23 Junho 2017
Ser apaixonado. Saber discernir. Ter a força de denunciar o mal "com nome e sobrenome”. Essas são as três características do bom padre que o Papa Francisco apontou na missa da manhã de 22 de junho de 2017, na Casa Santa Marta. O Pontífice - relata a Rádio Vaticano - também recuperou o pensamento-símbolo do padre Lorenzo Milani: da mesma forma que o pároco de Barbiana, precisamos cuidar dos outros, mas sem recorrer a "facilitismos ingênuos”.
A reportagem é de Domenico Agasso Jr., publicada por Vatican Insider, 22-06-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.
Na homilia, o Bispo de Roma fez uma ponderação sobre a Segunda Carta de Paulo aos Coríntios para refletir sobre a figura do sacerdote: "O Bom Pastor dá a vida pelas suas ovelhas". O Papa identificou em São Paulo, o emblema do "verdadeiro pastor", que não abandona suas ovelhas como "um mercenário".
A primeira qualidade deve ser a paixão pelo que faz: um sacerdote é chamado a ser ‘apaixonado’. Apaixonado ao ponto de dizer para a sua comunidade, para o seu povo: eu sinto por vocês uma espécie de ciúme divino.
A paixão do sacerdote torna-se quase loucura, ‘insensatez’ pelo seu povo. É aquela qualidade que chamamos de zelo apostólico: não é possível ser um verdadeiro pastor, sem esse fogo interior.
Depois, o bom pastor deve ser ‘um homem que sabe discernir’. Ele entende que na vida há ‘sedução’. O pai da mentira é um sedutor. O pastor, não. O pastor ama. Ama. Em vez disso, a serpente, o pai da mentira, o invejoso, é um sedutor, que tenta afastar da fidelidade, pois aquele ciúme divino de Paulo era para conduzir o seu povo para um único esposo, para manter o povo na fidelidade a seu esposo. De fato, na história da salvação, nas Escrituras, muitas vezes encontramos o afastamento de Deus, as infidelidades com o Senhor, a idolatria, como se fossem uma infidelidade matrimonial.
Resumindo, a primeira necessidade: ‘Que seja apaixonado, que tenha o zelo, que seja zeloso’; a segunda, ‘que saiba discernir: discernir onde há perigos, onde existem graças ... onde está o verdadeiro caminho’. Isto significa: que acompanha as ovelhas sempre, nos momentos bons e também nos momentos ruins e mesmo nos momentos da sedução, com paciência para leva-os para o redil. Depois, há o terceiro elemento: ‘A capacidade de denunciar’. Um apóstolo não pode ser um ingênuo: ‘Ah, é tudo maravilhoso, vamos em frente!, Está tudo bem... Vamos fazer uma festa, todo mundo ... tudo é possível...’. Porque há a fidelidade ao único esposo, a Jesus Cristo, a ser defendida. E ele sabe condenar: aquela concretude, o dizer ‘isso não’, como os pais dizem para a criança quando começa a engatinhar e tenta colocar os dedos na tomada elétrica: ‘Não, isso não! É perigoso! ’. Ao Papa vem à memória muitas vezes aquele tuca nen (em dialeto piemontês: ‘Não toque em nada’ ndr), que meus pais e avós me diziam naqueles momentos em que havia um perigo.
O bom padre ‘sabe denunciar, com nome e sobrenome’.
Nesse ponto, o Pontífice mencionou sua visita a Bozzolo e Barbiana, nas cidades "daqueles dois bons pastores italianos", padre Primo Mazzolari e padre Lorenzo Milani. Falando de Dom Milani, ele referiu-se ao seu "bordão": ‘I care’. Mas o que significa? Explicaram-me: com isso ele queria dizer ‘eu me importo’. Ensinava que as coisas tinham que ser levadas a sério, contra o padrão da moda daquela época que era ‘eu não me importo’, mas dito com outra linguagem, que não ouso repetir aqui. Assim, ele ensinava os meninos a seguir adiante. Tomem conta: tomem conta de suas vidas, e ‘isso não!’.
Os sacerdotes devem, portanto, saber denunciar aquilo que ‘vai contra a vida’. Muitas vezes, perdemos essa capacidade de condenar e queremos levar as ovelhas com um pouco daquele ‘facilitismo’ (no original italiano, ‘buonismo’) que não só é ingênuo, mas faz mal; é um ‘facilitismo’ dos compromissos, destinado a atrair a admiração ou o amor dos fieis deixando que as coisas corram por si só.
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"O bom padre sabe denunciar, com nome e sobrenome", segundo o Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU