Trump suspende ajuda à Colômbia e acusa Petro de ser um "líder do narcotráfico"

Gustavo Petro | Foto: RS/FotosPúblicas

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20 Outubro 2025

A polêmica declaração do presidente dos EUA ocorreu um mês depois de Washington ter removido a Colômbia da lista de países que cooperam no combate ao narcotráfico.

A reportagem é publicada por Página|12, 20-10-2025.

Donald Trump anunciou o fim da ajuda financeira à Colômbia no domingo, acusando o presidente colombiano, Gustavo Petro, de ser "um líder do narcotráfico" e de "incentivar a produção em massa de drogas" no país sul-americano. A decisão desencadeou uma escalada diplomática imediatamente rejeitada pelo governo colombiano, que pediu apoio a organizações internacionais, e reacendeu as tensões no Caribe, onde Washington mantém uma presença militar sob o pretexto de "combater o narcotráfico".

Em uma mensagem publicada em sua plataforma de mídia social, Truth Social, na qual inicialmente se referiu ao país como "Columbia", Trump afirmou que a produção de drogas "se tornou o maior negócio da Colômbia" e que o presidente "não faz nada para impedi-la, apesar dos pagamentos e subsídios em larga escala dos Estados Unidos" destinados a combatê-la. "A partir de hoje, esses pagamentos, ou qualquer outra forma de ajuda ou subsídio, deixarão de ser feitos à Colômbia", declarou o presidente americano.

A declaração foi feita um mês depois de Washington ter retirado a Colômbia de sua lista de países que cooperam no combate ao narcotráfico, considerando que o país havia "manifestamente falhado" em cumprir suas obrigações sob acordos internacionais. A medida, sem precedentes desde a década de 1990, envolveu a suspensão de certificações importantes e a redução da assistência militar e econômica ao país, embora o presidente colombiano insista que a taxa de crescimento do cultivo de cocaína diminuiu drasticamente durante seu governo.

"Uma ameaça à soberania"

O Ministério das Relações Exteriores da Colômbia descreveu as declarações de Trump como "uma ameaça direta à soberania nacional" e anunciou que o governo "recorrerá a todos os fóruns internacionais" para denunciar o ataque. Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores da Colômbia considerou que a mensagem do presidente dos EUA "viola todas as normas do direito internacional e da diplomacia, e especialmente os tratados internacionais que protegem a soberania, a independência e a autodeterminação dos países".

O Itamaraty também rejeitou o uso da cooperação internacional "como instrumento de ingerência em assuntos internos" e anunciou que o governo recorrerá a organismos internacionais para defender a soberania da Colômbia e a dignidade do presidente Petro, que "sempre se destacou por seu respeito às instituições democráticas e sua luta frontal contra o narcotráfico", acrescentou.

Petro também respondeu às acusações afirmando que Trump "está sendo enganado por seus assessores e assessores" se acredita estar do lado do narcotráfico, e enfatizou que as forças militares de seu país deixariam de depender de armas americanas. "O principal inimigo que o narcotráfico tinha na Colômbia era aquele que descobriu seus laços com o poder político do país. Esse era eu", escreveu o presidente, que também instou seu homólogo americano a "ler a Colômbia com atenção e determinar de que lado estão os traficantes e de que lado estão os democratas".

Tensão no Caribe

Esta nova travessia ocorre em meio ao envio de navios e aeronaves dos EUA para o Mar do Caribe, sob o pretexto de combater o tráfico de drogas em águas internacionais, onde o governo americano alega haver rotas de transporte perto da Venezuela e da Colômbia. Desde agosto, Washington relata o naufrágio de pelo menos sete embarcações que, segundo ele, transportavam drogas, embora até o momento não tenha apresentado nenhuma evidência sólida para sustentar essas acusações.

O último ataque, ocorrido na última quinta-feira, deixou três mortos a bordo de um barco que os Estados Unidos ligaram ao Exército de Libertação Nacional (ELN), grupo guerrilheiro ativo na Colômbia. O Secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, afirmou que a operação "ocorreu em águas internacionais" e que a tripulação era composta por "narcoterroristas".

Petro, por outro lado, denunciou que uma das embarcações atacadas em setembro pertencia a um pescador colombiano e acusou os Estados Unidos de "assassinato" e "violação de soberania". Ele também pediu à Procuradoria-Geral da República que investigue os fatos e ofereça proteção às famílias das vítimas. Em tom mais conciliador, o Ministro da Defesa, Pedro Sánchez, observou que a Colômbia "tem sido historicamente aliada dos Estados Unidos na luta contra as drogas" e que "dezenas de soldados e policiais morreram em operações antidrogas no país".

Guerra diplomática

A crise entre os dois governos reabre um conflito diplomático com profundas implicações regionais. Washington não apenas revogou os vistos de Petro e de vários de seus funcionários, como também continuou a intensificar suas operações militares no Caribe, gerando preocupações em Caracas e Havana. "A Colômbia nunca foi rude com os Estados Unidos; pelo contrário, valorizou profundamente sua cultura. Mas você é rude e ignorante com a Colômbia", escreveu Petro em sua mensagem final ao presidente dos EUA.

Com a suspensão da ajuda, os Estados Unidos rompem uma aliança histórica de mais de quatro décadas. Desde 2000, Washington destinou mais de US$ 14 bilhões ao país, principalmente para programas militares e a erradicação de cultivos ilícitos. Segundo dados da ONU, a Colômbia é a maior produtora mundial de cocaína, com mais de 2.600 toneladas anuais. No entanto, Petro sustenta que, durante seu governo, "a taxa de crescimento do cultivo de folhas de coca caiu para quase zero" e que os números internacionais "apresentam problemas metodológicos".

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