27 Junho 2025
Entre janeiro e maio deste ano, 11 indígenas — incluindo quatro crianças — morreram na região.
A reportagem é de Ricardo Villa Verde, publicada por Agenda do Poder, 25-06-2025.
A Defensoria Pública da União (DPU) e o Ministério Público Federal (MPF) em Mato Grosso encaminharam um ofício ao Ministério da Saúde solicitando medidas urgentes diante da grave crise sanitária enfrentada pelo povo Xavante na Terra Indígena Marãiwatsédé. Entre janeiro e maio deste ano, 11 indígenas — incluindo quatro crianças — morreram na região. A informação é da coluna Painel, da Folha de S.Paulo.
No documento, os órgãos apontam indícios de negligência ou falhas graves na prestação de serviços de saúde aos indígenas. Segundo eles, as mortes poderiam ter sido evitadas, já que há relatos recorrentes de falecimentos por causas presumivelmente evitáveis, como desnutrição, anemia, apendicite não tratada, falta de transporte e ausência de medicamentos. Parte dessas denúncias, feitas por indigenistas, já havia sido revelada pela Folha de S.Paulo no mês passado.
A DPU e o MPF alertam ainda que cerca de 50 crianças, com idades entre seis meses e quatro anos, estão atualmente em risco de desnutrição na terra indígena. De acordo com o Censo do IBGE de 2022, vivem no território 1.160 indígenas.
O ofício também denuncia uma série de irregularidades no funcionamento do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Xavante, incluindo a ausência de enfermeiros, exercício ilegal da profissão por parte de alguns profissionais, estrutura física inadequada e equipamentos vencidos ou inoperantes.
“Há uma percepção unânime, expressa por diferentes instâncias do controle social e da gestão pública, de que o problema é estrutural e resulta da falta de gestão técnica e planejamento integrado”, afirma o documento. A situação seria agravada ainda pela escassez de profissionais, infraestrutura precária, ausência de saneamento básico e redes frágeis de apoio e resposta interinstitucional.
Dados do IBGE apontam que apenas 46,16% da população indígena da Marãiwatsédé tem acesso à distribuição de água potável. Não há informações disponíveis sobre coleta de lixo ou rede de esgoto na região.
Diante do cenário, o ofício encaminhado à Secretaria de Saúde Indígena recomenda a criação de uma força-tarefa multidisciplinar para atuar no território por pelo menos 90 dias. Também propõe a formação de um comitê de crise, com reuniões quinzenais e a participação de representantes do Ministério da Saúde, DSEI, Funai e lideranças indígenas.