30 Agosto 2016
Nesta tarde, será realizado o enterro do vice-ministro do Interior, Rodolfo Illanes, no Cemitério Geral, após três dias de velório. A autoridade foi assassinada na quinta-feira, na localidade de Panduro, distante a 186 km desta cidade. Hoje, também se completam os três dias de luto decretados pelo Governo nacional, para recordar a quem já foi nomeado “Herói Defensor dos Recursos Naturais”. Ontem, o presidente Evo Morales deixou entrever pretensões conspirativas como fundo deste conflito que mantém – ou mantinha – com os mineiros cooperativistas. “Outra vez o Governo nacional derrotou um Golpe de Estado. Disso estou convencido e os dirigentes (mineiros) sabem disso. Não sei se é um problema de Evo, no trato de investigar antecipadamente o que está ocorrendo. Mas, isso (o assassinato do vice-ministro) é algo preparado, algo planejado”, sustentou.
A reportagem é de Sebastián Ochoa, publicada por Página/12, 28-08-2016. A tradução é do Cepat.
Cinco dirigentes cooperativistas já foram presos pela morte de Illanes, que foi pisoteado até ficar com vários ossos quebrados e foi jogado do morro Pucara, enquanto continuava sendo golpeado. Por este conflito, também perderam a vida três mineiros, todos por balas de chumbo, durante confrontos com a Polícia nas estradas do Altiplano boliviano. Ainda se investiga quem executou os disparos.
“O que sinto? Que nesta mobilização da FENCOMIN (Federação Nacional de Cooperativas Mineiras) havia uma conspiração política e não havia uma reivindicação social para o setor. Podem ter muitos argumentos, mas, ontem, alguns dirigentes publicamente respaldaram as mobilizações da direita e um dirigente dizia que não lhes interessa o Governo, mas seu setor. Alguns cooperativistas se fazem passar por cooperativistas, quando são empresários mineiros”, disse, ontem, Morales. “Os recursos naturais são do povo boliviano. Por isso, declaro o irmão Illanes como Herói Defensor dos Recursos Naturais”, acrescentou.
O defensor do Povo, David Tezanos, esteve no bloqueio de Panduro quando Illanes estava sequestrado. Afirmou que, nesse local, viu policiais com armas de fogo. “Havia um movimento ferrenho realizado pelos cooperativistas e, então, os policiais estavam se portando de forma tranquila. Mas, alguns membros já haviam utilizado estas armas, o que fez com que a efervescência do tumulto fosse contra o vice-ministro”, disse à Rede Uno. “Isto poderia sair do controle. Era iminente que, entre 1.500 uniformizados, houvesse um que não merecesse ter o uniforme policial. Lamentavelmente, só iria levar ao padecimento de quem estava na qualidade de refém”, afirmou o Defensor do Povo.
Tezanos se encarregou de trazer a La Paz o corpo de Rubén Arapaya Pillco, de 26 anos, o terceiro mineiro assassinado. Na quarta-feira, em um bloqueio em Cochabamba, já haviam sido assassinados os mineiros Severino Ichota e Fermín Mamani Aspeti. O secretário executivo da Central Operária Boliviana (COB), Guido Mitma, pediu que além de apreender os envolvidos no assassinato de Illanes, também se investigue a morte dos três mineiros. “As responsabilidades devem cair com todo o peso naqueles que tenham incorrido nestes fatais atos, tanto sobre a Polícia e os ministérios correspondentes, como também sobre outros dirigentes que tenham incorrido no crime”, disse Mitma.
Os cooperativistas iniciaram seus protestos no dia 10 de agosto, em rejeição à promulgação da Lei 149. Exigiam que tivessem vigência os contratos de associação que assinarem com empresas privadas, que não sejam controlados pelos danos provocados ao meio ambiente, que lhes sejam concedidas novas áreas de exploração e que não se permita a sindicalização nestas cooperativas. Após o assassinato do vice-ministro, todos os piquetes desapareceram. Consultado sobre a condição do diálogo entre os mineiros autônomos e o Governo, o ministro do Trabalho, Gonzalo Trigoso, disse: “Não temos nada sobre o que falar”.
Até agora, há cinco pessoas presas: Carlos Mamani, Carlos Castro, Julián Pinto, Paulino Layma e Clemente Colque. São acusados pelos crimes de assassinato, lesões gravíssimas, organização criminosa e atentado contra membros de segurança do Estado, entre outros. “Ao Vice-ministro, levaram-no à região das antenas, entre dois morros. Nos dois morros, havia ao menos 1.200 mineiros. Desenvolver uma operação de resgate nessas condições... vocês podem imaginar o que teria significado em termos de baixas”, disse o ministro de Governo, Carlos Romero.
“Pelo que parece, foi espancado em todo o caminho”, informou, por sua vez, o promotor geral do Estado, Ramiro Guerrero. “Apresentava lesões em parte de seus joelhos, suas pernas, golpes nas costas, a omoplata estava fora de onde corresponde. Tinha fraturas nas costelas, golpes nos genitais, fratura no septo nasal. O golpe que acabou com sua vida foi um no crânio, provavelmente com um objeto pontiagudo, uma pedra ou um pau”, informou o promotor geral do Estado, Ramiro Guerrero.
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Bolívia. “Havia uma conspiração política”, diz Morales - Instituto Humanitas Unisinos - IHU