11 Março 2017
Na última quarta-feira, foi realizada uma jornada de estudos para a assembleia dos bispos em Bensberg, Alemanha. O tema: a diminuição do número de padres na Alemanha. O teólogo Helmut Hoping, de Friburgo, tem uma proposta para a solução do problema.
A reportagem é de Jan Hendrik Stens, publicada por Domradio.de, 08-03-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
O senhor publicou recentemente, na revista Herder Korrespondenz, junto com o teólogo pastoral de Mainz, Philipp Müller, uma defesa da ordenação ao presbiterado de diáconos casados. O seu texto foi publicado expressamente em vista da assembleia dos bispos?
Não expressamente. Mas acolhemos uma proposta que tinha sido feita nos últimos tempos pelo cardeal Lehmann. Várias vezes, ele perguntou – recentemente em Friburgo – o que impediria que se ordenassem padres os diáconos casados. O fato de ter conseguido publicá-lo na edição de março da revista Herder Korrespondenz fez com que o texto ficasse à disposição da assembleia.
Vocês mesmos definem a sua proposta como “estruturalmente conservadora”. O que há, precisamente, de conservador na proposta de vocês?
Não propusemos que se eliminasse a obrigação do celibato, ou seja, a eliminação do vínculo entre presbiterado e celibato. Em vez disso, fizemo-nos a pergunta se não é possível, dentro de uma regulamentação, sob determinadas condições, ordenar alguns diáconos casados como padres. Na Alemanha, na Igreja Católica, se considerarmos os diversos ritos presentes, já temos um clero misto composto por diáconos casados e não casados, mas também por padres casados e não casados. Olhemos, por exemplo, para as Igrejas orientais ligadas a Roma.
São Igrejas que fazem parte da Igreja Católica, e nelas encontramos padres casados. Por isso, fazemos a pergunta sobre se não é possível que a Igreja Católica faça algo para combater a falta de padres, que é dramática, introduzindo a possibilidade de ter padres casados. O que não queremos – e que, em vez disso, é reivindicado pelo Comitê Central dos Leigos Católicos Alemães (Zentralkomitee der deutschen Katholiken, ZdK) – é que seja posto em discussão, no seu conjunto, o vínculo entre presbiterado e celibato.
O presidente do ZdK, Thomas Sternberg, e também alguns representantes da CDU pedem que alguns “viri probati” sejam ordenados padres, isto é, homens casados de comprovada seriedade, até mesmo não provenientes do diaconato permanente. Por que, para o senhor, é tão importante que os candidatos provenham do grupo dos diáconos permanentes?
De acordo com o direito vigente, na Igreja Católica, ninguém pode ser ordenado padre sem antes ter sido ordenado diácono. Se se quisesse acolher a proposta de alguns políticos da CDU e do ZdK, seria preciso, primeiro, eliminar o pressuposto do diaconato. Mas, para isso, não me parece que haja consenso. Observamos, também, que há um número crescente de representantes pastorais que são ordenados diáconos. E não dissemos que pessoas provenientes do grupo dos representantes pastorais podem ser ordenadas padres. Mas é necessário, precisamente, que, antes, eles sejam ordenados diáconos. Não faz sentido um período de diaconato de apenas algumas semanas. Então, faz-se a pergunta sobre se não deveriam estar empenhados como diáconos permanentes por um determinado período, antes de poderem apresentar a demanda de uma possível ordenação presbiteral. Temos um “Ordo” em três graus, e até agora o pressuposto para a ordenação presbiteral é a consagração diaconal – e isso também deveria valer para os homens casados.
O senhor acha que, graças à sua proposta, o cargo de diácono permanente pode ser reavaliado, se, para determinadas pessoas, torna-se novamente um grau de passagem?
Ele não se torna um grau de passagem. Apenas alguns determinados candidatos do grupo de diáconos permanentes são levados em consideração. De fato, já dissemos muito claramente que aqui não deve se tratar apenas de um “vir probatus”, mas também de um “vir theologicus”. Portanto, os candidatos que são levados em consideração devem responder aos mesmos requisitos que são exigidos dos padres que vivem como célibes. Isto é, uma maturidade humana, uma maturidade espiritual, mas também a necessária competência teológica e pastoral. Na nossa opinião, a competência teológica não pode derivar de um curso por correspondência de Würzburg. Já deve haver uma preparação teológica comparável a de um estudo universitário de teologia.
Portanto, não é qualquer um dos 3.000 diáconos permanentes que pode ser levado em consideração?
Exato! Temos um número bastante grande de diáconos permanentes. Além disso, é o grupo que mais cresce, porque o interesse por trabalhar em uma profissão de Igreja, depois de um estudo teológico, diminui drasticamente. E isso não diz respeito apenas aos candidatos ao presbiterado, mas também àqueles que estão interessados na profissão de representantes pastorais. Mas o grupo dos diáconos permanentes cresce. Eu não tenho agora dados estatísticos precisos, mas, com base na minha experiência, haveria algumas centenas de pessoas entre os diáconos permanentes que teriam os requisitos que indicamos.
Vejamos as coisas a partir de outro ponto de vista: embora haja menos missas, as igrejas não lotam mais. E em alguns lugares – como por exemplo em Colônia – não é raro ver mais padres no altar. Não se trata de uma diminuição dos fiéis aos quais o número dos padres se adequou?
É claro que temos uma dramática diminuição de fiéis. Mas a experiência é que, nos espaços pastorais muito extensos, às vezes temos muito poucos padres para recorrer. Não acredito que, agora, com estratégias de compensação, o problema vai ser resolvido, delegando cada vez mais encargos tipicamente presbiterais a não padres. Os padres só podem ser substituídos por padres para as suas tarefas específicas. É claro que, por ocasião da concelebrações, temos a impressão de ter padres em número suficiente. Mas isso diz respeito a ambientes específicos – especialmente as cidades –, mas, se considerarmos espaços pastorais mais extensos, como por exemplo as zonas rurais, com unidades pastorais que chegam até a dez paróquias, para a pastoral, seria mais profícuo ter mais padres à disposição – eventualmente também em tempo parcial.
O senhor é tanto diácono permanente quanto professor de teologia. Com a sua proposta, pretende se candidatar ao presbiterado, que passa pelo diaconato permanente?
Não, o artigo não é formulado “pro domo”. Em dezembro passado, eu completei 60 anos. Eu sei que também é preciso um período de discussão sobre os padres casados. E eu espero, mesmo agora, que esses discursos se intensifiquem na Conferência Episcopal Alemã. Há sinais de que os bispos estão começando a se dar conta da situação dramática. Mas, dada a minha idade, não acho que isso possa me envolver.
O cardeal Marx disse, no seu discurso de abertura, que os bispos pretendem, acima de tudo, lidar com a relação entre padres e leigos, para aliviar os padres. Em vez disso, o bispo auxiliar de Münster espera um diálogo não ideológico também sobre os padres casados. O senhor acha que a sua proposta, com o professor Müller, será levada em consideração na assembleia dos bispos?
Eu não sei se haverá discussões diretamente a partir dessa proposta. Mas a proposta que fizemos não é totalmente nova. O cardeal Lehmann, Joseph Ratzinger, Walter Kasper e outros já fizeram essa proposta. E é interessante que, recentemente, os diáconos casados foram fortemente trazidos à baila também pelo cardeal Lehmann. A coletiva de imprensa do cardeal Marx, na abertura da assembleia, não me convenceu, porque há muito tempo buscamos definir melhor a relação entre padres e leigos nas dioceses para aliviar a carga de trabalho dos padres. Trata-se, se me é permitido falar claramente, são estratégias de compensação.
Ora, eu acredito que a proposta do bispo auxiliar Geerlings realmente leva a falar do problema de maneira não ideológica. Porque o que me surpreende um pouco – mas agora eu falo só por mim, e não pelo meu colega Müller – é que os bispos se mostram muito flexíveis sobre a doutrina relativa ao matrimônio católico, até mesmo na sua resposta à Amoris laetitia. E, na doutrina relativa ao matrimônio, toca-se a lei divina. Em vez disso, em uma questão que não tem nada a ver com a lei divina – isto é, o vínculo entre celibato e presbiterado – os bispos agem de forma muito hesitante. Mas nem sequer se pede para eliminar a obrigação do celibato. Este também é um pedido que foi feito, isto é, tornar completamente livre a forma de vida também para os padres – tanto antes quanto depois da ordenação. Ao contrário, nós fazemos uma proposta que se move dentro da concepção católica do ministério e que se refere ao fato de que já temos, na Igreja Católica, um clero misto, com diáconos casados e padres casados.
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"Diáconos casados precisam ser ordenados padres". Entrevista com Helmut Hoping - Instituto Humanitas Unisinos - IHU