24 Novembro 2017
Durante audiências públicas da empresa BP, moradores do Pará e do Amapá se mostraram preocupados com o projeto de perfuração na Foz do Amazonas e com um possível vazamento de petróleo.
A reportagem é de Thaís Herrero, publicada por Greenpeace Brasil, 21-11-2017.
“Na maioria dos grandes projetos que vêm para a Amazônia, são as empresas que ficam com os maiores lucros. É difícil que a população esteja satisfeita considerando que o projeto da BP visa o capital da própria empresa. E vemos que, em caso de um vazamento de petróleo, será muito difícil restaurar a vida marinha da região”. Foi assim que Lucilene de Souza, da comunidade de Colares, no Pará, descreveu seu sentimento sobre o projeto da britânica BP de explorar petróleo na bacia da foz do rio Amazonas.
Lucilene foi uma das cerca de 1.500 pessoas que participaram das audiências públicas que a BP e o Ibama realizaram entre os dias 9 e 13 de novembro em Belém, no Pará, e em Oiapoque e Macapá, no Amapá. Esses são municípios que serão impactados ou envolvidos de alguma forma pela busca ao petróleo, que a empresa planeja para 2018.
Nós do Greenpeace estivemos nas três audiências para levar questionamentos e a mensagem daqueles que são contra o projeto mas não puderam estar presentes. O bloco que a BP quer perfurar está próximo aos Corais da Amazônia, um ecossistema único no mundo e ainda pouco conhecido pela ciência.
O que vimos nas três cidades foi um mesmo cenário: cidadãos com muita ânsia em ser ouvidos, repletos de dúvidas sobre o que de bom a exploração de petróleo trará para eles e receios sobre o impacto de um possível de vazamento de petróleo. Mesmo as poucas pessoas que apoiavam o projeto pediam investimentos ou empregos para a região.
Quando Gilberto Iaparrá, cacique do Conselho Indígena do Oiapoque, falou ao microfone, mostrou preocupação de que um vazamento alcance o rio Uaçá, que banha sua terra indígena. “Vocês estão vindo aqui falar sobre a exploração de petróleo no nosso mar. E eu quero saber como ficarão nossos peixes e nossos caranguejos em caso de um vazamento. A gente se preocupa com o nosso meio ambiente porque é nele que vivemos, é onde vivem nossas crianças”, disse.
A resposta evasiva que os representantes da BP deram a ele e a todos que perguntaram sobre um possível vazamento foi a mesma: “Não há risco de o óleo chegar na costa”. Muitos moradores do Oiapoque, no entanto, alegam que o mar traz, sim, detritos da região onde estão os blocos. E esse conhecimento vem de gerações. Falhas no Estudo de Impacto Ambiental como essa foram detalhadas em nossa publicação Amazônia em águas profundas.
A chance de um vazamento de petróleo preocupa principalmente a grande comunidade de pescadores nos dois estados. A professora de ecologia aquática e pesca da UFPA, Voyner Ravena, levantou um ponto importante: Não se sabe hoje como são os estoques de peixes na região onde a BP quer operar. “Se acontecer um vazamento ninguém vai ter como saber como era a região antes do acidente. Não existem dados sobre os peixes que vivem aqui”, disse.
Tanto em Macapá quanto em Oiapoque houve também quem questionasse a BP por querer buscar petróleo na costa do Amapá, mas usar Belém, no Pará, como base de operações. Nenhum emprego será gerado no Amapá. E serão poucos em Belém. O argumento da BP é que para essa fase inicial, o Amapá não tem estrutura suficiente para receber a empresa. Em Oiapoque, professores da rede municipal pediram várias vezes que a empresa, se quiser atuar na região, deve investir em educação ali.
Thiago Almeida, especialista em petróleo do Greenpeace Brasil, levantou o fato de que a BP insiste no plano de explorar petróleo na região, mesmo depois de sabermos que os blocos estão próximos aos Corais da Amazônia e em uma região onde vivem espécies de animais ameaçados de extinção e potenciais novas espécies, que ainda nem foram descobertas pela ciência. “Sabendo que a BP tem em seu currículo o pior derramamento de petróleo da história, e levando em conta o pouco conhecimento que temos sobre o bioma dos Corais da Amazônia, ainda assim a empresa acha que vale a pena seguir com esses planos? Isso sem mesmo saber o que existe lá? Se a gente não sabe o que existe lá e o tamanho da área, como podemos prever os impactos?”, questionou.
A resposta de Luís Pimenta, coordenador de respostas e emergência da BP, foi que a empresa aprendeu muito com o desastre no Golfo do México. Mas, para o Greenpeace, esse é o tipo de aprendizado que preferimos não arriscar a ter. “Em função do pouquíssimo conhecimento que se tem sobre o bioma e a região, quero pedir que seja adotado o princípio da precaução e que a BP fique longe da região e abandone seus planos”, disse Thiago.
Audiências públicas são bons termômetros para entendermos como a população está recebendo um projeto. E, de acordo com o que vimos em Belém, Oiapoque e Macapá, o povo não está convencido de que o petróleo na foz do Amazonas é um bom ou seguro negócio. Depois do povo dizer não, a Ciência dizer não, e mais de 1,3 milhão de pessoas dizerem não ao petróleo perto dos Corais da Amazônia, o que a BP está esperando para desistir de vez desses planos irresponsáveis?
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População questiona exploração de petróleo perto dos Corais da Amazônia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU