10 Dezembro 2025
Por motivos diversos, diminuem os padres disponíveis para se tornarem párocos: mais um sinal da crise de uma realidade que não consegue mudar, mais um aviso aos bispos.
Artigo de Sergio Di Benedetto, professor de Literatura Italiana na Universidade da Suíça Italiana, em Lugano, publicado por Vino Nuovo, 09-12-2025.
Eis o artigo.
Há um problema que diz respeito às dioceses italianas (mas não só), que preocupa os bispos e também os presbíteros: faltam párocos. E faltam não apenas por razões “numéricas” — queda das vocações presbiterais diocesanas, clero envelhecido, dinâmicas demográficas etc. —, mas faltam também porque não poucos entre os sacerdotes “jovens” (digamos, com menos de 45 anos) não estão assim tão dispostos a se tornar párocos; preferem outros encargos, outros ministérios, outros lugares onde possam investir melhor a própria vocação de presbíteros.
Talvez porque alguns vejam seus confrades mais idosos sobrecarregados e esmagados pelo peso do papel do pároco, ainda responsável por tudo (juridicamente, administrativamente, economicamente) e, assim, consumido por tarefas que não parecem ser propriamente a missão pastoral e espiritual do padre. Talvez porque se perceba uma maior fragilidade pessoal e, portanto, estejam-se menos dispostos a se submeter ao fogo cerrado das críticas do paroquiano médio que, entre a praça, a sacristia, as redes sociais e o bar, sente a necessidade de dar sua opinião quando as expectativas sobre o pároco não são atendidas, muitas vezes por questões secundárias, como se ainda estivéssemos nos anos 1970. Talvez porque, com o aumento das vocações adultas, se deseje que os percursos pessoais realizados antes da entrada no seminário sejam, de algum modo, acolhidos e valorizados, e não esquecidos ou achatados em funções padronizadas. Talvez porque se encontre nos “jovens” uma visão pastoral diferente, pela qual se intui, também por razões geracionais, que o enorme volume de trabalho exigido pela paróquia não raramente é um fim em si mesmo e pouco enraizado no Evangelho para os dias de hoje. Ou talvez, ainda, haja dimensões íntimas menos disponíveis a sacrificar partes de si por um bem maior — sobretudo quando esse bem é mais retórico do que real. Ou talvez se paguem escolhas vocacionais e admissões ao presbiterado feitas com certa leviandade, ao sabor da necessidade, sem ter percebido a tempo (ou sem ter querido ver a tempo) nós íntimos e situações pessoais problemáticas.
Em suma, os motivos são muitos… E nós os conhecemos. Mas, numa estrutura ainda fundamentalmente tridentina como é hoje a paróquia, como fazer, como prosseguir sem o pároco? Sem preencher aquela importante lacuna com um nome, um sobrenome, uma assinatura (ou mais assinaturas: quem ainda hoje tem apenas uma paróquia para administrar?).
Então, também essa dificuldade de encontrar párocos, essa lenta, silenciosa, mas real “fuga da paróquia” dos próprios presbíteros indica que a paróquia precisa ser repensada, por uma sustentabilidade humana das pessoas, por comunidades mais serenas, por uma vivibilidade dos ambientes eclesiais que, quando se tornam tóxicos, esmagam e envenenam (homens e mulheres, presbíteros e leigos). Será que será esse problema interno ao clero que levará os bispos a pôr a mão na paróquia, sugerindo alguma modificação do direito canônico?
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