21 Fevereiro 2018
O jesuíta franco-alemão acaba de publicar dois livros sobre o papel dos teólogos. Para esse professor do Centre Sèvres, Paris VI, é na relação permanente com os pastores e fiéis que a teologia poderá ajudar o mundo a perceber a mensagem evangélica.
A entrevista é de Philippe Clanché, publicada por La Vie, 18-01-2018. A tradução é de André Langer.
Um dos novos livros de Theobald: Vários autores.
50 ans après le Concile, quelles tâches pour la
théologie? Diagnostics et délibérations de
théologiens du monde entier. Lessius, 2017
O Papa estimula a manifestação das divergências. Isso afeta o trabalho do teólogo?
Muda a qualidade do debate. Não sua natureza. Pela primeira vez desde o Vaticano II, o pluralismo na teologia, que sempre existiu, é afirmado de maneira muito positiva. A situação mudou. Ontem, os cristãos conheciam o essencial do dogma cristão. Hoje, coexistem diversos pontos de vista. Os pensadores que avançam uma posição original ou as Igrejas particulares que colocam em prática seu próprio itinerário não são imediatamente suspeitos de ameaçar o bem comum da fé. Os últimos pontificados temiam esse pluralismo que o Papa Francisco aborda com serenidade.
É necessário ver uma diferença de caráter entre os dois papas, Bento XVI sendo de um ambiente mais preocupado?
Os temperamentos contam. Mas há outras diferenças: Bento XVI vem de uma tradição espiritual mais beneditina, muito centrada na liturgia, ao passo que Francisco, inaciano e missionário, confia na pluralidade das culturas. É uma novidade em Roma. Mas não coloquemos na balança um intelectual e um pastor. Perguntado sobre a função da Congregação para a Doutrina da Fé, o cardeal Müller, quando era o prefeito, respondeu dizendo que era “uma missão de estruturação teológica do pontificado”. Como se os textos do Papa Francisco não fossem teologicamente estruturados! Devemos ter o cuidado para não opor falsamente o “teólogo” e o “pastor”.
Em novembro de 2016, quatro cardeais publicaram uma carta dirigida ao Papa Francisco na qual lhe externaram suas dúvidas (dubia, em latim) sobre a Exortação Apostólica Amoris Laetitia...
A oposição entre os “doutrinalistas”, capitaneada pelos quatro cardeais autores das dubia, e os liberais vai se dissolver em parte por si mesma. O povo cristão, com seu sensus fidei, vai sentir o que é humano e o que não é, o que corresponde ao ensinamento de Cristo e à sua atitude em relação a esses e aqueles que encontra em seu ministério na Galileia e o que não corresponde. A Igreja transformou-se em um imenso laboratório no qual as pessoas sabem muito bem discernir o que as faz viver, do ponto de vista da fé e da vida cotidiana. Não é uma luta entre ideias.
O teólogo deve mudar sua maneira de trabalhar?
Sim. A teologia, que segue sendo uma disciplina universitária, só funciona em relação contínua com os destinatários (os fiéis e os outros) e os bispos. É assim que a verdade da fé pode aparecer. Esta visão, que vem do Vaticano II e não do Papa Francisco, tornou-se igualmente necessária para a mudança cultural. Nós estamos em um mundo em que a maneira de buscar juntos a verdade e de não recebê-la autoritariamente de alguns poucos conta e pesa muito na credibilidade ou na falta de credibilidade da Igreja.
As relações entre os teólogos e os responsáveis pastorais não são evidentes. Por estar interessado no longo prazo, o trabalho teológico retardam o trabalho dos pastores, que enfrentam um presente difícil. Entrar em uma verdadeira inteligência coletiva demanda renunciar a soluções imediatistas. Vou dar um exemplo: durante o Sínodo sobre a Família, a colaboração entre os teólogos e a Comissão Família e Sociedade da Conferência dos Bispos da França funcionou muito bem. Portanto, é possível. Às vezes crítico, o teólogo também dá sustentação às esperanças.
Quando o institucional está mal ajustado às grandes intuições do Vaticano II, permanecendo muito afastado daquilo que efetivamente acontece na vida das pessoas, os pastores não são mais capazes de descobrir os carismas de seus fiéis, que Deus dá gratuitamente a tal comunidade, o que eu chamo de nossos “lençóis freáticos espirituais”. Eles existem não somente nas comunidades cristãs, mas também na sociedade. A nossa Igreja corre o risco de instrumentalizá-los em função de suas estratégias pastorais, de reforçar assim seu lado administrativo e de perder a capacidade de acreditar que ela é precedida, pelas intuições, pelas generosidades, pelas competências, pelos dinamismos espirituais dos fiéis...
Um dos novos livros de Theobald: Donner un à-venir
à la théologie. Bayard Éditions, 2017
Sinodalidade e descentralização são para você palavras-chaves...
O Vaticano II marcou a real colaboração entre bispos e teólogos. O Papa Francisco pede que o funcionamento sinodal, deixado um pouco de lado desde o Concílio, se torne uma norma da Igreja. E isso em todos os níveis, a partir do mais humilde. Como sair de uma concepção administrativa de sinodalidade para encontrar nela um verdadeiro espaço de discernimento? Não devemos esperar isso no alto se não acontece na base. E é muito necessário pensar a Igreja de maneira descentralizada.
Como vimos nos debates sobre a família e o matrimônio, as questões não são as mesmas para todos no planeta. O que é comum na fé cristã pode ser expresso pelo Credo e outros textos doutrinários, comuns a todos, porque eles dizem o essencial. O resto deve provir das culturas regionais. Além disso, como na Igreja do século IV, patriarcados continentais poderiam tomar decisões, com um direito próprio. Mas será preciso tempo para que esta ideia se assente.
A Igreja da França dispõe de pessoas preparadas para fazer teologia?
Se você pensa nos padres, não. Mas muitos leigos investem nela, não exclusivamente para a sua própria compreensão da fé, mas para se colocar a serviço da Igreja. É preciso colocar nesse sentido. Nós temos uma geração de mulheres teólogas competentes e reconhecidas. Deus deu à sua Igreja do que ela tem necessidade nesse momento da sua história. Resta ainda saber recebê-lo. Quanto ao povo de Deus, que ele se manifeste! Na França, a Igreja encontra-se em uma encruzilhada. O tempo é propício para perguntar aos fiéis como eles vislumbram o futuro.
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“A Igreja transformou-se num imenso laboratório”. Entrevista com Christoph Theobald - Instituto Humanitas Unisinos - IHU