EUA, o negócio da religião. Artigo de Massimo Gaggi

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08 Outubro 2025

"Os modos de comunicação mudam: influenciadores se tornam evangelizadores, enquanto para tornar santos e apóstolos atraentes, precisam transformá-los em super-heróis. Inevitável? Talvez. Só que, se você precisa produzir vídeos cristãos atraentes como o trailer de um filme, Jesus dando a outra face não funciona: melhor um Cristo no estilo Capitão América", escreve Massimo Gaggi, jornalista italiano, em artigo publicado por Corriere della Sera, 03-10-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

Os prédios da metrópole desmoronam. Monstros e dragões de sete cabeças correm soltos. Pessoas fogem aterrorizadas. Esquadrões de anjos aparecem no céu. Então, em um clarão ofuscante, um cavaleiro branco desce das nuvens com uma espada em riste. Cenas de um filme de fantasia ou de um videogame como Dungeons and Dragons? Não: é um vídeo inspirado no Livro da Revelação (ou Apocalipse) de João (talvez o Evangelista), criado dois mil anos depois com inteligência artificial. Produzido pela plataforma AI Bible da Pray.com: uma empresa comercial com 25 milhões de usuários que se autodenomina "líder mundial em aplicativos para a fé e a oração".

Agora que já foram superados os dias de desespero pelo assassinato de Charlie Kirk e aqueles do conflito — os MAGAs acusando a esquerda de fomentar o ódio, por sua vez acusados de explorar politicamente a morte do líder do Turning Point —, cabe se perguntar se o assassinato (um martírio para a direita) terá impacto na religiosidade dos estadunidenses? Será que o apelo de Erika, esposa de Kirk, para a paz e o perdão terá sucesso, ou o conflito prevalecerá? Com os nacionalistas cristãos, galvanizados, na ofensiva. Alguns, mesmo entre os conservadores, percebem que misturar Deus e política é perigoso, especialmente em tempos de polarização extrema, mas outros lembram que os Estados Unidos foram construídos pelos Pais Fundadores com base nos valores cristãos e de liberdade.

Para eles, porém, as instituições religiosas eram pilares de uma ordem ética compartilhada, essencial para a sobrevivência da democracia. Hoje, então, mais que nos perguntarmos quantos votos o assassinato de Kirk mudará, precisamos entender se e como a religiosidade dos estadunidenses mudou, visto que, nos últimos anos, 40 milhões deles pararam de frequentar as igrejas, enquanto muitos, especialmente jovens, tendo abandonado doutrinas e ritos de comunidade, buscam a Deus na loja de aplicativos, talvez confessando-se com chatbots oferecidos pelo mundo da tecnologia da fé: novo negócio com aplicativos de grande sucesso como o BibleChat (30 milhões de downloads) ou o católico Hallow.

Os modos de comunicação mudam: influenciadores se tornam evangelizadores, enquanto para tornar santos e apóstolos atraentes, precisam transformá-los em super-heróis. Inevitável? Talvez. Só que, se você precisa produzir vídeos cristãos atraentes como o trailer de um filme, Jesus dando a outra face não funciona: melhor um Cristo no estilo Capitão América.

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