Por outro lado, o número de idosos em desalento diminuiu. Essa redução pode estar relacionada a queda da renda das famílias, fazendo com que eles retornem ao mercado de trabalho para repor a parcela perdida durante a pandemia.
Desde 2012, quando a pesquisa sobre desalentados começou a ser realizada, as mulheres sempre foram a maioria na Região Metropolitana de Porto Alegre. Esta realidade, no primeiro ano da pandemia, ganhou números ainda maiores, já houve um crescimento de 170,1% em relação ao ano anterior. Enquanto isso, neste mesmo ano, o aumento foi de 75,8% para os homens.
O texto é do ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU.
O desalentado é uma categoria definida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, que encontra-se na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD. Para o IBGE, desalentados são aqueles que desistiram de procurar trabalho.
Na Região Metropolitana de Porto Alegre, houve um aumento de 123,1% no número de pessoas nessa situação de 2019 para 2020. Antes da pandemia, eram 19 mil pessoas desalentas na região. Com os dados mais recentes, do quarto trimestre de 2020, o número disparou para 42,2 mil pessoas desalentadas.
O professor de sociologia do trabalho, Cesar Sanson, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, indica que esse número seja ainda maior. Em artigo publicado na IHU On-line, “Uma sociedade de desalentados”, Sanson entende que a pesquisa pode esconder uma condição subjetiva que a torna ainda mais grave.
Revista IHU On-Line debate o avanço do processo de desestruturação do mercado de trabalho.
A hipótese para o alto número de desalento é de que ela realidade esteja associada ao fato do emprego com carteira assinada estar cada vez menor. Sendo assim, as pessoas desistem de procurar por saber de antemão que não encontraram e seguirão não encontrando o trabalho formal.
Em outras palavras, muitos deixaram de procurar um emprego formal porque consideram inatingível, e, por isso, assumem a informalidade trabalhando para terceiros e/ou por conta própria. É nessa situação que Cesar considera haver um desalento subnotificado, pois as pessoas aceitam o que encontram, desistindo do que desejam.
“Pode estar escondendo a condição daqueles que tornaram o que era para ser uma exceção uma regra, ou seja, já não acreditam mais que um dia terão um emprego formal, logo tornam a situação da informalidade como a normalidade”, finaliza o artigo.
Desde 2012, quando a PNAD começou a ser realizada, as mulheres foram a maioria das desalentadas na Região Metropolitana de Porto Alegre, representando 60,7% em 2020. No primeiro ano da pandemia, houve um crescimento de 170,1% em relação ao ano de 2019. Enquanto isso, para os homens, o aumento foi de 75,8% em um ano.
No caso das mulheres, é provável que o aumento acima da média esteja relacionado aos cuidados dos afazeres domésticos e familiares durante a pandemia. Em entrevista para IHU On-line, Luana Pinheiro, pesquisadora Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - Ipea aponta: “Alguns estudos mostraram o quanto o trabalho doméstico e de cuidados aumentou na pandemia tanto para homens, quanto para mulheres, mas, obviamente, muito mais para elas do que para eles. Assim, houve – e há – sobrecarga ainda maior das mulheres com o trabalho doméstico, uma vez que elas não puderam contar com o Estado, com o mercado ou com os homens para compartilhar o trabalho doméstico de suas famílias de forma igualitária.”
Por outro lado, o número de idosos em desalento diminuiu de 6 mil para 5,7 mil. Ainda assim, representavam 13,4% em 2020, sendo que em 2019 esse percentual era de 31,6%. Essa redução pode estar relacionada a queda da renda das famílias, fazendo com que eles retornem ao mercado de trabalho para repor a parcela perdida durante a pandemia.
O professor de sociologia do trabalho, Cesar Sanson, levantou algumas hipótese para o alto número de desalentos. pic.twitter.com/jOObrxSI4e
— IHU (@_ihu) March 29, 2021
A pandemia do novo coronavírus colaborou para uma perda média de 12,5% na renda dos trabalhadores na Região Metropolitana de Porto Alegre, sendo a quarta região com maior queda, quando comparada com outras regiões metropolitanas do Brasil. Ficou atrás somente de Maceió, Salvador e Recife. A perda da renda na metrópole de Porto Alegre é o dobro da média das demais regiões metropolitanas e do Brasil como um todo.
A capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, também se destaca, sendo a quarta que mais fechou postos de trabalho formais do país.#ObservaSinoshttps://t.co/XsW52rcSIb
— IHU (@_ihu) November 6, 2020
Em 2020, a queda da renda foi de 40,4% para os mais pobres, enquanto para os 10% mais ricos, a queda foi de apenas 10,6%. Comparativamente com as demais regiões metropolitanas do país, a metrópole de Porto Alegre foi uma onde os mais pobres foram os mais afetados. A queda ficou acima da média do Brasil, enquanto nas metrópoles da Região Sul foram de menos de 20%.
Grande parte desta população mais pobre que perdeu renda do trabalho recorreu ao Auxílio Emergencial. Ao analisar os dados da PNAD, percebe-se o enorme peso deste benefício para população. Embora a Região Metropolitana de Porto Alegre tenha um dos menores percentuais recebendo o Auxílio Emergencial, o benefício representa quase 40% da renda média total dos domicílios e corresponde para 24,4% dos domicílios metade ou mais da renda.
A taxa de pobreza era de 10,8% antes da pandemia na Região Metropolitana de Porto Alegre, percentual que se traduz em 406,8 mil pessoas. Se não fosse o Auxílio Emergencial de R$ 600 e R$ 1.200, a taxa de pobreza teria chegado a 18,8%. Isto em números absolutos representa que o benefício evitou que 337,8 mil entrassem na linha de pobreza, que totalizaria em 744,6 mil pessoas.
A renda do trabalho caiu 40,4% para os mais pobres, mas com o Auxílio Emergencial de R$ 600 e R$ 1.200, essa queda foi atenuada para apenas 9,6%.#ObservaSinoshttps://t.co/614hpJPx52
— IHU (@_ihu) December 22, 2020
Todos os dados apresentados acima fazem parte do estudo “Mundo do trabalho na Região Metropolitana de Porto Alegre” desenvolvido pelo Observatório do Vale do Rio dos Sinos e o Observatório Unilasalle: Trabalho, Gestão e Políticas Públicas. Como se trata de dados trimestrais com muitas variáveis, serão publicados textos com temas específicos do mundo do trabalho na página ao longo dos meses.