03 Agosto 2015
"Sob a liderança do Papa Francisco, a Igreja Católica está evoluindo em questões relativas à comunidade LGBT", escreve Christopher J. Hale, diretor executivo da ONG americana “Catholics in Alliance for the Common Good” e cofundador da revista digital Millennial, em artigo publicado pela revista Time, 28-07-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Eis o artigo.
Nos últimos dois anos, a Igreja Católica tornou-se mais aberta a acolher a comunidade LGBT.
“Se a pessoa é gay, procura a Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?” Dois anos atrás, numa terça-feira, o Papa Francisco proferia estas palavras, emitindo ondas de choque em toda a Igreja Católica e ao mundo. Esta sua posição marcaria um contraste com a postura de seus antecessores: meses antes, o Papa Bento XVI, por exemplo, sugeria que o casamento gay constituía uma ameaça à paz mundial.
Sob a liderança do Papa Francisco, a Igreja Católica está evoluindo em questões relativas à comunidade LGBT. Conforme fez notar o teólogo David Cloutier, este processo não é político – é espiritual. A Igreja está começando a discernir, mais profundamente, a medida plena da presença de Deus nos indivíduos LGBT's e, sim, nos casais também homoafetivos. Nesta evolução houve cinco momentos notáveis.
1.- O Papa Francisco diz que Deus não condena as pessoas LGBTs: 30 de setembro de 2013
Em entrevista à revista America, o papa revelou sua abordagem pastoral para com a comunidade LGBT:
“Certa vez, uma pessoa, de modo provocativo, me perguntou se eu aprovava a homossexualidade. Eu, então, respondi-lhe com outra pergunta: ‘Diga-me: quando Deus olha para uma pessoa gay, ele aprova a existência dessa pessoa com amor, ou a rejeita e condena?’ Sempre devemos considerar a pessoa. Aqui adentramos o mistério do ser humano”.
2.- O Papa Francisco sugere que a Igreja pode se abrir às uniões civis: 5 de março de 2014
Em entrevista à CNN, Francisco diz que a Igreja pode se abrir às uniões civis homoafetivas, opinião que ele já tinha expressado ainda quando era arcebispo de Buenos Aires. O papa reiterou o ensinamento da Igreja segundo o qual o “casamento (o matrimônio) se dá entre um homem e uma mulher”, mas argumentou que, nas uniões civis, “temos de olhar para os diferentes casos e avaliá-los em sua variedade”.
3.- O efeito Francisco toma dimensões mundiais: meados de 2014
O ano de 2014 foi um período durante o qual inúmeros prelados do alto escalão sinalizaram que a postura mais aberta do Papa Francisco havia penetrado em todo o mundo católico. Em maio, um bispo italiano disse que a Igreja deveria ouvir os argumentos a favor do casamento homoafetivo.
Algumas semanas depois, o cardeal brasileiro Cláudio Hummes diria que “não sabia” se Jesus se oporia ao casamento gay.
No início de setembro, em Nova York, o Cardeal Timothy Dolan aprovaria a decisão, tomada pela Comissão para os Desfiles do Dia de São Patrício, que permitia que um grupo gay marchasse no evento. (Vinte e um anos antes, um dos antecessores de Dolan, o Cardeal John O’Connor, dizia que permitir que um grupo gay marche junto aos demais seria uma ofensa ao Credo dos Apóstolos.)
4.- O relatório intermédio do Sínodo sobre a família reafirma “os dons e as qualidades” das pessoas LGBTs: outubro 2014
Em outubro de 2014, os bispos reunidos em Roma para o Sínodo sobre a família, convocado pelo Papa Francisco, emitiram um relatório que sugeria que a Igreja criasse um espaço mais inclusivo para os católicos LGBTs. No documento, disseram que a comunidade LGBT tem “dons e qualidades a oferecer à comunidade cristã”, e se perguntaram: “Somos capazes de acolher essas pessoas, garantindo a elas um espaço fraternal em nossas comunidades?” Ainda que tenha sido rejeitada na elaboração final do documento, esta linguagem provocou uma conversa sobre a possibilidade de a Igreja alterar formalmente a sua postura em relação à comunidade LGBT, quando os bispos novamente se reunião no próximo mês de outubro.
5.- O papa iniciou uma série de encontros e diálogos com pessoas LGBTs e ativistas: 2015
Nos primeiros meses deste ano, o Papa Francisco teve vários encontros com indivíduos e grupos LGBTs, incluindo um transexual espanhol que fora excluído da sua comunidade paroquial, e prisioneiros gays e transexuais em Nápoles. O Vaticano também deu um tratamento VIP a um grupo católico americano pró-LGBT que visitava Roma, e o papa se reuniu com um ativista paraguaio gay durante a sua recente viagem à América do Sul.
Em conjunto, estes eventos sinalizam uma Igreja mais aberta a acolher a comunidade LGBT e as realidades diversas da família moderna em comparação ao que era dois anos atrás. Após a decisão da Suprema Corte [americana] em apoio ao casamento homoafetivo no mês passado, Dom Blase Cupich – arcebispo de Chicago escolhido a dedo pelo Papa Francisco – disse que o respeito da Igreja para com as pessoas LGBTs “deve ser real, não retórico, e sempre refletir o compromisso da Igreja no acompanhamento de todas as pessoas”. Dois anos atrás uma linguagem assim teria sido rara. Hoje, ela é esperada. Graças A Deus.
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A declaração do Papa Francisco que mudou a Igreja em questões LGBTs - Instituto Humanitas Unisinos - IHU