12 Mai 2025
Projeções indicam que, por volta de 2032, as filiações evangélicas devem superar as católicas
O artigo é de José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia, em artigo publicado por EcoDebate, 12-05-2025.
Eis o artigo.
O primeiro censo demográfico do Brasil, realizado em 1872 — quando o país ainda era uma monarquia e o catolicismo era a religião oficial — registrou 99,7% da população classificada como católica. Já no segundo censo, em 1890, no primeiro ano da República, esse número caiu ligeiramente para 98,9%. Em 1940, com o primeiro censo conduzido pelo recém-criado IBGE, o percentual de católicos havia recuado para 95%.
Em 1980, ano da visita pioneira do Papa João Paulo II ao Brasil, a proporção de católicos caiu para 89% da população. Ou seja, entre 1872 e 1980, o catolicismo perdeu, em média, cerca de 1% de fiéis por década. Ainda assim, o Brasil seguia, em larga margem, como o maior país católico do mundo.
A segunda visita papal ocorreu em 2007, com o Papa Bento XVI, quando os católicos representavam cerca de 67% da população. Em 2013, com a vinda do Papa Francisco, o número caiu para aproximadamente 62%. Desde os anos 1980, portanto, o catolicismo passou a perder, em média, cerca de 1% de fiéis por ano — uma aceleração significativa em relação ao ritmo anterior.
Fica evidente que o Brasil está passando por um processo de transição religiosa que se desdobra em quatro movimentos: declínio absoluto e relativo das filiações católicas; aumento acelerado das filiações evangélicas; crescimento do percentual das religiões não cristãs; aumento absoluto e relativo das pessoas que se declaram sem religião, conforme mostra o gráfico abaixo.
Os 3 últimos Papas não conseguiram frear o declínio da influência católica no Brasil.

Gráfico sobre a transição religiosa no Brasil entre 1940-2032 (Fonte: IBGE)
O IBGE ainda não divulgou os dados sobre religião do Censo de 2022, mas estimativas indicam que, até 2025, a proporção de católicos encontra-se abaixo de 50%. As projeções apresentadas no gráfico acima indicam que, por volta de 2032, as filiações evangélicas devem superar as católicas, fazendo com que o Brasil perca o posto de maior nação católica do mundo.
No entanto, o futuro ainda está em aberto. O Papa Leão XIV, eleito em 08 de maio de 2025, terá a oportunidade de renovar os rumos da Igreja e tentar conter o ritmo do declínio do catolicismo no Brasil. Os próximos anos serão decisivos para a manutenção ou para a mudança de hegemonia católica no maior país da América Latina.
Com certeza o Papa Leão XIV dará continuidade ao legado do Papa Francisco, como a atenção aos pobres, excluídos e refugiados, a justiça social e a preocupação com o meio ambiente. Deverá buscar o diálogo e a construção de pontes especialmente neste momento de guerra comercial e fortalecimento do nacionalismo.
Dará atenção aos problemas sociais, pois sua experiência na América Latina o torna sensível a questões como a desigualdade, a violência, a migração e os direitos humanos, que provavelmente terão espaço em sua agenda.
Como missionário, buscará formas de levar a mensagem do Evangelho às diferentes culturas e realidades da América Latina. Dada a complexa relação entre a Igreja e os governos em diversos países da América Latina, sua experiência e sensibilidade cultural podem ser úteis para promover um diálogo construtivo e respeitoso.
Mas o maior desafio será conter o declínio das filiações católicas na América Latina. O Brasil já teve a visita de 3 Papas e a transição religiosa continua de forma acelerada. Por conseguinte, será difícil, mas não impossível, o Papa Leão XIV conseguir evitar que o Brasil perca a posição de o maior país católico do mundo.
Referências
ALVES, JED. A dinâmica demográfica e espacial e a transição religiosa no Brasil, Ecodebate, 16/04/2025. Disponível aqui.
ALVES, JED, et al. Distribuição espacial da transição religiosa no Brasil, Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 29, n. 2, 2017, pp: 215-242. Disponível aqui.
Leia mais
- A aceleração da transição religiosa no Brasil: 1872-2032. Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
- O acelerado crescimento dos templos evangélicos e a transição religiosa no Brasil. Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
- Os votos em Lula e Bolsonaro por região e religião no primeiro turno das eleições de 2022. Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
- A encruzilhada do catolicismo brasileiro
- Transição Religiosa – Católicos abaixo de 50% até 2022 e abaixo do percentual de evangélicos até 2032
- Catolicismo no Brasil em Declínio: os dados do Censo de 2010
- América Latina. Catolicismo em queda livre?
- Nem só católico, nem só evangélico: o Brasil das múltiplas religiões e religiosidades revelado pelos jovens. Entrevista especial com Regina Novaes
- Evangélicos já representam cerca de um terço da população do Brasil
- A transição religiosa nas grandes regiões do Brasil
- Distribuição espacial da transição religiosa no Brasil
- A transição religiosa entre os povos indígenas no Brasil
- Desde 2010, uma nova organização religiosa surge por hora
- A transição religiosa no Brasil: 1872-2050
- Uma projeção linear da transição religiosa no Brasil: 1991-2040
- A transição religiosa em ritmo acelerado no Brasil
- Mais do que eleições presidenciais, um modelo civilizatório está em disputa. Entrevista especial com Ed René Kivitz
- Voto evangélico: 2022 não é 2018. Artigo de Alexandre Brasil Fonseca
- Análise sobre o catolicismo no Brasil. Artigo de Robson Ribeiro
- O futuro de uma Igreja em crise. Entrevista com Roberto Righetto