19 Agosto 2025
Além de afetar a vida das pessoas e a biodiversidade do planeta, a crise climática causa também dores nos bolsos. O agravamento das mudanças climáticas vem aumentando as perdas econômicas e financeiras em todo o mundo, tendo efeito ainda mais perverso nos países em desenvolvimento.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 18-08-2025.
O ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, alertou no domingo (17/8) para o custo dos desastres climáticos terem aumentado para US$3,5 trilhões na última década, um avanço de US$800 bilhões em relação à década anterior, informa o Valor. Gore reforçou a correlação direta entre o aumento da temperatura média da Terra e a ocorrência dos desastres, o que vem sendo acompanhado de perto pelas empresas de seguros.
“A indústria de seguros está medindo os resultados catastróficos da crise climática. O número desses desastres tem aumentado em cada um dos seus tipos e o custo tem aumentado também”, disse Gore no último dia de treinamento para lideranças climáticas que promove no Brasil por meio do Climate Reality Project, organização fundada por ele.
Ao falar do custo dos desastres climáticos, Gore destacou as consequências de incêndios sobre a saúde pública. “Quase 60% do Brasil enfrentou seca em 2023 e 2024. Vimos o que ocorreu nos rios Madeira e Amazonas. Quanto mais secas, mais temos incêndios. No momento, vivemos grandes incêndios na Espanha e no Canadá. Desde 1985, quase um quarto do território do Brasil passou por queimadas”, destacou, lembrando ainda que a poluição do ar causada pela queima de combustíveis fósseis provoca a morte prematura de 8,7 milhões de pessoas por ano.
Ante o cenário climático desafiador, Al Gore enxerga um horizonte otimista. “Não quero vender ‘ilusão de esperança’, mas gosto da Lei de Dornbusch: as coisas demoram mais para acontecer do que pensamos, mas depois acontecem mais rápido do que imaginávamos. Isso se aplicou a tecnologias limpas e também a lutas morais, como a abolição da escravidão ou o voto feminino. Pareciam impossíveis – até se tornarem inevitáveis. Creio que estamos próximos desse ponto no clima”, disse à Deutsche Welle.
Por outro lado, a política anticlimática do atual governo dos EUA é lamentada por Gore. Segundo o ex-vice de Bill Clinton, os governos norte-americano têm uma “postura esquizofrênica”, ora favorável à ação climática sob os presidentes democratas, ora negando completamente o problema sob os presidentes republicanos. A Agência Brasil deu mais detalhes.
Diretor do Instituto Potsdam de Pesquisas sobre o Impacto Climático, na Alemanha, o sueco Johan Rockström lidera há mais de 15 anos estudos sobre o estado dos limites planetários. Em entrevista ao Estadão, o cientista descreve o momento atual como “o mais sombrio do seu trabalho”, não apenas pelas evidências científicas da aproximação da irreversibilidade do comprometimento do equilíbrio terrestre, mas pela turbulência causada por guerras, governos populistas e nacionalistas que ameaçam o andamento das negociações climáticas. Por outro lado, Rockström afirma existirem soluções em todos os setores para se dar a volta por cima e recuperar a resiliência da Terra. É um “ganha-ganha”: a transição também é a via para alcançar economias mais competitivas e sociedades saudáveis. “Se quiser ‘tornar o planeta grandioso novamente’, escolha o caminho sustentável”, afirma.