Por: André | 08 Outubro 2014
“Pode haver mais amor cristão em uma união irregular do que em um casal casado pela Igreja”. O padre Adolfo Nicolás (na foto com o Papa), superior geral dos jesuítas, atravessa a pé a entrada vaticana do “Petriano” com uma pasta preta na mão. Pode-se ler o lema dos jesuítas escrito em árabe: “Para a maior glória de Deus”. O chamado “papa negro”, que dirige 18 mil religiosos de 112 países, acredita que “o Sínodo está completando o Concílio”.
Fonte: http://bit.ly/1s6B3C7 |
A entrevista é de Giacomo Galeazzi e publicada por Vatican Insider, 07-10-2014. A tradução é de André Langer.
Eis a entrevista.
A moral familiar será atualizada?
A discussão, livre e franca, está se dirigindo para uma mudança, para a adequação pastoral à realidade dos tempos de hoje. É um sinal histórico, porque nestes anos houve forças que trataram de fazer retroceder a Igreja em relação à grande estação conciliar.
E quanto à comunhão aos divorciados recasados?
Não se pode impedir que o Sínodo discuta a este respeito, como queriam alguns. Os bispos não foram convocados para insistir em ideias abstratas a golpes de doutrina, mas para buscar soluções para questões concretas. É muito significativo que o Papa e muitos padres sinodais fizeram referência, em suas intervenções, aos textos do Concílio. Também o cardeal Martini, até o final de seus dias, esperava que a Igreja que se manifestasse fosse essa Igreja que escuta.
Os “conservadores” dizem que a doutrina está em perigo...
Não é correto absolutizar. Por exemplo, o caso das uniões de fato. Não quer dizer que se existe um defeito, tudo esteja mal. Mais, há algo bom onde não se prejudica o próximo. Francisco insistiu sobre isso: “Todos somos pecadores”. É preciso alimentar a vida em todos os âmbitos. A nossa tarefa é aproximar as pessoas da graça, e não afastá-las com preceitos. Para nós, jesuítas, é uma prática cotidiana. A Inquisição sabe muito bem disso.
Como?
Nosso fundador, Santo Inácio de Loyola, foi submetido oito vezes ao exame da Inquisição depois de ter falado em escutar o Espírito. Naquela época, assim como agora, para nós conta mais o Espírito, porque vem de Deus, do que as regras e as normas, que, ao contrário, vêm dos homens. A moral familiar e sexual necessitam de doçura e fraternidade. Não se trata de dividir, mas de harmonizar. Não se pode evangelizar as pessoas a golpe de Evangelho. Só a decisão de se concentrar em Cristo nos salva de disputas estéreis, das controvérsias ideológicas abstratas. As lacunas e imperfeições não invalidam a integridade da evolução da família na sociedade das últimas décadas. Se há algo negativo, não significa necessariamente que tudo seja negativo.
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“Pode haver mais amor cristão em uma união irregular do que em um casal casado pela Igreja”. Entrevista com Adolfo Nicolás - Instituto Humanitas Unisinos - IHU