Recursos Humanos, empreendedorismo e gestão social. É integrante do Instituto Humanitas Unisinos - IHU.
Gilberto Faggion é mestre em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS, possui graduação em Comércio Exterior pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos e graduação em Administração de Empresas também pela Unisinos. Atualmente é Professor Assistente de Gestão da Inovação, Metodologia de Pesquisa e Teorias da Administração na Unisinos, em curso de graduação e pós-graduação, presenciais e a distância. É coordenador dos Programas (Re)Pensando a Economia e Sociedade Sustentável do Instituto Humanitas Unisinos - IHU. Também é coordenador adjunto do MBA em Comunicação Organizacional da Unisinos.
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Futuro do mundo do trabalho. O necessário debate dentro da Revolução 4.0 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU