29 Julho 2015
A viagem de Francisco aos EUA não tem a ver com política, mas seria ingênuo ignorar as implicações políticas de uma visita durante a qual se espera que ele aborde a sua recente carta encíclica sobre o cuidado da criação de Deus, a obrigação religiosa de defender a dignidade dos imigrantes, dos pobres e dos nascituros, e o escândalo moral da desigualdade social e de uma economia que mata.
A opinião é de Christopher J. Hale, diretor-executivo da associação Catholics in Alliance for the Common Good e cofundador do sítio Millennial. O artigo foi publicado na revista Time, 24-07-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Para ser eleito em 1960, John F. Kennedy, católico, foi forçado a dizer à nação que não aceitaria ordens do papa. Em 2016, esse tipo de separação não será necessária. Com um número recorde de católicos buscando a presidência e com a visita do extremamente popular Papa Francisco à nação nos próximos meses, muitos candidatos – católicos ou não – estão buscando maneiras de se unirem à missão e à visão desse pontífice argentino.
Os tempos mudaram. Com um vice-presidente católico, com seis juízes católicos da Suprema Corte, com um orador católico da Casa [a Câmara dos Deputados dos EUA] e um grande número de católicos no Congresso, a era de ouro do catolicismo na política estadunidense chegou.
Isso teria sido inimaginável há apenas algumas décadas atrás. Kennedy foi o primeiro presidente católico. O irlandês católico Al Smith provavelmente perdeu a campanha de 1928 por causa da sua religião.
Essa ascendência dos católicos à vanguarda da política estadunidense só foi acelerada pelo papado inovador de Francisco. A sua viagem de setembro aos EUA será um grande evento das eleições primárias presidenciais de 2016.
Os políticos e os candidatos provavelmente estão planejando como podem utilizar da melhor forma a primeira viagem do pontífice aos EUA para levar adiante as suas agendas. A viagem de Francisco não tem a ver com política, mas seria ingênuo ignorar as implicações políticas de uma visita durante a qual se espera que ele aborde a sua recente carta encíclica sobre o cuidado da criação de Deus, a obrigação religiosa de defender a dignidade dos imigrantes, dos pobres e dos nascituros, e o escândalo moral da desigualdade social e de uma economia que mata.
O clímax político da sua viagem será o seu discurso ao Congresso dos EUA no dia 24 de setembro. Se a sua recente viagem à Bolívia for uma indicação, é melhor que os 2.016 candidatos prestem atenção.
Desde o início do seu mandato, Francisco pediu que os políticos ao redor do mundo mudem o debate das questões políticas de disputa para as questões principais, que são fundamentais para o bem comum: "Rogo ao Senhor para que nos conceda mais políticos que tragam verdadeiramente no coração a sociedade, o povo, a vida dos pobres! É imperioso que os governantes e os poderes financeiros levantem o olhar e ampliam as suas perspectivas".
Essa será uma mensagem que vai empurrar os candidatos de todos os matizes políticos a desafiar as ideologias políticas dos seus partidos, que muitas vezes estão enraizadas no individualismo radical.
"O papa oferece uma mensagem que é inspiradora e desafiadora", diz John Gehring, diretor do programa católico do centro Faith in Public Life e autor de um novo livro sobre o Papa Francisco. "Ele está tornando novo de novo aquele que é um ensinamento religioso antigo sobre o bem comum em um momento em que a nossa política e a nossa cultura são moldadas por um libertarianismo à esquerda e à direita".
Se os dados das pesquisas divulgadas nos últimos dias, que mostram o apoio às mensagens do Papa Francisco, são alguma indicação, seguir o caminho de Francisco não é apenas um bilhete para o céu, mas talvez também para a Avenida Pennsylvania, 1.600 [endereço da Casa Branca].
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Papa Francisco: elemento-chave para as eleições presidenciais dos EUA - Instituto Humanitas Unisinos - IHU