Um ano após a maior enchente do RS, persiste o risco de Porto Alegre inundar novamente. Entrevista especial com Fernando Meirelles

Plano Rio Grande, de reconstrução do Estado, foca em ações midiáticas e patina em realizar um programa de prevenção efetivo frente aos eventos climáticos extremos

Enchente em Porto Alegre no dia 7 de maio de 2025 | Foto: Gustavo Mansur/ Palácio Piratini

Por: Baleia Comunicação | 06 Mai 2025

Na noite de 3 de maio de 2024 a reportagem do Instituto Humanitas Unisinos – IHU conversava com o professor e pesquisador Rodrigo Paiva, do Instituto de Pesquisas Hidrológicas – IPH da UFRGS, quando o Rio Guaíba rompia o, então, recorde histórico de cheia de 1941, chegando a 4,77 metros de altura em Porto Alegre. A inundação atingiria ainda o nível de 5,37 metros, semanas depois, que somada à situação do Estado do Rio Grande do Sul, tornar-se-ia o maior desastre ambiental que se tem registro na história do Brasil.

O fantasma do passado, porém, volta a assombrar o presente. No domingo, 4 de maio de 2025, o Centro de Monitoramento da Defesa Civil do RS atualizou o prognóstico meteorológico para os dias 7, 8 e 9 de maio, com a Alerta Laranja para chuva forte, com raios e temporais isolados com eventual queda de granizo e rajadas de vento na metade sul e oeste do Estado. Depois de conversar com a nossa reportagem na sexta-feira, 2 de maio, nesta segunda [5 de maio] o professor Fernando Meirelles compartilhou conosco os prognósticos dos modelos americano e europeu, que indicam a possibilidade de chover o acumulado de dois meses em quatro dias nessas localidades. O temporal previsto não causa surpresa para quem conhece esta região do país, mas o cenário, do ponto de vista da prevenção, não ter mudado significativamente um ano depois das enchentes é algo assustador.

“Em 2018 tínhamos 160 estações [pluviométricas e fluviométricas], em que algumas mediam chuvas e outras a chuva e o nível da água nos rios. Ao todo, 120 estações foram compradas pelo Estado e outras 40 doadas pela ANA. O número que estava funcionado na época das cheias era muito baixo, o que indica um abandono desse sistema contra inundações”, aponta Fernando Meirelles, professor e pesquisador do IPH em entrevista por e-mail ao Instituto Humanitas Unisinos - IHU. Só para se ter uma ideia da gravidade da situação, os recursos para implantação desse sistema foram da ordem dos R$ 7 milhões.

Quanto à reconstrução do Estado, há mais apelo midiático que avanço concreto. “A maior parte das notícias e dos valores anunciados [do Plano Rio Grande] se referem às fases de reparação de estruturas, como estradas, ou ações de forte impacto midiático, como o desassoreamento. No caso do desassoreamento, os efeitos dessas intervenções não foram estudados e, portanto, não devem ser executados, pois podem agravar os problemas em outros pontos da bacia ou não terem nenhum efeito prático em uma nova cheia”, pondera. “Na minha opinião, o problema é complexo e merece uma análise ampla e completa, preferindo ações de prevenção, normalmente muito mais efetivas do que as ações de recuperação e restauração. Alguns estudos mostram que a prevenção pode gerar efeitos superiores a 20 vezes o valor investido ou mais do que isso”, complementa.

Recentemente houve uma visita do governador Eduardo Leite e do prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, à Holanda, para conhecerem as alternativas do país europeu. Por outro lado, há pouca escuta aos pesquisadores do IPH, que, além da qualificação técnica, são conhecedores de nossa realidade local. Diante disso tudo, o que se sabe é que, 12 meses depois, não estamos imunes a um novo colapso do sistema de combate às cheias, embora estatisticamente não seja provável, este ano, uma chuva com tal volume.

“Ainda estamos vulneráveis e as ameaças, ampliadas pelas mudanças climáticas, persistem. Estamos na região do Brasil na qual são esperados mais eventos extremos, como estiagens e enxurradas. As soluções não são imediatas. A falta de implementação da Política Estadual de Gestão de Risco de Desastres, proposta em novembro de 2017 e até agora não apreciada pela Assembleia Legislativa, poderia ter aumentado a resistência e a resiliência e reduzido os danos, mas esse estudo não foi levado adiante”, frisa o entrevistado.

Fernando Meirelles (Foto: Arquivo pessoal)

Fernando Setembrino Cruz Meirelles é professor Adjunto da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com graduação em Agronomia (1985), mestrado (1999) e doutorado em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2009), com estágio na Universidade de Évora (2008). Tem experiência na área de Engenharia Agrícola, com ênfase em hidráulica, hidrologia, irrigação e drenagem. Foi Pró-Reitor de Extensão da UFRGS de 2001 a 2004, coordenador da Comissão Permanente de Avaliação da Extensão do Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Instituições Públicas de Ensino Superior Brasileiras (2002 a 2004) e coordenou a pesquisa de avaliação de impacto da extensão universitária para o MEC/SESu-FORPROEXT (2011 a 2014). Foi consultor da Organização dos Estados Americanos - AE 2950 Banco Mundial de 1992 a 1996. Consultor em diversos planos de bacia hidrográfica e de desenvolvimento, ex-Diretor do Departamento de Recursos Hídricos do Rio Grande do Sul entre 2015 e 2019, quando implantou o Sistema de Outorga de Recursos Hídricos - SIOUT e desenvolveu diversos planos de bacia com a participação dos comitês. Coordenou o projeto RegionsAdapt na temática Mudanças Climáticas e Recursos Hídricos, envolvendo mais de 20 estados e províncias em todo o mundo.

Confira a entrevista.

IHU – Um ano após a maior tragédia ambiental registrada no Brasil, apenas 25% do Plano Rio Grande foi realizado. À época havia um tom de urgência nas falas dos governantes. O que foi feito, de fato, até agora?

Fernando Meirelles – O que foi feito até agora é a parte de editais, de termos de referência, discussão sobre o que contratar e não contratar. Estamos ainda em uma fase de pouca execução concreta. Temos acompanhado algumas discussões do governo do Estado do RS, visto alguns esforços acontecer, mas sempre fica a questão da demora, ainda que existam demoras devido a processualidade legal. No caso dos termos de referência, há contestações de editais que são lançados e isso entra em uma fase de disputa do processo licitatório que não sabemos o que pode acontecer. O que vemos é uma fase de planejamento de compras, de planejamento de produtos, mas pouca coisa concreta, levando em conta a burocracia que nós temos.

IHU – O que explica que após um ano das inundações ainda exista falta de comportas, diques interrompidos e deficiências em casas de bombas, tal como apontou reportagem recente do jornal Zero Hora?

Fernando Meirelles – O sistema de casa de bombas foi projeto para não ter água dentro da cidade. Essas casas de bombas nunca foram projetadas para tirar água de inundação, mas para extrair água de alagamento da chuva. O projetista da casa de bombas as presumiu e definiu estruturalmente, considerando que o Guaíba estivesse cheio, que a água da cheia não entraria na cidade, de modo que esse sistema serviria para retirar a água da cidade de uma chuva que pudesse acontecer ao mesmo tempo de uma cheia. A casa de bombas, repito, foi projetada para tirar água da chuva, não água do rio.

O problema, então, foi que essas casas de bombas têm uma ligação direta com o Guaíba, porque quando o rio não está cheio as águas das chuvas vão diretamente para o leito do rio por passagens que funcionam por gravidade, mas que na cheia há válvulas que deveriam ter funcionado para impedir a entrada da água na cidade. Elas, porém, não funcionaram.

Do nosso ponto de vista, não tem muita lógica colocar geradores para fazer as casas de bomba funcionarem fora da cota de inundação porque a “solução” não é a lógica. A lógica é fechar as comportas, os diques estarem na altura correta e as casas de bomba funcionarem apenas para tirar a água da chuva. Isso é uma coisa que nos intriga, sobre o porquê estão colocando tanto esforço nas casas de bombas – com a colocação de geradores – se o problema não é bem esse, mas outro. O sistema de diques, comportas e muros são equipamentos cujas manutenções são mais fáceis de fazer, mas tem que evitar que a água entre pelas casas de bombas.

Algumas decisões foram tomadas, de fechar comportas com concreto em alguns locais onde foram projetadas como comportas, mas era dentro de uma ideia de urbanismo da época de suas construções. A cidade teve um crescimento diferente.

Do ponto de vista atual, temos uma situação crítica, na [Avenida] Castelo Branco, em que a comporta foi substituída por um portão, ou seja, um equipamento totalmente inadequado e foi essa barreira que rompeu na entrada de Porto Alegre. Nesse ponto é preciso fazer uma revitalização de toda a estrutura prevista. Outra coisa é recuperar o sistema de vedação das comportas, pois se viu que a água começou a entrar entre a comporta e o muro, pois existiam peças importantes do sistema que não foram recompostas. Além disso tem o dique que foi construído na Zona Norte da capital de maneira completa ou com uma diminuição da cota de diques, que deveria estar com 7 metros de altura e estava com 4 metros, de modo que ficou faltando três metros de aterro ou, talvez, tenham sido danificados. Faltou fiscalização, pois o sistema tem mais de 50 anos e houve ocupação irregular na região, sem controle da prefeitura. Trata-se de um sistema de segurança e as pessoas não devem ocupar esses espaços.

Temos outros dois problemas que não foram devidamente divulgados. Um deles é a alça da [Avenida] Assis Brasil, uma obra posterior, no acesso à Cachoeirinha, pois ela foi construída abaixo da cota da inundação e sempre vai entrar água por ali. O outro ponto é a Avenida Ernesto Neugebauer, que também não está protegida e foi construída abaixo da cota. Há ainda a Usina do Gasômetro, que tinha um pedaço do muro que passava dentro da Usina e quando ela virou centro cultural foi desmanchado o muro interno. É um prédio que é tombado pelo Patrimônio Histórico, então vai ter que se achar alguma solução, pois não pode fazer alterações arquitetônicas.

IHU - Na época da enchente, em uma reportagem à Agência Pública, o senhor declarou que das 160 estações pluviométricas e fluviométricas da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), somente 60 estavam disponíveis no portal da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). Destas, apenas 12 estavam transmitindo os dados de maneira adequada. Qual a realidade hoje?

Fernando Meirelles – Eu fui responsável pela implantação destas estações. Em 2018 tínhamos 160 estações, em que algumas mediam chuvas e outras a chuva e o nível da água nos rios. Ao todo, 120 estações foram compradas pelo Estado e outras 40 doadas pela ANA. O número que estava funcionado na época das cheias era muito baixo, o que indica um abandono desse sistema contra inundações.

Isso é algo inexplicável, ninguém prestou contas do porquê aconteceu isso, mas percebemos, quando em 2023 deu a primeira cheia, na época na Bacia do Rio dos Sinos e em Maquiné. Nessa região eu havia instalado três estações, mas quando fui pegar os dados elas estavam todas fora do ar e pararam de funcionar no mesmo dia. Isso não foi coincidência, certamente é falta de pagamento da telefonia, porque são estações que funcionam com cartão de celular, que tem que renovar o pagamento. Com isso percebemos que as estações estavam falhando e vimos que nem 10% estava funcionando. Mas foi um sistema que foi pago com recurso do Banco Mundial, algo na ordem de R$ 7 milhões, mas que deixou de funcionar. Não sei qual é a explicação pra isso.

IHU – Entre as críticas principais ao Plano Rio Grande e sua execução está a falta de transparência, ausência de participação popular efetiva e a falta de foco na prevenção. Como este projeto se caracteriza e por que há tão pouca escuta?

Fernando Meirelles – O plano Rio Grande está sendo executado com uma gestão em níveis. No nível político há um conselho gestor, formado pelo governador e por secretários de estado. Depois há um conselho onde há representações diversas. Ali estão diversas entidades ligadas aos movimentos sociais, como Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST, Central Única das Favelas - CUFA, Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul - FETAG, povos indígenas etc. Por esse lado, há a possibilidade de manifestação, mesmo sendo um conselho consultivo.

A questão, no entanto, é não publicizar a lógica da reconstrução. A maior parte das notícias e dos valores anunciados se referem às fases de reparação de estruturas, como estradas, ou ações de forte impacto midiático, como o desassoreamento. No caso do desassoreamento, os efeitos dessas intervenções não foram estudados e, portanto, não devem ser executados, pois podem agravar os problemas em outros pontos da bacia ou não terem nenhum efeito prático em uma nova cheia.

Na minha opinião, o problema é complexo e merece uma análise ampla e completa, preferindo ações de prevenção, normalmente muito mais efetivas do que as ações de recuperação e restauração. Alguns estudos mostram que a prevenção pode gerar efeitos superiores a 20 vezes o valor investido ou mais do que isso.

Quanto à escuta, a execução da Política Estadual de Gestão de Risco de Desastres, realizada entre 2015 e 2017, mostra que há ambiente e protagonismo da sociedade gaúcha quando convidada a participar. Não convidar é uma opção.

IHU – O que explica a viagem do governador do RS, Eduardo Leite, e do prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, aos Países Baixos, recentemente, para ouvir especialistas internacionais e, ao mesmo tempo, não dar ouvidos ao Instituto de Pesquisas Hidráulicas – IPH da UFRGS?

Fernando Meirelles – Tivemos uma reunião com o governador em junho de 2024. Falamos e ouvimos, entregamos uma nota técnica em mãos, sugerimos e discutimos sobre possíveis encaminhamentos. Desde então, não fomos mais chamados. Participamos não de forma institucional, mas pessoal, como consultores ad hoc e de forma voluntária sobre algumas demandas.
Com a prefeitura não tivemos uma participação mais efetiva enquanto instituição.

Ouvir ou não o IPH e buscar apoio em instituições holandesas é uma opção válida, está dentro da autonomia administrativa dos governos estadual e municipal.

O IPH entende o seu papel institucional e continuará cumprindo a sua missão, independentemente dos governos do momento, legitimamente eleitos.

Sobre o ganho que terão com os excelentes técnicos holandeses, não se observa até o momento nenhuma vantagem. Sobre o domínio de tecnologia, sobre hidrologia e conhecimento das bacias e dos regimes de chuvas, o IPH está em um patamar igual ou superior aos holandeses.

IHU – Quais ações em relação ao monitoramento de chuvas foram efetivadas pelo poder público até agora no RS? A que tipo de riscos estamos expostos?

Fernando Meirelles – Por enquanto, nenhuma ação efetiva em relação ao monitoramento. Houve a tentativa de aquisição de radares, mas já tem uma forte contestação sobre o edital. Há uma proposta de 130 estações, o que é menos do que as 160 implantadas entre 2016 e 2018. Houve a licitação para contratação de um novo serviço de monitoramento hidrológico, algo que já existe desde 2016 e que permitiu o alerta dado em 29 de abril de 2024 pelo próprio governador. Só que os modelos disponíveis erraram o volume de chuva entre três e cinco vezes. Não sabemos o quanto choveu em boa parte da bacia, as estações que existiam não estavam funcionando.

O risco é uma combinação de ameaça com vulnerabilidade. Ainda estamos vulneráveis e as ameaças, ampliadas pelas mudanças climáticas, persistem. Estamos na região do Brasil na qual são esperados mais eventos extremos, como estiagens e enxurradas. As soluções não são imediatas. A falta de implementação da Política Estadual de Gestão de Risco de Desastres, proposta em novembro de 2017 e até agora não apreciada pela Assembleia Legislativa, poderia ter aumentado a resistência e a resiliência e reduzido os danos, mas esse estudo não foi levado adiante.

IHU – Após toda a repercussão negativa em relação a postura dos governantes locais na gestão dos mecanismos públicos de ações de prevenção e combate às enchentes, cujos riscos haviam sido alertados por pesquisadores da área, qual é, hoje, a relação do poder público com o IPH?

Fernando Meirelles – Não temos uma relação formal implantada. Fomos chamados no momento da crise. Há uma perspectiva de uma nova ação com a SEMA, para trabalhar com o Departamento de Recursos Hídricos e Saneamento - DRHS. Mas nada em execução no momento.

IHU – Qual tem sido o papel do governo federal diante do cenário gaúcho um ano depois?

Fernando Meirelles – O arranjo institucional brasileiro não é simples. Há a competência concorrente na gestão de Desastres. Então, cada ente pode tomar a sua decisão. O governo federal agiu na resposta ao desastre com o sistema nacional de Defesa Civil. Quanto às ações de prevenção ou mitigação, não se observa nenhuma ação destacável. Ainda não voltamos a ter informações hidrológicas com a mesma densidade anterior ao evento. Entendo que o governo federal deixou a gestão da recuperação para o governo estadual.

IHU – O que os indicadores relacionados à previsão de precipitação média de chuvas indicam para o Rio Grande do Sul para o médio prazo? Qual a confiabilidade desses estudos?

Fernando Meirelles – Os modelos climáticos mais utilizados, conhecidos como modelo americano e modelo europeu, acertaram na ocorrência das chuvas, mas erraram ou divergiram na localização e na magnitude. Para melhorar essa compreensão, podemos seguir com os modelos e ajustar os resultados de curto prazo com os valores observados em uma rede de monitoramento recuperada e melhorar ainda mais com o sistema de radares proposto. A precisão de previsões de médio e longo prazo dependerá de um melhor ajuste desses modelos, mas que não tem esse compromisso com o Brasil.

IHU – Faço a pergunta de todos os gaúchos após a inundação de 2024: em caso de nova chuva nas mesmas proporções, teremos inundação semelhantes nas cidades? E, em caso de nova precipitação intensa, Porto Alegre deve inundar novamente?

Fernando Meirelles – Uma chuva igual trará resultados semelhantes. Agora, a chance de acontecer uma chuva como essa é pequena. Chuvas como a de 2015, que elevaram o Jacuí e levaram água até a avenida Mauá, agora tem uma probabilidade maior de ocorrer. Na medida em que os eventos extremos vão acontecendo com maior frequência, estatisticamente as chances de ocorrerem eventos parecidos aumentam. Tivemos eventos importantes em 1941, 1967, 2015, 2023 duas vezes e 2024. Cada um deles alterou a nossa percepção da ameaça de inundação. No século XX foram dois eventos, em 25 anos do século XXI já são quatro. Então, sim, a ameaça de novas inundações existe e foi ampliada, não pelo assoreamento do Guaíba ou pelos molhes da barra de Rio Grande, mas por precipitações muito intensas e de duração de dias nas bacias do Jacuí, do Pardo e do Taquari.

Porto Alegre inundaria se ocorresse agora, pois as medidas corretivas não foram concluídas.

No caso de chuvas intensas sobre Porto Alegre, a prefeitura anunciou que já limpou grande parte da rede do esgoto pluvial. Se assim foi, a cidade não deve ter alagamentos importantes ou duradouros para chuvas coerentes com o projeto da rede.

IHU – Deseja acrescentar algo?

Fernando Meirelles – Temos que aprender e ensinar sobre desastres. Desde o ensino fundamental. O Marco de Sendai, o Marco de Hiogo e a Agenda 2030 com seus Objetivos do Desenvolvimento Sustentável deveriam ser matéria obrigatória e de conhecimento de todos. Os cenários de mudanças climáticas não são favoráveis, as condições devem piorar até 2070, mesmo que as ações iniciem agora. É tempo de desenvolver capacidade de resiliência e resistência. Esse deve ser um compromisso de todos.

Alerta de chuva expressiva

Os modelos europeu e americano estão divergindo onde será pior, mas os dois estão indicando muita água para os próximos dias no Rio Grande do Sul (vide as imagens de satélite a seguir). 

imagem enviada pelo entrevistado

imagem enviada pelo entrevistado

O volume acumulado de cinco dias, começando a chover aqui na quarta [7 de maio de 2025] sem pânico, por enquanto, pois trata-se de uma chuva típica de inverno. 

Os valores máximos do gráfico indicam 211 ou 292 mm. Ou no Uruguai ou próximo à Uruguaiana. Veja que a informação é essa, uma chuva expressiva, mas onde? Ainda não temos uma convergência entre os modelos sobre a área com uma precisão de poucos quilômetros.

Pegando um exemplo. A média de chuva em Uruguaiana é de 162mm em abril e 118mm em maio. Se chover 292mm em Uruguaiana em cinco dias, será mais do que a média de abril e maio somadas. Uma chuva de 280 mm (162+118=280) seria a média para 60 dias.

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