31 Dezembro 2018
"A Santa Mãe de Deus nos é também imagem e modelo de Igreja em ação e em contemplação do Mistério Inefável que nos vem pelo Natal. A Mãe do Deus encarnado admira-se porque nos trouxe o autor da vida e alegra-se porque dá à luz ao Messias esperado pelo povo. Nesse sentido, Maria brinda sempre com seu povo a chegada de um novo tempo todos os anos, brinda o ano civil de todos os povos e brinda a doação que faz de seu filho para a libertação da humanidade toda."
A reflexão é de Lina Boff, s.m.b., religiosa das Servas de Maria do Brasil – S.M.B., é doutora em teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-Rio (1994). Ela é professora emérita da PUC-Rio, pós-doutorada em pneumatologia de Lucas pela Pontifícia Universidade Gregoriana - Roma. Autora de vários artigos e livros, ela atua na PUC-Rio e junto ao Centro Loyola de Fé e Cultura.
Referências bíblicas
1ª Leitura: Nm 6,22-27
Salmo: Sl 66(67), 2-3.5.6.8 (R/. 2a)
2ª Leitura: Gl 4,4-7
Evangelho: Lc 2,16-21
A Solenidade da Santa Mãe de Deus no dia 1º de janeiro de cada ano foi instituída pelo papa Paulo VI em 1967 e é uma solenidade cristológica, porque diz respeito a Cristo, tendo como centro de referência Maria, a Mãe de Jesus, o Filho de Deus.
Não por acaso, a Antífona de entrada da Santa Missa deste dia proclama solenemente, que o Criador nasce da criatura. São palavras carregadas de significado cristológico e global para a espiritualidade mariana e a própria mariologia:
Virgem, Mãe de Deus, aquele que o universo não pode conter, se encerrou feito homem em teu seio.
A primeira leitura (Nm 6,22-27) desta solenidade apresenta um texto que aponta para a bênção de Javé sobre a colheita dos víveres que o povo de Israel festejava todos os anos. Mostra também sua face que ilumina o caminho a seguir para receber os frutos da Providência divina. Essa é a bênção que Javé pede a Moisés que o faça sobre seu povo:
Javé te abençoe e te guarde!
Javé faça resplandecer o seu rosto sobre ti e te seja suave e brando!
Javé mostre para ti a sua face e te dê a paz!
Porão assim o meu nome sobre os israelitas e eu os abençoarei.
Ressonâncias desta bênção encontramos no salmo de meditação (Sl 66(67)) que repete o nome Javé por mais vezes e aponta para o tempo messiânico que está próximo a chegar. A Sagrada Escritura nos ensina que este salmo era recitado por ocasião da festa que encerrava o tempo anual das colheitas. O povo quer aproximar de Javé os seus bens e se volta para Ele com esta prece:
A terra produziu o seu fruto: Deus o nosso Deus nos abençoa.
Que Deus nos abençoe e todos os confins da terra o temerão!
A fé do povo de Israel reconhece o favor divino manifestado na força da terra que deu as primícias dos trabalhos de semeadura nos campos e produziu o fruto dos trabalhos de todos. Por isso o povo se volta para o Senhor com uma prece de ação de graças:
Que os povos te deem graças, ó Deus,
Que todos os povos te deem graças!
A oração do dia desta solenidade suplica ao Pai que cada um de nós olhe para a Santa Mãe de Deus para aprendermos dela a receber o Cristo como pão da vida verdadeira e conservemos em nosso coração as suas palavras. Não basta comer o corpo e o sangue de Cristo. Este ato tem sua continuidade em guardar no coração as palavras daqu`Ele que se doa continuamente por todos: Jesus, o Cristo da fé que passou pela cruz. A Santa Mãe de Deus nos é exemplo disso tudo.
No Evangelho (Lc 2,16-21) vamos encontrar o primeiro Sinal histórico manifestado a todos os povos na narrativa de Lucas sobre o nascimento de Jesus em Belém: os pastores, avisados pelo Anjo de que havia nascido o Messias, o Salvador, o Senhor. Foram apressadamente em direção a Belém e encontraram Maria, José e o Menino deitado na manjedoura. Viram e contaram a todas as pessoas o que tinham visto e ouvido.
Nesse movimento que se alternava entre o falar, o comunicar e o contemplar ao mesmo tempo, Maria porém conservava na memória e amparava em seu íntimo cada gesto deste movimento provocado pela Boa Notícia. Não só conservava em sua memória amparada pela fé e pelo SIM, mas guardava tudo no seu coração, perscrutando a vontade do Senhor nas suas obras e em seu mistério de amor e reconciliação com a humanidade.
Maria se encontra na raiz desta experiência de seu povo representado pelos humildes pastores em movimento. É ela que por primeiro participa da atuação do Filho que traz a fartura de bens que o povo aguardava há tanto tempo, o Filho de Deus e o filho de Maria que hoje cultuamos e invocamos como a Santa Mãe de Deus.
Este Filho inaugura os novos tempos e traz para toda a humanidade a plenitude de sua graça e a fartura dos bens sejam eles espirituais que materiais, porque tudo nos ajuda na conquista dos bens da fé e da esperança que temos n`Ele.
É chegada a plenitude dos tempos, em que Deus envia seu Filho nascido de mulher. É a segunda leitura (Gl 4,4-7) desta solenidade que vem para nos elevar à condição de filhos e filhas de Deus. Por tantos feitos a Igreja nos leva a suplicar no salmo: Javé faça resplandecer o seu rosto sobre nós e nos seja suave e brando! Para que teus povos te celebrem por todo sempre!
O refrão deste salmo reflete a universalidade da fé do nosso povo, fé experimentada nas colheitas da subsistência de ter um emprego, de ser atendida quando a saúde física fraqueja, de poder dar aos filhos uma escola de onde possam sair dela com uma profissão e espaço para trabalhar e ganhar a vida honestamente, enfim, o povo quer uma vida de paz e na segurança de não ser assaltado a qualquer preço. O novo povo de Israel precisa de libertação. A ilustre Filha de Sião, que hoje a cultuamos e a celebramos como a Santa Mãe de Deus nos é companheira de estrada.
Nisso tudo a Santa Mãe de Deus nos é também imagem e modelo de Igreja em ação e em contemplação do Mistério Inefável que nos vem pelo Natal. A Mãe do Deus encarnado admira-se porque nos trouxe o autor da vida e alegra-se porque dá à luz ao Messias esperado pelo povo. Nesse sentido, Maria brinda sempre com seu povo a chegada de um novo tempo todos os anos, brinda o ano civil de todos os povos e brinda a doação que faz de seu filho para a libertação da humanidade toda.
E para concluir nossa reflexão orante supliquemos à Santa Mãe de Deus para que interceda por nós junto a seu filho Jesus a graça de podermos realizar a esperança que alimentamos por um novo tempo.
À vossa proteção recorremos Santa Mãe de Deus;
não desprezeis as nossas súplicas
em nossas necessidades,
mas livrai-nos sempre de todos os perigos,
ó Virgem gloriosa e bendita.
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Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus - Ano C - Instituto Humanitas Unisinos - IHU