21 Março 2025
A inteligência artificial aplicada à biologia sintética (ramo da biologia que usa a informática para construir sistemas ou partes biológicas que não existem naturalmente) está sendo usada para esboçar, modificar e criar novas sequências de DNA e proteínas, da mesma forma que o ChatGPT cria conteúdos “totalmente novos” extraindo informações existentes do universo cibernético. Esta biologia potencializada pela inteligência artificial é chamada de “biologia generativa”. Com a IA, analisa grandes volumes de dados genéticos, cria estruturas inéditas e simula organismos ou moléculas para experimentos biotecnológicos.
A reportagem é de Verónica Villa Arias, responsável pela pesquisa sobre agricultura e alimentação do Grupo ETC, publicada por Desinformémonos, 20-03-2025. A tradução é do Cepat.
O relatório La Caja Negra de la Biotecnología alerta que grandes empresas como Google, Microsoft, Amazon e Alibaba estão adentrando na chamada biologia generativa sem regulamentações claras, nem mecanismos de controle público. De acordo com o estudo, essas corporações desenvolvem e aplicam essas tecnologias sem transparência acerca de seus processos, nem supervisão independente que avalie seus impactos. Isto significa uma grave ameaça à biodiversidade, aos ecossistemas e à saúde humana, pois abre as portas para a geração de patógenos e armas biológicas. Além disso, a própria inteligência artificial, com seu processamento de dados em milhares de máquinas, requer o uso indiscriminado de recursos naturais como água e energia.
O Centro Africano para a Biodiversidade (ACBio), a Rede do Terceiro Mundo (TWN, na sigla em inglês) e o Grupo ETC consideram que embora a biologia generativa prometa acelerar os processos de inovação, opera como uma “caixa preta” que oculta decisões fundamentais e dificulta a supervisão humana, o que pode ter consequências drásticas. As pesquisas falam de uma “caixa preta”, pois permite que grandes quantidades de dados genéticos sejam analisadas rapidamente, mas suas decisões não são rastreáveis. Isto significa que embora haja avanços, nem sempre entendemos como a IA chega às suas conclusões.
De acordo com este relatório, o campo da biologia generativa representa, de forma muito preocupante, uma audaciosa monopolização das informações das sequências digitais dos recursos genéticos do mundo. Já estamos presenciando investimentos significativos nesses desenvolvimentos e poderosos atores digitais que impulsionam o ciclo do anúncio publicitário para gerar fascínio, esperança e investimento na biologia generativa. Por exemplo, a Microsoft está desenvolvendo ferramentas como o BioGPT, um aplicativo de inteligência artificial generativa focado em saúde, que se baseia em informações médicas coletadas em bancos de dados de empresas farmacêuticas, hospitais e seguradoras. O Google, por meio de seu laboratório DeepMind, também criou o AlphaFold, tecnologia de IA que prevê estruturas de proteínas.
O Centro Africano para a Biodiversidade (ACBio), a Rede do Terceiro Mundo e o Grupo ETC fazem um chamado urgente a estabelecer regulamentações rigorosas que supervisionem o desenvolvimento e o uso dessas tecnologias, com o propósito de proteger a biodiversidade e prevenir seus efeitos negativos nas comunidades e no meio ambiente. Sem regras claras e mecanismos de controle, os riscos associados à biologia sintética impulsionada pela IA podem sair do controle.
O relatório La Caja Negra de la Biotecnología foi elaborado em preparação à 16ª Conferência das Partes (COP) da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), que ocorreu na Colômbia, no final de 2024. O texto completo pode ser baixado em: La Caja Negra de la Biotecnología. Integración de inteligencia artificial (IA) y biología sintética.
O Grupo ETC, Grupo de Ação sobre Erosão, Tecnologia e Concentração, é uma organização internacional sem fins lucrativos. Dedica-se a monitorar o impacto de tecnologias emergentes e as estratégias das corporações sobre a biodiversidade, a agricultura e os direitos humanos. Além disso, promove o desenvolvimento de tecnologias socialmente responsáveis e controladas democraticamente.
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