Por que é preciso acabar com a tirania do carro

Ilustração: Ana Caroline Azevedo | Foto: Fundação Rosa Luxemburgo/Outras Palavras

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02 Dezembro 2025

A hegemonia do transporte individual gera frustração, congestionamentos e uma lógica de desperdício. Obra lançada pela Fundação Rosa Luxemburgo desvela a ideologia por trás desse cenário, além de propor alternativas coletivas e concretas. Concorra a exemplares.

A reportagem é de Raíssa Araújo Pacheco, publicada por Outras Palavras, 28-11-2025.

Nos dias de hoje, o transporte é uma dimensão estruturante de nossas vidas, nos leva ao trabalho, ao lazer, às emergências do dia a dia e etc. Contudo, como vivemos em uma sociedade orientada para o consumismo e o individualismo, essa dimensão passa a ser atravessada por criações de necessidades como as que advêm do fetichismo da velocidade, do elitismo do automóvel e do privilégio ao veículo privado – em detrimento do público e coletivo.

Tal cenário leva a outro que os habitantes dos centros urbanos conhecem muito bem: gente deprimida e frustrada em congestionamentos sem fim. Além disso, faz parte de uma lógica baseada em desperdício, fetiche da velocidade e pouco cuidado com a vida. Mas será que é esse tipo de realidade que queremos para nossa geração e para as próximas?

A obra A estrutura de poder do trânsito, lançada no Brasil pela Fundação Rosa Luxemburgo, oferece diversas alternativas à hegemonia do transporte individualista ao passo que desvela a ideologia por trás do “culto ao carro”.

Escrito pelo coletivo sueco Planka.nu, o livro consegue abordar assuntos sérios com uma boa dose de sarcasmo e descontração, pautando sempre a oposição entre coletivismo e individualismo.

O Planka.nu é um grupo de origens anarcossindicalistas que surgiu nos anos 2000, após protestos contra o aumento da tarifa. A organização luta em seu país por um transporte coletivo gratuito, controlado por trabalhadoras(es) e usuárias(os).

Uma de suas ações mais dignas de nota é a criação de um fundo de incentivo ao não pagamento da passagem do transporte público, que leva o nome de P-Kassa. Esse fundo paga a multa dos usuários(as) que são taxados por embarcarem sem pagar a passagem, pois na Suécia não há catracas nos transportes, mas fiscais que conferem os bilhetes. Quem faz uma contribuição mensal ao fundo tem sua multa paga pela organização.

Dado o fato de o escrito ser pensado por pessoas que vivem a realidade sueca – bem diferente da nossa – há distâncias que precisam ser consideradas. Todavia, a obra tece uma análise crítica e estrutural da lógica neoliberal e autocrática que ordena os corpos em trânsito, e isso é extremamente válido para os países do sul global, como ressaltam os responsáveis pela tradução da edição brasileira, o coletivo Tarifa Zero BH, que assina um dos capítulos do volume que visa voltar o olhar à nossa realidade.

"A estrutra de poder do trânsito", de Planka.nu.

O coletivo, nascido do caldo das jornadas de junho de 2013, atua na luta pelo direito à cidade “por meio de um transporte justo, de qualidade, com gestão democrática e gratuito” e move ações que levam o debate acerca do transporte para o campo da política, indo além do campo puramente técnico. “Não há decisão técnica que não traga um posicionamento político em si quando pensamos a cidade”, ressaltam.

A atual estrutura de poder do trânsito tem causado impactos violentos na vida de trabalhadores ao redor do globo. É urgente repensá-la. A obra em questão apresenta, com muito bom humor, muitas alternativas a essa lógica que nos adoece.

Em parceria com a Fundação Rosa Luxemburgo, Outras Palavras irá sortear seis exemplares de A estrutura de poder do trânsito, de Planka.nu, entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 8/12, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso!

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