15 Agosto 2025
"Não escrevam sobre mim. Estou bem. Em vez de me fazerem perguntas sobre minhas sete horas de detenção, falem daquele povo que há setenta anos é prisioneiro em sua própria terra". O padre Nandino Capovilla não se desmente nem por um instante. Nem mesmo a expulsão e a entrada negada israelense, que o impedirá de retornar àquela terra que tanto ama, o distraem de seu objetivo principal: justiça e paz para um povo martirizado.
A reportagem é de Riccardo Bottazzo, publicada por Il Manifesto, 13-08-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Ele havia chegado ao aeroporto de Tel Aviv na tarde de segunda-feira, 11 de agosto, com uma delegação de cerca de quinze pessoas, entre as quais Dom Giovanni Ricchiuti, presidente da Pax Christi Itália, para participar de uma "peregrinação da justiça" realizada como parte da campanha "Pontes, Não Muros". O pe. Nandino, um pároco "incômodo" de uma paroquia no bairro periférico de Cita de Marghera, foi parado pela polícia israelense, seu telefone e suas malas foram confiscados e foi mantido sob rigorosa vigilância até ser notificado de sua expulsão como persona non grata e perigosa para a segurança do Estado. Ele está livre, sim, mas apenas para retornar à Itália. Portanto, foi repatriado no primeiro voo disponível.
Certamente não era a primeira experiência de viagem à Palestina para o pe. Nandino, um conhecido membro da Pax Christi que luta pela liberdade do povo palestino há mais de quarenta anos. Ele organizou inúmeras iniciativas de solidariedade, como a ajuda na colheita de azeitonas nos territórios ocupados, e escreveu livros para dar voz aos que não têm voz, como seu último livro, "Sotto il cielo di Gaza", com Betta Tusse. "As nossas peregrinações são de justiça e visam denunciar e compartilhar o que está acontecendo com o povo palestino", disse ele ao Il Manifesto. É exatamente o que Israel não quer.
“O número assustador de jornalistas mortos é prova disso. E é justamente por isso que peço a todos vocês, jornalistas, que não foquem seus artigos no que aconteceu comigo, mas no que acontece todos os dias em Gaza. Usem todos os meios à disposição para exigir sanções contra esse Estado que, com seus chamados ‘erros’, bombardeia mesquitas e igrejas e continua a fingir que todos os horrores que comete contra a população civil são meros exageros.”
Em Veneza, a notícia de sua detenção em Tel Aviv desencadeou uma mobilização como não se via há tempo. Gianfranco Bettin, vereador da oposição, imediatamente pediu ao prefeito Luigi Brugnaro para contatar o governo para uma rápida intervenção diplomática. Também manifestou sua solidariedade com o pároco de Cita a deputada veneziana Luana Zanella, líder do grupo AVS na Câmara dos Deputados, destacando que se trata de "mais um ato de brutalidade por parte das autoridades israelenses, uma vergonha que se soma a uma longa lista: do bloqueio das missões de paz em solidariedade a Gaza à rejeição da relatora da ONU Francesca Albanese e da nossa amiga Luisa Morgantini". A ANPI provincial também emitiu um comunicado contundente: o caso do Padre Nandino "nos convence cada vez mais de que devemos continuar a ampliar a mobilização popular contra as políticas genocidas do governo de Israel".
"Considero-me, acima de tudo, um homem de paz", acrescenta o Padre Nandino. "Paz para os palestinos, mas também para os muitos israelenses que se opõem à guerra e às políticas assassinas de Netanyahu. Pergunto-me o que viram em mim para me considerar uma ameaça à segurança do Estado." Um padre sempre na linha de frente, amado tanto na Palestina quanto em sua Cita, onde organiza iniciativas em prol de migrantes e moradores de rua.
No aeroporto, havia muitas pessoas para receber a "ameaça à segurança do Estado de Israel". Todos com bandeiras brancas, vermelhas, verdes e pretas, gritando com ele: "Palestina livre, livre".