A Igreja Latino-Americana contra as minas poluentes

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08 Agosto 2025

Na província de Bolívar, no Equador, a polícia reprimiu recentemente comunidades que exerciam seu direito de protestar pacificamente em defesa da água, da terra e da vida, porque a mineração na região estava contaminando rios. "Água vale mais que ouro", era o grito de protesto.

A reportagem é de Bruno Desidera, publicada por SIR, e reproduzida por Settimana News, 07-08-2025.

Na região de Cajamarca, no Peru, há algumas semanas, a água que matava a sede de uma aldeia de oitocentos habitantes apareceu repentinamente, em uma manhã, completamente oxidada, devido à poluição da mineradora Yanacocha, detentora da maior mina de ouro da América do Sul. No Panamá, protestos contra projetos de mineração em diversas regiões indígenas, duramente reprimidos, perduram há anos e se intensificaram nos últimos meses.

No Brasil, no estado de Minas Gerais, no norte do país, a mineração de lítio, essencial para baterias de carros elétricos, está consumindo e poluindo quantidades significativas de água, deixando a população local "seca". Enquanto isso, no estado do Ceará, no nordeste do país, há um debate atual sobre a retomada da mineração de urânio. Estes são apenas alguns exemplos, entre centenas de exemplos que poderiam ser citados, de comunidades em toda a América Latina que estão sendo vítimas de projetos de mineração poluentes e invasivos, que representam uma ameaça real à sua própria existência.

Pensando nessas comunidades, e em sintonia com um caminho eclesial que acompanha as populações há muitos anos, o Conselho Episcopal Latino-Americano e do Caribe (CELAM) e a rede ecumênica continental Iglesias y Minería elaboraram em conjunto o documento Orientações Pastorais das Igrejas Católicas diante das Atividades Mineradoras.

O texto também é fruto de um recente encontro de vinte bispos no Panamá, acompanhados pelo Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral. O encontro foi apresentado na presença de Dom Vicente Ferreira, presidente da Comissão de Ecologia Integral e Mineração da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, da ativista afro-americana Heriberta Fernández e de Cecilia Barja, do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral. O prefeito do mesmo Dicastério, Cardeal Michael Czerny, enviou uma mensagem em vídeo. "É hora de passar das palavras à ação", insistiu o cardeal. "Que estas diretrizes, fruto da reflexão e do discernimento orante, sejam mais um sinal do compromisso da Igreja Católica com a defesa da nossa casa comum."

O compromisso das Igrejas

Não é por acaso que as orientações pastorais são divulgadas durante o Ano Jubilar, como explica ao SIR o missionário comboniano Dario Bossi, um dos coordenadores da rede Iglesias y Minería:

As raízes bíblicas do Jubileu nos oferecem quatro direções, quatro pilares fundamentais. A primeira é o cancelamento da dívida, e nisso também sentimos um forte chamado para cancelar a dívida ambiental e ecológica que os países do Norte global contraíram por centenas de anos. A segunda é a eliminação da escravidão, e quando falamos de extrativismo mineral, frequentemente nos referimos a condições de trabalho semelhantes à escravidão. A terceira é a distribuição de terras, e a mineração, por outro lado, é um dos exemplos mais emblemáticos de grilagem de terras, a concentração de propriedade. E a quarta é o descanso da terra, no sábado que pertence não apenas aos indivíduos, mas a toda a criação. Isso também é exatamente o oposto do extrativismo predatório.

O Padre Bossi cita uma lembrança pessoal:

"Quando eu morava na Assaïlândia, trens carregando trezentos vagões passavam – e ainda passam – continuamente, vinte e quatro horas por dia, um trem por hora, carregados de minério de ferro, arrancado do ventre da mãe terra, no coração da Amazônia, para ser exportado para a China".

Os interlocutores diretos do documento são as comunidades e as Igrejas.

As comunidades diretamente afetadas são chamadas a resistir, a não se deixarem desanimar, a não se deixarem dividir, porque essa é a estratégia que as empresas, o Estado e as prefeituras frequentemente empregam. E, então, a encontrar estratégias de autoproteção, visto que muitas vezes não são defendidas pelas instituições públicas. A esperança é que a Igreja, em vários territórios, se posicione ao lado dessas comunidades. Essa é uma das principais razões pelas quais escrevemos as diretrizes pastorais. De forma mais geral, a Igreja, em todas as suas dimensões, é uma entidade ética e política chamada a promover o bem comum e a justiça socioambiental.

Segundo o missionário, a Igreja do “Norte global” também é consultada, o que

"Pode assumir posições éticas em relação à mineração. Recordemos, por exemplo, a corajosa decisão dos bispos austríacos, que retiraram todos os seus investimentos de potenciais financiamentos a empresas de mineração de ouro. E é aqui que entra a proposta da nossa campanha de desinvestimento em empresas envolvidas na mineração. Vou um passo além e recordo a proposta, com forte simbolismo litúrgico, de evitar celebrar com vasos de ouro."

O martírio de Juan López

O compromisso das Igrejas também se inspira nas figuras de "mártires", como Juan López, morto há dez dias em Honduras ao sair de um culto da Palavra. O bispo de sua diocese, Trujillo, o homenageia.

"Juan López foi um homem encarregado da Palavra de Deus na paróquia de San Isidro de Tocoa Colón e também foi coordenador da pastoral social da diocese e coordenador da pastoral ecológica. Ele também foi membro da Rede Mesoamericana de Ecologia. Juan uniu duas coisas: fé e compromisso social", diz o Bispo Jenry Orlando Ruiz Mora, que continua:

Juan viu como o sistema econômico extrativista estava causando mortes em nossas aldeias. Na região de Tocoa, a mineradora Pinares Ecotec causou grandes danos a cidades e famílias. Muitas pessoas foram mortas. E as mineradoras entraram à força, com atos e documentos ilegais. Utilizaram uma rede de corrupção, envolvendo prefeitos e órgãos estatais. As comunidades lutaram arduamente. Oito pessoas foram criminalizadas e presas por dois anos e meio.

O bispo conclui:

Para Juan López, seu compromisso com as comunidades era pró-vida; era um testemunho de que, para ele, defender a criação não é um crime. Pelo contrário, trata-se de amar a vida, de trabalhar pelas gerações futuras. Assim, ele mesmo afirmou que seu compromisso ecológico não era apenas humanístico, mas também decorria de seu compromisso com o Evangelho. Juan havia feito da Laudato Si' sua. Juan havia compreendido, com o Papa Francisco, que a crise ecológica e a crise social são uma só.

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