Os gastos militares globais aumentaram 37% desde 2015

Foto: Toxic Player/Unsplash

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21 Novembro 2025

Pistolas, fuzis de assalto, metralhadoras, armas leves e de pequeno calibre matam mais pessoas todos os dias do que as bombas, e mais de um bilhão desses instrumentos de morte e violência circulam livremente pelo mundo, segundo a ONU. Matéria-prima de uma desordem global, essas armas prolongam guerras, alimentam o crime organizado e corroem as frágeis instituições por dentro.

A reportagem é de Annalisa Antonucci, publicada por L'Osservatore Romano, 18-11-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.

Em 2024, estimativas da ONU mostram que armas leves e de pequeno calibre foram responsáveis por quase um terço das mortes de civis em conflitos e foram usadas em 88% dos casos de violência sexual relacionada à guerra. De acordo com Adedeji Ebo, Representante do Escritório das Nações Unidas para Assuntos de Desarmamento, "sua proliferação é tanto um sintoma quanto um fator das múltiplas crises de segurança que nosso mundo está vivenciando". E por trás desse arsenal, que cresce diariamente, existe um mundo empresarial que lucra com ele e está corrompendo as zonas de conflito.

Em 2023, os 100 maiores fabricantes de armas faturaram US$ 632 bilhões, enquanto os gastos militares globais atingiram US$ 2,7 trilhões, um aumento de 37% desde 2015. Ao mesmo tempo, as violações do embargo continuam a alimentar focos de guerra, da Líbia ao Iêmen e ao Haiti. Porto Príncipe, onde a proliferação de armas alimenta o terror diário, é o exemplo mais claro da ineficácia das medidas internacionais, segundo Arnoux Descardes, diretor da ONG Volontariat pour le Développement d'Haïti, que denunciou o tráfico massivo de armas ilegais no Haiti, apesar do embargo sobre as armas imposto pelo Conselho de Segurança da ONU desde 2022. Descardes afirma que entre 270.000 e 500.000 armas de fogo circulam no país, das quais apenas 45.000 estão registradas. “Esses são números impressionantes em um país que não produz armas”, acrescentou, observando que a consequência é uma espiral de insegurança na qual gangues, mais bem armadas que a polícia, ditam as regras e mantêm as famílias haitianas sob controle.

A situação certamente não é melhor na África, onde, como garante Mohamed Ibn Chambas, representante da União Africana, “essas armas estão sendo usadas para desencadear violências e sofrimentos horríveis na região de Darfur”. Em todo o continente, do Sahel aos Grandes Lagos, o fluxo descontrolado de armas alimenta grupos armados e o tráfico transfronteiriço. Por esse motivo, a União Africana lançou importantes iniciativas para o desarmamento, como o “mês da anistia africana”, durante o qual 30.000 armas e 200.000 cartuchos de munição foram destruídos, demonstrando que a cooperação regional pode produzir resultados concretos. Mas, enfatizou Chambas, a tarefa continua imensa, enquanto “controlar a proliferação de armas”, argumenta Chambas, “é um pré-requisito para a paz e o desenvolvimento duradouros”. De Nova York a Porto Príncipe, do Sahel à Amazônia, a proliferação de armas leves revela, portanto, um fracasso coletivo: aquele de um mundo incapaz de conter os fluxos de metal e pólvora que alimentam as suas crises. Essas armas, muitas vezes fabricadas legalmente, segundo a ONU, acabam nas mãos de grupos armados, traficantes ou civis desesperados, transformando divisões sociais em guerras abertas. "As armas produzidas e transferidas hoje correm o risco de alimentar o comércio ilícito e a violência de amanhã", alertou Ebo, Representante da ONU para Assuntos de Desarmamento, instando os Estados a fortalecerem a gestão de estoques e a rastreabilidade de armas de fogo, inclusive por meio de inovações tecnológicas como marcadores químicos para as munições.

Porque, caso contrário, em um mundo saturado de armas, enfatiza a ONU, a paz continua sendo uma corrida contra o tempo.

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