05 Mai 2007
Rubens Ricupero conversou com a IHU On-Line, por telefone, sobre a situação da política econômica do País. Para Ricupero, o Brasil está “atravessando um período de grave desindustrialização”. Segundo ele, o País vive um “suave fracasso” pois “uma economia que não consegue resolver o problema do emprego, da melhoria da renda para todos os setores da população, sem dúvida nenhuma, só pode merecer a qualificação de um fracasso”.
Ricupero, atualmente, é diretor da Faculdade de Economia da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e do Instituto Fernand Braudel de São Paulo. Foi secretário geral da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) e ministro da Fazenda no governo Itamar Franco.
Diplomata de carreira desde 1961, exerceu, dentre outras, as funções de assessor internacional do presidente Tancredo Neves (1984/1985), de assessor especial do presidente da república José Sarney (1985/1987), de representante permanente do Brasil junto aos órgãos da ONU sediados em Genebra (1987-1991) e de embaixador nos Estados Unidos (1991-1993).
Rubens Ricupero concedeu uma entrevista à IHU On-Line publicada na 103ª edição, de 31 de maio de 2004, por ocasião de sua vinda à Unisinos, quando participou do Simpósio O Lugar da Teologia na Universidade do Século XXI, promovido pelo IHU.
IHU On-Line - Como o senhor caracteriza o capitalismo brasileiro no cenário internacional? Temos um padrão de desenvolvimento capitalista próprio, ou sempre estamos correndo atrás dos outros?
Rubens Ricupero - Eu caracterizo o capitalismo brasileiro da mesma forma que o fez magistralmente o professor Celso Furtado: é uma construção interrompida. Nós estávamos em processo de industrialização com base na integração do mercado interno, mas infelizmente esse processo sofreu uma interrupção que já dura praticamente pouco mais de duas décadas, desde a grande crise dos anos 1970 e até hoje não fomos capazes de reatar com essa proposta. Tivemos melhorias em alguns setores, sobretudo em relação ao perigo de uma hiperinflação, mas nunca fomos capazes de recobrar a capacidade de investir que tivemos no passado. Continuamos com taxas de investimentos muito baixas. Estamos, hoje, passando por uma fase de aguda desindustrialização e, nesse panorama da globalização, não conseguimos, ao contrário da China e dos asiáticos, evoluir para um modelo que tirasse proveito do melhor desse processo internacional. Nós temos tirado proveito apenas do que é menos interessante, que é a demanda por produtos primários, pelas commodities. Assim estamos cada vez mais dependentes de produtos baseados em recursos naturais, que são, por definição, muito vulneráveis às oscilações da economia mundial. Portanto, esse é o meu juízo: uma construção interrompida em que a formação de empresas brasileiras, sobretudo, as que seriam mais saudáveis, pequenas e médias empresas, com a geração de capacidade empresarial própria, têm sido muito sacrificadas. Além disso, o fenômeno da globalização tem se dado, de um lado, através da exportação de commodities e, em boa parte, em mãos de grandes empresas de comercialização transnacionais, e de outro lado tem havido um grande ingresso de capitais estrangeiros, mas não para expandir a produção.
IHU On-Line - Atualmente, no Brasil, estamos vivendo uma crise industrial ou o que está acontecendo é um processo de reestruturação da indústria brasileira? Como o senhor avalia essa situação?
Rubens Ricupero – Vivemos uma crise de desindustrialização. Mas é preciso definir o que se entende por desindustrialização. Os economistas sabem que há um tipo de desindustrialização que é positiva: é aquela que ocorre em países maduros, como a Inglaterra e Suécia. Isso ocorre somente naqueles países que atingem um nível de renda per capita muito alta, a partir do qual a participação da indústria na produção e no emprego declina em termos relativos comparados aos setores de serviços que se tornam muito sólidos por causa da renda da população. Isso é a desindustrialização positiva. O que acontece entre nós, e em boa parte da América Latina, é um fenômeno mórbido, um desvio doentio desse padrão, que é a chamada desindustrialização precoce ou prematura, que ocorre quando o peso da indústria no emprego e na produção começa a cair quando a renda per capita é muito inferior à que existia nos países escandinavos, nos Estados Unidos, no Canadá ou na Inglaterra, quando esse fenômeno ocorreu. Muitas vezes esse fenômeno, na América Latina, ocorre quando a renda per capita é apenas um terço ou menos do que nos países industrializados. Com isso acontece o seguinte: a indústria se contrai, tem menos capacidade de gerar empregos. Mas o setor de serviços não tem ainda vigor para ocupar o espaço deixado vago pela indústria, uma vez que a renda baixa da população não permite que ela consuma serviços. Esse é o caso do Brasil, em que a imensa maioria da população muitas vezes não tem dinheiro nem para pagar um ônibus para ir para o trabalho.
Uma desindustrialização absoluta e relativa
O que está ocorrendo entre nós é a desindustrialização precoce. E aí também é importante fazer uma outra distinção: existe uma desindustrialização absoluta, que é quando a indústria de fato diminui de tamanho em termos absolutos em relação ao passado. É o que aconteceu na Argentina, por exemplo, no período em que eles perderam mais de 15 mil empresas. Mas existe um outro tipo de desindustrialização, que é a que prevalece no Brasil: a relativa. Ou seja, é preciso comparar o que ocorre na indústria do Brasil com o que ocorre nas indústrias de países como a China, Índia e os asiáticos. E finalmente há um outro dado que é muito realçado pela UNCTAD, a organização da ONU em que eu trabalhei durante quase 10 anos, no seu relatório do ano de 2003. O que de fato caracteriza uma economia que reduz a distância que a separa das economias avançadas, capitalistas, é a capacidade de agregar valor ao produto industrial. Não é nem a exportação de manufaturados e nem mesmo a exportação de manufaturados de alto conteúdo tecnológico. Países como o México ou como a China são grandes exportadores de produtos manufaturados, inclusive eletrônicos, mas a base da linha de montagem é a chamada indústria maquiadora. É o que ocorre no Brasil, na Zona Franca de Manaus que produz esses telefones portáteis. Boa parte do miolo é importado. Quando existe esse fenômeno, o valor agregado é muito baixo. Para quem tem qualquer dúvida sobre isso, basta ler a última carta do IEDI (Instituto de Estudos de Desenvolvimento Industrial) que publica um estudo minucioso de quase 40 setores industriais em relação às estatísticas do próprio IBGE, de qual foi em cada um desses setores a relação entre o valor adicionado e a produção bruta. O que se constata é que desses setores, apenas alguns poucos, sete ou oito, mostraram aumento do valor e quase todos eles são relativos a recursos naturais, como refino de petróleo, papel e celulose. Enquanto que os setores de tecnologia elevada, como eletrônicos, automóveis, caminhões, ônibus, estão atravessando um período de grave desindustrialização, no sentido de que eles continuam a produzir, mas cada vez mais com insumos importados do exterior.
IHU On-Line – Para esses outros setores, quais serão as principais desvantagens com a desindustrialização?
Rubens Ricupero – Para o setor em si, pode não ser mal porque ele importa insumos baratos e consegue reduzir o seu custo. O problema é que ele não gera emprego e nem gera valor dentro do Brasil porque esses produtos vêm de fora e a única coisa que ele agrega aqui é o salário dos trabalhadores que vão montar esses produtos. Mas, ao fazer isso, esse setor obviamente não está contribuindo nem para expandir a oferta de empregos no Brasil, nem para disseminar uma melhor tecnologia dentro do país, porque a tecnologia já vem embutida dentro do produto que está pronto. O México já tem, há muitos anos, tudo isso que os comentaristas ortodoxos aqui desejam para o Brasil. Ele já tem o grau de investimento e há 12 anos um acordo de livre comércio com os Estados Unidos, que é o NAFTA, mas ele cresce o mesmo ou menos que o Brasil, porque tem pouquíssimo valor agregado. Os países que crescem são aqueles que agregam valor. Infelizmente, nós temos uma política econômica que, devido à taxa de juros e à taxa de câmbio extremamente valorizada, é muito desfavorável à agregação de valor. Uma das explicações do desemprego estrutural do Brasil manter-se teimosamente em torno de 10% é justamente essa, porque os setores que estão exportando e se expandindo, setores de produtos básicos, empregam muito menos do que a indústria e não assimilam a força de trabalho que chega ao mercado.
IHU On-Line - No artigo “A desindustrialização como projeto”, o senhor afirma que de 1998 para cá os saldos de commodities agrícolas e minerais têm sido capazes de compensar os déficits em manufatura. Com a desindustrialização das empresas que estão investindo cada vez menos em tecnologia, o senhor acredita que a tendência para os próximos anos é investir mais em commodities no país?
Rubens Ricupero – Infelizmente, porque não há nenhum sinal de mudança da política brasileira. A política macroeconômica teria que mudar. A taxa de juros teria que ser muito menor do que é. Seria necessário tomar medidas para evitar a valorização da apreciação da moeda e, se necessário fosse, criando uma taxa sobre capitais especulativos, procurando ajudar os setores industriais mais afetados, como por exemplo, o setor calçadista no Rio Grande do Sul, com alívio importante da carga de impostos com financiamentos para modernizar cada vez mais os equipamentos. Seria preciso um trabalho muito vigoroso para evitar que esses setores fossem sacrificados pelas commodities e quem sabe até mesmo criar um imposto de exportação sobre as commodities.
As desvantagens da dependência das commodities
O que está acontecendo aqui conosco finalmente é justamente o que os economistas chamam de doença holandesa . A possibilidade de exportar esses produtos básicos e essas commodities cujo preço sempre melhora no exterior, valoriza muito a moeda e desestimula a exportação de outros tipos de produtos. Isso continuando durante muito tempo, vai tornar o Brasil muito vulnerável, porque há duas desvantagens grandes em depender das commodities: primeiro porque as commodities são extremamente vulneráveis às oscilações da economia mundial. A segunda desvantagem é que já existem trabalhos, sobretudo do grande economista Nicholas Kaldor, dos anos 1950, as chamadas leis de Kaldor, que mostram que o fator que realmente permite a rápida melhoria da produtividade, a disseminação da produtividade pela economia e o aumento de emprego é sempre o desenvolvimento do processo industrial, até mesmo a agregação de valor nas commodities das matérias primas. E nós, à medida que ficamos cada vez mais dependentes de exportações de produtos primários de baixo nível de elaboração, não vamos nos beneficiar disso. É isso que explica cada vez mais o baixo crescimento da economia brasileira e o alto nível de desemprego.
IHU On-Line - Muitos especialistas afirmam que um dos principais motivos para a desindustrialização no país é a substituição da produção local pela importação. Qual é a sua avaliação?
Rubens Ricupero – Isso está ocorrendo, e basta ver as estatísticas. As exportações pela primeira vez superaram cem bilhões de dólares e quando se examinam as importações se vê que o peso maior é dos produtos de consumo durável. Portanto, não é como se está querendo fazer crer. Então, nós estamos exportando empregos. Com isso, vamos ter cada vez menos mercado interno para a nossa própria produção, porque vamos atender o nosso consumidor com produtos que vêm de fora, produzido por trabalhadores de fora. Isso é possível porque as commodities, enquanto estiverem se vendendo, permitem pagar isso. Mas não haverá dentro do país um processo de modernização da produção, de melhoria das técnicas e nem, sobretudo, oferta de empregos. Nós continuaremos com alto grau de marginalização. O passado brasileiro foi isso. Estamos trocando nosso futuro por nosso passado. Durante muitos anos, o Brasil dependia apenas do café. Até meados de 1950, 73% da renda de exportação brasileira vinha do café, e este que pagava todo o resto. Estamos voltando a esse processo, de um país ainda com uma economia de tipo colonial.
IHU On-Line – O senhor não acredita que possa ocorrer uma reestruturação da indústria brasileira?
Rubens Ricupero – Com essa política atual não. Não há nenhum sinal. O primeiro indicador que mostraria a reestruturação da indústria seria a taxa de investimento. Ora, as novas cifras mostradas pelo IBGE mostram que a taxa de investimento brasileiro ainda é menor do que se imaginava. Nós pensávamos que fosse de 19%, que é muito menos que os 25% que nós investíamos no produto na época em que investíamos muito. O que se vê é que nós estamos com uma taxa por volta de 16%, que é muito baixa. Então, com uma taxa dessas não pode haver nem crescimento sustentável e muito menos a reestruturação da indústria.
IHU On-Line - Além das altas taxas de juros, o senhor atribui a decadência da indústria às décadas perdidas ou semiperdidas. Poderia falar um pouco sobre isso?
Rubens Ricupero – Foram justamente os dois choques do petróleo e depois a crise da dívida que aceleraram os problemas macroeconômicos e trouxeram o Brasil para a estagnação com inflação. Nós só conseguimos sair disso com o esforço de estabilização monetária com o plano real, mas não conseguimos nunca completar esse processo de mudança do modelo, porque nós, até então, tínhamos um modelo que era mais aquele modelo do passado, de uma economia mais fechada na base de substituição de exportação. Nós teríamos que ter evoluído para um modelo novo, com baixa inflação e estabilidade macroeconômica, mas com indicadores que permitissem o aumento do investimento e a melhoria da capacidade competitiva para a indústria importar. Mas isso dependia fundamentalmente de uma redução sensível na taxa de juros. Então, existe aí um problema muito grave de erros de política macroeconômica. E nesse ponto, eu não faço distinção entre o governo FHC e Lula. Acho que tanto o governo anterior quanto o atual seguiram basicamente a mesma política.
Um suave fracasso
O Brasil é um suave fracasso. Ele não é um fracasso de tipo catastrófico, como foi a política Argentina, do Menem, do Cavallo. O Brasil, devido a essa política monetária mais cautelosa em relação aos juros, evita esse tipo de crise, mas ao mesmo tempo mantém a economia de uma forma muito medíocre. Uma economia que cresce menos que a média mundial, que a média na América Latina e não consegue gerar emprego, não consegue melhorar o conteúdo tecnológico da indústria, que vai se assinalando apenas pela capacidade de exportar matérias-primas. Então, não é uma catástrofe, mas tem que ser considerada um fracasso, embora suave, porque a meu ver, o fator fundamental para julgar qualquer economia é a capacidade que essa economia tem de resolver o problema do emprego. Uma economia que não consegue resolver o problema do emprego, da melhoria da renda para todos os setores da população, sem dúvida nenhuma, só pode merecer a qualificação de um fracasso.
IHU On-Line – No ano passado, o país apresentou queda do emprego de - 5,4% no vestuário,
- 13,2% nos calçados e - 6,9% nas máquinas e equipamentos. Aqui na região do Vale dos Sinos, que corresponde aos municípios de São Leopoldo, Campo Bom e Sapiranga, nos três primeiros meses desse ano mais de quatro mil funcionários foram demitidos. Os empregos do Brasil estão migrando para outros países? De que maneira isso afeta no agravamento da desindustrialização?
Rubens Ricupero – Isso infelizmente é uma tragédia para nós. Eu estive no Rio Grande do Sul há uns três anos e pude conversar muito com as pessoas do setor calçadista. Naquela época, havia uma certa esperança de recuperação porque foi antes dessa tendência de valorização excessiva do real. Depois a coisa se agravou. Recentemente eu estive na China, em Shanghai, e nosso cônsul geral lá me contou que boa parte da comunidade brasileira, que aumentou muito naquele país, é formada de gaúchos que foram contratados como técnicos para a indústria de calçados da China e que estão morando lá com suas famílias. Eles têm férias e vão para o Rio Grande do Sul de vez em quando, mas levaram para lá todo o know how que a indústria gaúcha possuía, o que é uma coisa trágica para nós, brasileiros. Os melhores elementos, que construíram a solidez dessa indústria, hoje estão sendo capturados, contratados pelos chineses que os levam para lá, utilizam os nossos couros e acabam dominando os mercados mundiais. É uma tristeza a gente ser obrigado a constatar isso.
IHU On-Line - Como o senhor classificaria o PAC? O que ele tem de bom e quais são suas lacunas?
Rubens Ricupero – O PAC é uma iniciativa correta no sentido de tentar retomar a capacidade de investimento do estado brasileiro e de gerar um crescimento econômico melhor. Mas ele não é nada inovador. Como todo mundo sabe, é apenas uma reunião de projetos que já existiam e mesmo o aumento da capacidade de investimento do estado que ele sugere é pequeno para elevar o crescimento para algo com 1,5% do PIB. Como indutor de investimentos do setor privado, o PAC só terá êxito se conseguir revelar uma capacidade gerencial e administrativa de fazer com que esses projetos saiam do papel. Até hoje o governo tem tido baixa capacidade de gerenciamento, tanto que nós podemos ver que determinados projetos, que poderiam alavancar grandes investimentos, como a lei do gás, a lei do saneamento básico, até hoje não foram aprovados. Continua-se a notar que o governo é muito dividido e tem uma baixa capacidade de operacionalizar esses projetos. Por isso, é difícil ser otimista sobre o PAC. Até agora não se conseguiu ver nada. Talvez no ano que vem já seja um pouco mais sensível. A idéia é boa, mas que depende de uma capacidade de ação que até agora o governo não revelou possuir.
IHU On-Line - O senhor tem afirmado que o aquecimento global significa uma grande oportunidade para o Brasil. Poderia explicar?
Rubens Ricupero – O que eu procurei mostrar em vários artigos é que o único setor em que o Brasil é uma potência universal é o meio ambiente, porque o País não é uma potência industrial. Estamos vendo que em matéria econômica ele cresce muito menos do que a China, a Índia e outros países. Não é uma potência militar nem nuclear, nem precisa ser, nem deve ser. Agora, na área ambiental, o Brasil é incontornável no sentido de que não se pode ter nenhuma solução para o problema do aquecimento global e para os problemas ambientais em geral, sem passar por ele, porque o Brasil tem a maior floresta tropical do mundo, que é a Amazônia. Em segundo lugar, ele detém a maior reserva de água doce disponível no planeta, cerca de 15%; em terceiro lugar, porque ele tem uma das maiores biodiversidades do mundo; em quarto, porque ele tem uma experiência com o etanol, que é único combustível alternativo que tem funcionado em larga escala; e em quinto lugar porque a equação energética brasileira é uma equação limpa, isto é, a maioria da eletricidade e da energia no Brasil é gerada por hidroeletricidade, com exceção de alguns casos. Então, a soma desses fatores todos faz com que a solução dos problemas ambientais do mundo tenha que passar por nós, porque nós precisamos reduzir rapidamente o nível de acúmulo de gases de efeito estufa. Isso se faz com economia de energia, com substituição de combustíveis fósseis, e se faz pondo fim às queimadas da Amazônia. O Brasil é, hoje, o quarto maior responsável pela emissão de gases. O primeiro é o Estados Unidos, o segundo a China, e o terceiro a Indonésia, também por causa de queimadas. Então, se o Brasil conseguir resolver esse problema negativo que o afeta, que são as queimadas na Amazônia, ele terá condições de ter nos fóruns internacionais uma política muito menos defensiva, muito mais pró-ativa. Hoje em dia, pelo Protocolo de Kyoto, é possível a um país que executa projetos de economia de energia, de economia de queima de carbono, adquirir crédito que pode ser rendido aos países que precisam atingir uma meta de redução de emissões e que não conseguem fazer isso por esforço próprio. Então, esses países podem ter isso como uma fonte de renda. O Brasil tem feito isso em larga escala com muitos projetos que estão em execução, sobretudo, de reflorestamento. Mas, devido à resistência brasileira, no Protocolo de Kyoto nunca se pode incluir as florestas já existentes como fonte de crédito de carbono, porque o Brasil não quis amarrar suas mãos, porque achou que isso significaria uma obrigação de não destruir a floresta. Então, devido a essa visão equivocada das coisas, o Brasil acabou perdendo essa oportunidade. Mas agora vai haver uma nova negociação no ano de 2012. Já existem opiniões, por exemplo, como a do economista do Banco Central, Nicholas Stern, que defende a idéia de que o mundo deveria pagar a países como o Brasil para manter as florestas.
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"Vivemos uma desindustrialização precoce". Entrevista especial com Rubens Ricupero - Instituto Humanitas Unisinos - IHU