Por: Guilherme Tenher, João Conceição e Marilene Maia | 11 Novembro 2018
Uma movimentação observável no mercado de trabalho é a queda da contratação de jovens para o primeiro emprego a partir do início desta década. Para elucidar, em 2010 haviam sido empregados 6.787 jovens entre 18 e 24 anos, passando para 3.637 em 2017, isto é, uma variação negativa de 46,41%.
Desde a sua criação, o Observatório das realidades e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos - ObservaSinos tem como foco a investigação e ação do mundo do trabalho e dos trabalhadores. No mês de maio de 2018, quando completou dez anos de existência, o ObservaSinos preparou uma série de ações para memorar o seu trabalho de sistematização, análise e publicização de dados sobre as realidades do Vale do Sinos.
Uma destas ações é o Especial do Trabalho Vale do Sinos. A série histórica do ObservaSinos abordará seis grandes temas sobre o trabalho entre os anos de 2003 e 2016, período de grande movimentação e transição econômica, política e social no Brasil. Os dados analisados são dos 14 municípios do Conselho Regional de Desenvolvimento - Corede do Vale do Rio dos Sinos, região de atuação do Observatório.
Esta publicação especial também é uma extensão do Ciclo de Palestras: Trajetórias da Política Econômica Brasileira 2003-2017, que foi promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU.
Os temas abordados no Especial do Trabalho são:
• Geração e gênero;
• Escolaridade e renda;
• Ocupação e perfil dos estabelecimentos;
• Saúde e segurança do trabalhador;
• Pessoas com Deficiência;
• Cor, raça e etnia;
• Menor aprendiz no mercado;
• Primeiro emprego.
A quantidade de trabalhadores no primeiro emprego vem diminuindo no Vale do Sinos. Em 2010, ápice do crescimento econômico brasileiro registrado nos últimos anos, tinham sido criadas 16.405 vagas ocupadas por trabalhadores no primeiro emprego. A partir de então a quantidade só tem diminuído, o número de primeiro emprego em 2017, último ano com dados disponíveis, foi menor que o de 2003, início da série analisada.
A indústria de transformação diminui em 53,34% (de 4.962 para 2.315) a criação de primeiro emprego no setor entre 2003 e 2017. Por outro lado, no setor de serviços, comércio e construção civil houve aumento, embora todos tenham diminuído a partir de 2010. O aumento de primeiro emprego pode ser explicado pelo fato de que o número de estabelecimentos desses três setores está ligado ao crescimento econômico brasileiro entre os anos de 2006 e 2010. Os setores de comércio e serviços representavam 73,00% dos estabelecimentos em 2016, sendo que o primeiro aumentou em 37,08% o número de estabelecimentos entre 2003 e 2016 e o segundo, em 50,08% no mesmo período. A construção civil, apesar de ter aumentado em 131,35% o número de estabelecimentos, possuía uma participação de 5% no ano de 2016.
O Vale dos Sinos contratou formalmente 8.261 novos trabalhadores no ano passado, sendo 63 com idade entre 10 e 14 anos, 2.258 entre 15 e 17 anos, 3.637 entre 18 e 24 anos, 657 com 25 a 29 anos, 919 de 30 a 39, 452 entre 40 e 49 anos, 262 de 50 a 64 e 13 com 65 anos ou mais. O município de Canoas se destaca pelo maior número de admissões (2.283), seguido de Novo Hamburgo (1.376) e São Leopoldo (1.260).
Considerando a faixa temporal 2003-2017, observa-se que os anos de 2010 a 2013 registraram o maior número de contratações classificadas como primeiro emprego. Para elucidar tal afirmação, 2010 contabilizou 16.405 admissões, 2011 com 14.754 novos trabalhadores, 2012 com 12.912 e 2013 com 13.376 contratados. Em 2003, o primeiro ano da série analisada, foram contratados pela primeira vez 9.746 trabalhadores, divididos da seguinte forma: 25 trabalhadores de 10 a 14 anos, 2.101 entre 15 e 17 anos, 5.155 de 18 a 24, 969 de 25 a 29, 881 entre 30 e 39 anos, 464 de 40 a 49, 149 de 50 a 64 e apenas 2 com 65 anos ou mais.
Novo Hamburgo recebe destaque por ser o município que mais contratou jovens entre 10 e 14 anos em 2005, 2006, 2013, 2014, 2015 e 2017. Ele também registrou o maior número de admissões para a faixa etária de 18 a 24 anos, principalmente nos primeiros quatro anos analisados (2003, 2004, 2005 e 2006). A partir do ano de 2007, Canoas se torna, predominantemente, a cidade com maior número de admissões entre as faixas etárias analisadas. Por exemplo, no ano de 2010, que registrou o maior número de trabalhadores com primeiro emprego no Vale dos Sinos, o município de Canoas contratou 17 trabalhadores entre 10 e 14 anos, 652 com 15 a 17 anos, 1.695 com 18 a 24 anos, 755 entre 25 e 29 anos, 968 de 30 a 39 anos, 563 entre 40 e 49 anos, 313 com 50 a 64 anos e 18 com 65 anos ou mais, totalizando 4.981 admissões ou 30,36% do total de contratos subscritos na região naquele ano.
Historicamente, considerando o período de análise supramencionado, a faixa etária com mais registros de primeiro emprego é a de 18 a 24 anos, representando, em média, 45,03% do total deste tipo de admissão, seguida da faixa etária de 15 a 17 anos, representando, em média, 25,11%. Após uma queda no total de contratações de pessoas entre 18 e 24 anos com início em 2010, o número de admissões para esse corte foi muito próximo àquele que compreendem pessoas de 15 a 17 anos no ano de 2015, retomando seu crescimento no ano seguinte. Por outro lado, os trabalhadores que possuem 40 anos ou mais contabilizam, em média, 8,63% do total de contratados.
Uma movimentação observável é a queda da contratação de jovens para o primeiro emprego a partir do início desta década. Para elucidar, em 2010 haviam sido empregados 6.787 jovens entre 18 e 24 anos, passando para 3.637 em 2017, isto é, uma variação negativa de 46,41% (eram 3.036 em 2015, menor registro da série para este corte). Em adição, o ano de 2010 possuía 2.066 pessoas entre 25 e 29 anos. Em 2017, este número passou para 657 empegados, resultando numa queda de 68,19%. O estrato de pessoas de 15 a 17 anos, apesar do pico de crescimento em 2013 (4.109 admissões), contabilizou 2.258 jovens no ano passado (-45,05%).
O ano de 2017 registrou maior número de contratações para pessoas do sexo masculino. No total, o Vale do Sinos contabilizou 4.397 primeiras admissões para homens e 3.864 para mulheres. A cidade de Araricá, por outro lado, contratou 2,25 vezes mais mulheres do que homens (63 mulheres e 28 homens). Campo Bom também contratou mais pessoas do sexo feminino, registrando 468 primeiras admissões para mulheres e 279 para homens. Por fim, Ivoti segue esta mesma tendência e contabilizou no ano passado 60 contratadas e 51 contratados. Ademais, houve mais contratações do sexo feminino em Araricá também em 2003, 2013, 2014 e 2016 e para Campo Bom, esta afirmação é válida para os anos de 2003, 2008, 2009, 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015 e 2016. Cidades um pouco mais populosas, como Novo Hamburgo, São Leopoldo e Sapucaia do Sul só contrataram mais mulheres do que homens nos anos iniciais da série analisada (Novo Hamburgo em 2005 e 2006, São Leopoldo em 2006 e Sapucaia do Sul em 2003 e 2004).
No total das contratações para primeiro emprego, todo o período mostra que o Vale do Sinos contratou mais pessoas do sexo masculino do que do sexo feminino. O ano de 2010 recebe destaque pela maior diferença das admissões entre homens e mulheres, foram 9.123 contratados e 7.282 contratadas (1.841 contratos a mais para pessoas do sexo masculino).
No ano passado, 606 novos trabalhadores recebiam até meio salário mínimo, 2.444 entre 0,51 e 1 salário mínimo, 2.576 de 1,01 a 1,50, 1.409 de 1,51 a 2,00, 566 entre 2,01 e 3 salários mínimos, 237 entre 3,01 e 4 salários mínimos, 152 recebiam entre 5,01 e 7,00, 121 de 7,01 a 10,00, 24 de 10,01 a 15 salários mínimos, 5 trabalhadores recebiam de 15,01 a 20 salários e apenas 2 ganhavam mais de vinte salários mínimos. Novo Hamburgo se destaca por ser o município que remunerou mais trabalhadores na faixa de até meio salário mínimo (foram 109 empregados, sendo 105 para o segundo lugar, a cidade de São Leopoldo).
Dado o período 2003-2017, percebe-se que a maior parte das pessoas que entram no mercado de trabalho recebe de 1,01 a 1,50 salários mínimos. Apesar deste corte ficar em segundo lugar no ano de 2016, perdendo para os trabalhadores que ganham de meio até um salário mínimo, é observada uma retomada no ano passado.
O número de trabalhadores com corte salarial de até meio salário mínimo cresceu no período analisado. Eram 170 empregados em 2003 para 606 em 2017. Da mesma forma, o número de admitidos que recebem de 0,51 a 1,00 salário mínimo subiu de 644 em 2003 para 2.444 em 2017 (este registro era 3.159 em 2014, o maior do período). Por outro lado, em 2010, as pessoas que entraram no mercado recebendo entre 1,01 e 1,50 somavam 7.090. Já em 2017, esse número caiu para 2.576, isto é, uma variação negativa de 63,67%. Outros cortes salariais também apresentaram em 2017 patamares menores se comparados a 2003. Alguns exemplos: 1,51 a 2,00 salários mínimos (3.390 novos trabalhadores em 2003 para 1.409 em 2017), 2,01 a 3,00 salários mínimos (1.429 novos empregados em 2003 para 566 em 2017) e 3,01 a 4 salários mínimos (378 em 2003 para 237 em 2017).
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Primeiro emprego. Especial do Trabalho Vale do Sinos 2003-2017 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU