22 Outubro 2025
"O maior "perdão" deve ser pedido pelos tempos em que a "colonização" se disfarçou de "evangelização". Quando culturas e povos inteiros, agora extintos, foram aniquilados. Quando, em vez de promover a miscigenação e a justiça social (nisso, outras nações são ainda mais culpadas que a Espanha — e não digo isso por espírito patriótico), prevaleceu um absurdo sentimento de superioridade", escreve Miguel Ángel Malavia, redator de Vida Nueva Digital e Vida Nueva, em artigo publicado por Settimana News, 20-10-2025.
Eis o artigo.
Francisco, o primeiro papa da América, pediu perdão pelos "pecados" cometidos pela Igreja ao abençoar os conquistadores (aqueles que "conquistaram" e não "descobriram") que, há cinco séculos, chegaram àquelas terras e as mancharam de sangue, a ponto de apagar a identidade cultural de muitos povos nativos.
Seu sucessor, Leão XIV, o segundo pontífice do continente americano (nascido nos Estados Unidos e adotado pelo Peru), escreveu recentemente uma interessante mensagem jubilar dirigida aos representantes desses mesmos povos indígenas (em espanhol, 16 de outubro passado) que ainda hoje resistem. Fiel ao seu estilo, menos veemente que o do Papa Bergoglio, ele reconhece que a "evangelização" da América teve "luzes e sombras". Realizada pelas "grandes potências ocupantes", ela trouxe consigo "feridas" para as quais este Ano Santo da Esperança pode representar um "tempo precioso para o perdão e para a reconciliação com a nossa própria história".
É claro que, quando Prevost — como Francisco antes dele — fala de "luzes", ele se refere ao legado cultural e espiritual que se enraizou na Europa e na América, dando origem a uma identidade distinta que, cinco séculos depois, permanece vibrante. Neruda, Benedetti, García Márquez e Vargas Llosa deixaram para trás uma riqueza de belezas escritas em espanhol. E se as três caravelas de Colombo não tivessem chegado a esse destino surpreendente (embora estivessem, na verdade, em busca da Índia), a história teria sido muito diferente.
Mas, embora tudo isso seja verdade, o maior "perdão" deve ser pedido pelos tempos em que a "colonização" se disfarçou de "evangelização". Quando culturas e povos inteiros, agora extintos, foram aniquilados. Quando, em vez de promover a miscigenação e a justiça social (nisso, outras nações são ainda mais culpadas que a Espanha — e não digo isso por espírito patriótico), prevaleceu um absurdo sentimento de superioridade.
Houve profetas como Bartolomé de las Casas que se manifestaram em defesa dos direitos dos "índios". Mas também houve papas, bispos e missionários que seguiram os passos de Alexandre VI, dividindo artificialmente as Américas ao longo de uma linha reta projetada exclusivamente para agradar às "grandes potências ocupantes".
Foi então que nasceu a chamada "Doutrina da Descoberta", da qual a Igreja se dissociou oficialmente em 2023, reiterando que não faz mais parte do magistério papal. Alguns provavelmente esperavam que Prevost recuasse nesse ponto. Mas, fiel ao seu estilo sóbrio e comedido — mesmo que alguns finjam não entendê-lo —, ele nos convidou a abraçar o perdão pelas "feridas". Por um pecado. Por um mal. Porque, e não poderia ser de outra forma, Leão XIV rejeita o colonialismo na América. Que, aliás, ainda sobrevive hoje nas mãos de grandes e desalmados interesses macroeconômicos.
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