05 Outubro 2017
Muitos dos 155 sobreviventes não foram a Lampedusa este ano, ficaram na Escandinávia e na Alemanha, onde foram acolhidos no final de 2013.
"Não foram porque para eles continua a ser uma ferida aberta", comenta Alganesh Fessaha, presidente da ONG Gandhi, que nas primeiras horas após o naufrágio foi até a ilha e permaneceu por várias semanas ajudando os sobreviventes e confortando os parentes que chegavam de toda a Europa. Mantive contato com eles e com as famílias das 368 vítimas - 11 etíopes, os outros todos eritreias, e seus nomes foram registrados em uma lista compilada pelos sobreviventes – que não conseguem esquecer.
A reportagem é de Paolo Lambruschi, publicada por Avvenire, 04-10-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.
"Desde então ficamos repetindo nunca mais", acrescenta, "mas, enquanto isso, muitas mães vivem desesperadas porque não puderam chorar sobre o corpo do filho ou dar-lhe um enterro adequado. Após quatro anos, a promessa de devolver os corpos daqueles que se afogaram em Lampedusa ainda não foi cumprida. E a dor das famílias é infinita". Alguém pagou por isso. O Supremo Tribunal recentemente condenou a pena de 30 anos um dos traficantes que organizaram a travessia, amontoando as pessoas em poucos centímetros quadrados, o somali Elmi Mouhamud Muhidin, identificado pelos supérstites que o reconheceram como seu algoz na Líbia, no centro de Contrada Imbriacola, onde ele atracou contra vontade algumas semanas mais tarde. Permanece como fugitivo o principal organizador, indicado pelos sobreviventes como o supertraficante etíope Ermias Ghermay. Alganesh Fessaha apresenta algumas reflexões também sobre o presente. "Temos uma ideias de quantos morreram no mar, não há estimativas de quantos morreram no deserto e as vítimas dos traficantes nas prisões da Líbia. Se alguém sobrevive, pode contar quem morreu ao longo do caminho, se todo o grupo morre nunca ninguém saberá de nada. Penso que quatro anos depois do naufrágio, foi um erro confiar o controle das partidas para a Guarda Costeira da Líbia. Com esta solução, todos perdemos".
De acordo com dom Mussie Zerai, o sacerdote eritreu que, com a agência Habeshia, tem atendido há anos os pedidos de socorro dos refugiados e que orou em frente aos caixões enfileirados no posto montado no pequeno hangar do aeroporto da ilha onde retornou ontem. "Recordamos esses mortos, mas os massacres continuam. Quero ressaltar que não foi feito tudo o que deveria. Os líbios são milícias a pagamento, e o problema permanece. São necessários canais humanitários, é preciso parar as guerras e prevenir e enfrentar com ações direcionadas às situações de pobreza". Quanto à investigação aberta pelo Ministério Público em Trapani sobre a acusação de ter favorecido a imigração clandestina e cooperar com os traficantes, o padre explicou que tem falado com o promotor Morvillo e já esclareceu tudo: "Nenhuma ilegalidade. Devemos evitar essa campanha, até mesmo na imprensa, sobre fatos infundados não apenas sobre mim, mas também sobre as ONGs: se alguém fez algo de errado, irá assumir a responsabilidade, mas não se deve generalizar. Recebi insultos e ameaças. É preciso mudar de atitude".
Por fim, Save the Children, levou seus jovens até a ilha para refletir. "Não vamos esquecer - afirmou Valerio Neri, gerente geral - aqueles que ainda estão morrendo todos os dias atravessando o deserto, nos campos de detenção ou cruzando uma fronteira para alcançar o país de destino. Cada um desses mortos é um fracasso para a comunidade".
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A dor profunda das famílias e o horror na Líbia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU