15 Setembro 2015
"De pouco valeram os físicos, desenvolvendo os conceitos de teoria do caos, ou os matemáticos, recorrendo à teoria dos jogos para mostrar a impossibilidade do ponto de equilíbrio geral dos preços", escreve Luis Nassif, jornalista, em artigo publicado por GGN, 13-09-2015.
Eis o artigo.
Na 5a feira passada, o Project Syndicate - um site norte-americanos de artigos econômicos - divulgou um artigo de Dani Rodrik, professor de economia política internacional na John F. Kennedy School of Government, de Harvard, contendo reavaliações críticas sobre a matematização da economia, ou dos "cabeças de planilha", como os batizei mais de dez anos atrás.
A partir do início da desregulação financeira, nos anos 70, a ciência econômica desenvolveu novas velhas teorias, tirando o baú temas de cem anos atrás para defender o livre fluxo de capitais. Foram criados novos instrumentos financeiros, novas formas de alavancagem e, com a telemática, um mercado global interligado.
A bonança proporcionada pela ascensão da China, e seu efeito deflacionário sobre a economia mundial, passou a sensação de que o mundo entrara em um novo normal, no qual as crises seriam contidas pela pronta ação dos Bancos Centrais integrados.
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Paralelamente, a microinformática democratizou as formas de processamento de dados e as planilhas passaram a dominar a cabeça dos economistas. É como se a matemática, com o concurso do processamento de grandes volumes de dados, tivesse encontrado a fórmula perfeita do equilíbrio.
De pouco valeram os físicos, desenvolvendo os conceitos de teoria do caos, ou os matemáticos, recorrendo à teoria dos jogos para mostrar a impossibilidade do ponto de equilíbrio geral dos preços.
Os produtos chineses ajudavam a administrar os preços mundiais e as divisas chinesas a financiar os déficits norte-americanos. Para qualquer analista menos dogmático era uma equação que não poderia se sustentar indefinidamente.
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Esse mundo esbarrou na crise de 2008, acabando com o mito de Alan Greenspan e com o mito do equilíbrio perfeito.
Em seu artigo Rodrik faz um pequeno apanhado da visão crítica dos grandes economistas norte-americanos em relação a esses tempos de esbórnia e de promiscuidade entre academia e mercado.
O professor de finanças Luigi Zingales, também da Universidade de Chicago, acusou seus colegas especialistas em finanças de terem levado a sociedade ao mau caminho ao exagerar os benefícios trazidos pelo mercado financeiro.
Paul Romer, um dos criadores da nova teoria do crescimento, acusou alguns nomes de destaque, incluindo o prêmio Nobel Robert Lucas, do que apelidou de "mathiness" ¬ o uso da matemática para confundir em vez de esclarecer.
No artigo, um roteiro relevante de racionalidade, nesses tempos em que a economia está dividida entre mercadistas e neokeynesianos radicais.
A questão não se trata de "chegar a um consenso sobre qual modelo é certo", mas descobrir qual modelo se aplica melhor em determinada situação. Fazer isso sempre continuará a ser uma arte, não uma ciência, em especial quando a escolha precisa ser feita em tempo real.
"O mundo social difere do mundo físico porque é feito pelo homem e, portanto, quase infinitamente maleável. Portanto, diferentemente das ciências naturais, o avanço científico das econômicas não se dá pela substituição de velhos modelos por melhores, mas pela expansão de sua biblioteca de modelos, com cada um esclarecendo uma contingência social diferente."