Por: Lucas Schardong | 01 Mai 2018
Ao longo de uma década, observatório expande as análises de dados sobre as diferentes realidades do Vale do Rio dos Sinos.
No Dia Internacional do Trabalhador, 1º de maio, o “Observa” celebra seu aniversário de observação da realidade e das políticas públicas (ou a falta delas) no Vale do Rio dos Sinos. O ObservaSinos, como é oficialmente chamado, é um dos programas que compõem o Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
A reportagem é de Lucas Schardong, publicada por Beta Redação, 30-04-2018.
Com a ideia inicial de ser um programa voltado para o mundo do trabalho, o Observatório hoje completa dez anos de atuação trazendo informações sobre as diferentes realidades de 34 municípios do Vale do Rio dos Sinos e da Região Metropolitana de Porto Alegre.
A Beta Redação preparou uma lista com todos os anos de vida do Observatório e fatos que marcaram essa trajetória. Também foi traçado um paralelo com eventos importantes que aconteceram no Brasil e no mundo. Confira:
No ano de grande crise financeira mundial, que se deu a partir da queda da bolsa de valores dos EUA, Dow Jones, a preocupação com a economia brasileira e seus impactos refletia nas ações do Instituto Humanitas Unisinos. Tendo o trabalho como uma de suas cinco grandes áreas de interesse, o IHU projetou durante o ano diversos eventos chamados Conversas sobre o Mundo do Trabalho e da vida dos Trabalhadores/as.
O mundo do trabalho foi o que motivou o surgimento do ObservaSinos (Foto: Fotos Públicas/Alan White)
Trabalhadores, políticos e pesquisadores dos 14 municípios do Vale do Rio dos Sinos se reuniram para apresentar dados com as temáticas: trabalho formal e informal, mulheres no mercado de trabalho, educação, pessoas com deficiência (PCDs), desenvolvimento regional, entre outros. A preocupação era como a crise econômica repercutiria no emprego da região.
Nessa época o Observatório ainda não havia sido criado e, conforme a coordenadora do ObservaSinos, Marilene Maia, foram os participantes que indicaram a necessidade de um espaço para aprender a utilizar as bases de dados. “Eles indicaram a importância do acesso e análise às bases de dados, em vista de melhor subsidiar a análise e intervenção nas realidades”, conta.
A saúde também é um dos eixos de pesquisa do ObservaSinos, que utiliza bases como o departamento de informática do SUS (DATASUS), por exemplo, para produzir as análises. O ano de 2009 foi marcado pela pandemia de gripe A (H1N1), que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), se tornou uma “emergência na saúde pública internacional”. Conforme dados do Ministério da Saúde da época, 78% dos casos de gripe no país foram decorrentes do H1N1 e 20% das mortes mundiais por conta da doença ocorreram no Brasil. Foram mais de 600 óbitos.
Após a demanda dos trabalhadores no ano anterior, o IHU promoveu o Fórum de formação dos indicadores do Vale do Sinos. O evento reuniu trabalhadores, gestores governamentais, lideranças e pesquisadores que debateram sobre as diferentes bases de dados públicas das esferas mundial, nacional e estadual.
Acesso a bases de dados fundamenta o trabalho do Observatório (Foto: Canvas/Lucas Schardong)
Ao final do ano e do fórum percebeu-se a importância de contar com um espaço para reunir e publicizar os dados dos municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre e do Vale do Rio dos Sinos. O IHU em conjunto com a Unisinos contribuíram para a viabilização deste espaço.
Finalmente o ObservaSinos toma a forma de observatório social. No início, ele não desenvolvia análises próprias, mas tinha uma parceria com a Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul (FEE), que desenvolvia suas notas a partir dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). A coordenadora do ObservaSinos, Marilene Maia, explica que essas análises eram feitas apenas no ObservaSinos. “Foi uma experiência inédita. Era o único lugar do Brasil onde se fazia este tipo de análise com um recorte local, relacionando com o estado gaúcho e o Vale do Sinos”, afirma.
Para realizar o trabalho são acessadas diferentes bases de dados públicas, pelas áreas de atuação: Ambiente, educação, mobilidade, moradia, população, proteção social, saúde, segurança e trabalho. A partir da sistematização e análise dos materiais encontrados é realizada a exposição dessas informações.
Atualmente na sétima edição o Seminário de Observatórios reúne trabalhos e pesquisas de acadêmicos e especialistas nos temas pautados durante os seminários. Diversos observatórios do Rio Grande do Sul e do Brasil já participaram do evento, que teve como primeiro tema as metodologias e impactos nas Políticas Públicas.
7ª edição do Seminário de Observatórios teve como tema “Pesquisas, instituições e sociedade nas tramas de crise” (Foto: Lucas Schardong/ Beta Redação)
Para Moisés Waismann, que acompanhou a construção do Observasinos desde os primeiros passos e coordena o Observatório Unilasalle Trabalho, Gestão e Políticas Públicas, “nos seminários foram aparecendo uma diversidade de Observatórios que tratavam de vários temas, várias regiões geográficas e com dados e tratamentos diversos”, diz.
Em 2011 também foi criada a Lei de Acesso à Informação, que seria aprovada em 2012. Conforme o site do Governo Federal, a lei criou mecanismos que possibilitam a qualquer pessoa, física ou jurídica, sem necessidade de apresentar motivo, o recebimento de informações públicas dos órgãos e entidades.
No ano que o Brasil sediou a Rio+20 e, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), o país respondeu por 11% dos homicídios no mundo. Logo, viu-se a necessidade de dialogar sobre questões fundamentais com políticos, pesquisadores e população em geral.
Para isto, o Observa criou a Mostra Virtual do ObservaSinos: De Olho no Vale. Com 16 banners físicos e virtuais, diferentes indicadores socioeconômicos dos 14 municípios do Vale do Sinos foram apresentados para a universidade, escolas e comunidades de várias cidades.
Inauguração da Mostra ocorreu na galeria cultural da Biblioteca Unisinos (Foto: Divulgação ObservaSinos)
Em 2013, protestos reuniram mais de 100 mil pessoas nas ruas do país, e os índices econômicos brasileiros davam os primeiros sinais de que sofreríamos com a onda que abateu a economia mundial em 2008.
A partir do 3º Seminário de Observatórios, os participantes entenderam que era necessário o fortalecimento das ferramentas de controle social. “Na interação dos acadêmicos, técnicos, pesquisadores e professores foi surgindo uma necessidade de mantermos o contato ao longo do ano, não somente uma vez por ano”, revela Moisés Waismann.
Com isso foi criada a Rede de Observatórios, que se reúne para combinar esforços na compreensão da realidade, assim como propor estudos e pesquisas juntos. Ao todo, 19 observatórios fazem parte.
Neste ano o ObservaSinos avançou o seu fluxo de trabalho com diferentes formas de análise e exposição dos dados. Um exemplo disso é o jogo Cida & Adão, criado por estagiários do Observatório que fomenta a alimentação saudável e a importância do consumo consciente. Ainda sem um espaço digital próprio, o ObservaSinos apresentava seus trabalhos em uma página do site do Instituto Humanitas Unisinos.
Jogo Cida & Adão foi desenvolvido para expor dados sobre consumo consciente e alimentação saudável (Arte: Divulgação ObservaSinos)
Com a ideia de se aprofundar ainda mais na realidade do Vale do Sinos, percebeu-se a importância de incluir a Região Metropolitana de Porto Alegre neste contexto de estudos. “Na discussão sobre a metrópole, viu-se, nos dados, que ela marcava a vida das pessoas do Vale do Sinos. Por isso começamos a contextualizar os dois em nossas análises”, conta Marilene Maia.
Área de atuação do ObservaSinos abrange os 34 municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre (Arte: Divulgação ObservaSinos)
Com o dado de que 17 trabalhadores sofrem acidentes no ambiente de trabalho na Região do Vale do Rio dos Sinos a cada 24 horas, o ObservaSinos deu início ao Ciclo de Estudos de Saúde e Segurança no Trabalho. A demanda foi trazida pelos próprios trabalhadores da região, que sentiam a necessidade de melhorar a segurança do trabalho e cobrar melhorias nas empresas em que trabalhavam. O Ciclo apresentou a importância da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) e ajudou os trabalhadores a construírem os mapas de saúde e segurança das suas empresas.
O evento também teve como objetivo dar protagonismo aos trabalhadores através do acesso à informação e incentivo a busca de seus direitos. Isso ocorreu no ano em que o Brasil viu o rompimento de barragem em Mariana, considerado o desastre industrial que causou o maior impacto ambiental da história brasileira.
Trabalhadores do Vale do Sinos relataram suas experiências no Ciclo de Estudos de Saúde e Segurança no Trabalho (Foto: Lucas Schardong/ Beta Redação)
No ano do impeachment da presidente Dilma, das Olímpiadas no Rio de Janeiro, eleições dos EUA ganhas por Donald Trump e a evolução digital tomando diferentes formas, o ObservaSinos ganhou uma cara nova.
O novo site foi lançado em 2016, melhorando o acesso às análises do Observatório e à exposição dos dados, para além das tabelas, tornando mais atrativo e acessível para o público em geral.
Desde 2009, o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, com consumo médio mensal de 5,2 quilos de veneno agrícola por habitante. Os dados coletados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) pelo ObservaSinos informam uma preocupante questão sobre a saúde da população.
Com isso, e para além do trabalho da análise de dados, o Observatório se propôs a encabeçar a EcoFeira Unisinos. A feira agroecológica é um espaço de venda e consumo de produtos orgânicos de produtores do Vale do Sinos. Ela foi desenvolvida em parceria com com a ASCAR/EMATER, Centro de Cidadania e Ação Social (CCIAS), Associação dos Docentes da Unisinos — Adunisinos, Coopersinos e diversos cursos de graduação e do Programa de Pós-graduação da Unisinos.
EcoFeira Unisinos fica localizada em frente ao IHU, no corredor central da Unisinos (Foto: ObservaSinos/Carolina Lima)
Além da comercialização de produtos, que ocorre semanalmente, a Ecofeira disponibiliza oficinas que são voltadas para as práticas da alimentação saudável, desenvolvimento sustentável e atividades culturais da mesma temática.
Ao longo dos dez anos de ObservaSinos, o mundo do trabalho sempre esteve como foco em seu objeto de análise. Para 2018, o Observatório dará início ao “Especial do Trabalho Vale do Sinos”, série histórica que avalia o sobre o mercado de trabalho da região entre os anos 2003 e 2016. Além dos trabalhos anuais, como eventos de formação e informação, Seminário de Observatórios e EcoFeira, o Observa criará um Glossário de Estatística, para facilitar na compreensão dos termos encontrados nas mais diversas análises.
Desde 2013 o ObservaSinos coleta anualmente os seus próprios dados (Arte: Freepik/Lucas Schardong)
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10 anos de ObservaSinos em 10 tópicos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU