15 Setembro 2025
A família do pianista Francisco Tenorio Cerqueira Junior, desaparecido em março de 1976 e recentemente identificado, agradeceu ao Equipo Argentino de Antropología Forense (EAAF) por seu trabalho e exigiu saber o que havia acontecido com o músico. É necessário que seja realizada uma nova investigação, em nome da memória, que não pode se perder. Esperamos que, desta vez, as autoridades possam nos dizer o que ocorreu. A dor nunca vai embora, mas a justiça pode trazer consolo, disseram em comunicado.
A informação é publicada por Página|12, 15-09-2025.
Tenorio havia chegado a Buenos Aires para tocar com Vinicius de Moraes no Gran Rex. O que deveria ser uma consagração em território portenho terminou em massacre. Na madrugada de 18 de março de 1976, Tenorio saiu do hotel em que estava hospedado, na rua Rodríguez Peña, nº 320. Ali se perdeu seu rastro.

Foto: Embaixada do Brasil na Argentina
Em casa, o esperavam sua esposa Carmen e quatro filhos – de entre quatro e oito anos. Um mês depois do desaparecimento de Tenorio, Carmen deu à luz seu quinto filho.
Durante muito tempo, mesmo sabendo que era improvável, alimentamos a esperança de voltar a vê-lo. De que um dia a porta de casa se abrisse e ele entrasse. O Papú, como o chamávamos. Com o tempo, compreendemos que não teríamos mais respostas. Que teríamos que conviver sem saber o que realmente aconteceu. É um impacto saber que ele esteve ali todo o tempo, relataram.
🇧🇷🇦🇷“Recibimos la noticia de la identificación del cuerpo de nuestro padre con sorpresa, claro, y con una mezcla de alivio y tristeza". Difundimos el comunicado de los hijos del pianista brasilero Fráncisco Tenorio Cerqueira Júnior, desaparecido en marzo de 1976 en Buenos Aires. pic.twitter.com/jHyVHtApcC
— Equipo Argentino de Antropología Forense (@eaafoficial) September 14, 2025
Durante décadas prevaleceu a versão dada pelo repressor Claudio Vallejos: que ele havia sido levado à Escola de Mecânica da Armada (ESMA), torturado por militares brasileiros e argentinos e, por fim, executado por Alfredo Astiz. Os documentos que sustentavam a teoria de Vallejos eram falsos, segundo conseguiu reconstruir o Página/12 a partir de diferentes fontes.
A identificação de Tenorio ocorreu depois que peritos da Procuradoria de Crimes Contra a Humanidade (PCCH) detectaram um processo que havia tramitado no Juizado Penal 5 de San Isidro a partir do achado de um cadáver em um terreno baldio de Don Torcuato. O corpo havia aparecido com múltiplos impactos de bala na manhã de 20 de março de 1976, ou seja, dois dias após o desaparecimento do pianista. Foi enterrado em 22 de março como NN no cemitério de Benavídez.
Tanto a PCCH quanto o EAAF chegaram à conclusão de que o corpo poderia pertencer a Tenorio. Por isso, foram comparadas as impressões digitais colhidas do cadáver encontrado em Don Torcuato com as enviadas do Brasil. Em 26 de agosto passado, a Câmara Federal de Buenos Aires confirmou que a pessoa que havia sido enterrada como NN em Don Torcuato era Tenorio. Lamentavelmente, pelo tempo decorrido, não foi possível recuperar seus restos.
Leia mais
- Quem era Tenorinho, o pianista brasileiro assassinado pela ditadura Argentina e identificado 50 anos depois
- Argentina, 1985: o ano que não terminou
- Condenação de ex-ditadores militares na Argentina é modelo regional, diz Noam Chomsky
- Oitenta anos de Frei Tito de Alencar e a resistência ao autoritarismo. Artigo de Gabriel Vilardi
- Argentina: marchando massivamente em memória da ditadura militar, promovendo justiça pelas vítimas dos repressores
- Direitos humanos: “Nesta luta tem que ter claro o seguinte: talvez você tenha que dar a própria vida”. Entrevista especial com Jair Krischke
- “No Brasil nunca houve transição, mas transação”. Entrevista com Jair Krischke
- "Brasil deveria seguir a Argentina e condenar militares por Operação Condor", diz ativista
- Pela primeira vez, Justiça argentina condena empresário por crimes na ditadura militar
- Conhecendo a ESMA, o maior centro argentino de tortura e extermínio
- Ex-ditador argentino Videla é condenado a 50 anos por rapto de bebês
- Jorge Rafael Videla. O corpo do homem que ninguém quer
- Após 44 anos, militares uruguaios são presos por participarem de sequestros em Porto Alegre
- Argentina condena 28 militares à prisão perpétua
- Oito militares envolvidos no Plano Condor são condenados à prisão perpétua
- Chile. Há a confirmação de que houve voos da morte durante a ditadura de Pinochet
- Meio século depois, líderes da Operação Condor seguem sem punição
- "A Operação Condor foi um pacto criminal dos regimes militares"
- “El silencio sobre el destino de sus víctimas es una forma de tortura”
- O Papa recorda Hebe de Bonafini: “Transformou sua dor em defesa dos direitos dos marginalizados”
- Carta do Papa a Hebe Bonafini, líder das Mães da Praça de Maio
- Da ditadura à democracia. As lições aprendidas pelas Avós da Praça de Maio
- Argentina. Las Madres de Plaza de Mayo cumplieron 41 años de lucha