07 Março 2017
As aparições de Nossa Senhora em Medjugorje não são autênticas porque Nossa Senhora nunca apareceu ali. Essa avaliação seca e constrangedora para todo o empreendimento que se desenvolveu em torno das alegadas aparições de 1982 até hoje, não é de uma pessoa qualquer, mas do bispo de Mostar, a diocese onde se localiza a pequena aldeia de Medjiugorje.
A reportagem é de Carlo Di Cicco, publicada pelo sítio Tiscali, 02-03-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.
A intervenção do Bispo Ratko Peric, canonista emérito, causou certa surpresa mesmo no Vaticano. Não porque suas posições fossem desconhecidas, mas justamente porque elas foram reiteradas no site da diocese juntamente com a nomeação e, portanto, na véspera da chegada do enviado especial da Santa Sé encarregado pelo Papa de verificar, com plenos poderes, o andamento pastoral e a organização do acolhimento logístico e religioso dos peregrinos que chegam ininterruptamente no local das alegadas aparições. O mais espetacular dessas declarações - que, aliás, até o momento foram compartilhadas pela Congregação para a Doutrina da Fé, liderada antes por Ratzinger e agora pelo cardeal Gerard Muller -, é que alguém está deixando transparecer que a credibilidade das aparições poderá se tornar um novo campo de batalha para os adversários do Papa Francisco.
Não é coincidência que a decisão do Papa de enviar o Arcebispo Hoser de Varsóvia como enviado especial para a verificação pastoral das alegadas aparições, pode ser entendida como mais um passo de cautela antes de revelar oficialmente o seu pensamento, que todos agora entendem como palavra de equilíbrio capaz de consertar a brecha causada pelo caso entre católicos no mundo todo.
As declarações solenes do Bispo diocesano, que com toda a probabilidade foram certamente consideradas no relatório da última comissão presidida pelo Cardeal Ruini sobre as alegadas aparições, reproduzem na sua quase totalidade as de bispo Pavao Zanic, que dirigiu a diocese de Mostar no início das alegadas aparições. Foi ele que nomeou a primeira comissão diocesana para uma avaliação da veracidade das aparições. Mas poucos se lembram que, inicialmente, Zanic não desqualificou completamente as aparições. Suas duras críticas só aconteceram algum tempo depois.
A Comissão diocesana ampliada por 15 especialistas de várias disciplinas concluiu o trabalho três anos após a sua nomeação. Foi seguida em 1987 por uma comissão criada pela Conferência Episcopal da Iugoslávia [na época ainda existia a Iugoslávia]. A Comissão Nacional, ao contrário daquela diocesana, optou por uma posição de espera: até o momento não foi confirmado o caráter sobrenatural das aparições. Isso evidentemente permitiria uma posterior mudança de opinião. Até aquele momento, a decisão foi de que as aparições não eram verdadeiras e que, portanto, deveriam cessar as peregrinações. Também a Congregação para a Doutrina da Fé, já em 1985, pediu aos bispos italianos para desestimular a organização de peregrinações. Mas todas essas vozes qualificadas foram ignoradas.
O atual Bispo Peric de Mostar foi até 1992 bispo coadjutor de Mostar e no ano seguinte bispo ordinário na sucessão de Zanic. Por isso conhece perfeitamente a evolução da situação. No site da diocese, Peric escreve entre outras coisas que ele identificou com seu antecessor, "a não autenticidade das aparições, que até agora atingiram a cifra de 47.000. Essa Cúria sempre tentou informar a Santa Sé, especialmente os Sumos Pontífices São João Paulo II, Bento XVI e Francisco". Em sua opinião, "a figura feminina que teria aparecido em Medjugorje comporta-se de forma bastante diferente da verdadeira Nossa Senhora; desaparece após determinadas perguntas e depois retorna; obedece aos videntes e ao pároco que a fazem descer do monte até a igreja mesmo contra sua vontade. Não dá certeza de quanto tempo irá aparecer; permite que alguns presentes pisem o seu véu apoiado no chão, que toquem as suas vestes e o seu corpo. Essa não é a Nossa Senhora do Evangelho".
O bispo de Mostar talvez queira construir de antemão uma opinião fundamentada para influenciar o enviado do Papa, que poderia dar o sinal verde reportando-se aos primeiros dias das aparições, salvando seu valor espiritual e talvez criticando muito do que aconteceu depois? Certamente a expectativa de intervenção de Francisco torna-se realmente interessante e nos bastidores está sendo travado um embate extremamente complexo.
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A credibilidade das aparições poderia tornar-se um novo campo de batalha para os opositores do Pontífice - Instituto Humanitas Unisinos - IHU