Por: Caroline | 18 Agosto 2014
A biologia sintética ou “engenharia genética extrema” representa um avanço na biotecnologia e é algo que vai além da manipulação genética dos transgênicos. Trata da construção artificial de micro-organismos completamente novos, que têm a capacidade de mudar ou “reprogramar” o metabolismo de organismos para realizarem funções que não existem na natureza.
A reportagem é de Giorgio Trucchi, publicada por Rel-UITA, 14-08-2014. A tradução é do Cepat.
Fonte: http://goo.gl/gtHGdI |
A geração de organismos modificados sinteticamente (OMS) não implica apenas uma ruptura ainda mais profunda em matéria evolutiva, mas pretende alimentar uma indústria milionária para a criação massiva de produtos estratégicos, como combustíveis ou medicamentos; ou a produção seletiva, e em pouco volume, de substancias que têm um altíssimo valor agregado.
“Desfazem cadeias de carboidratos de qualquer celulose que possa haver em toda a matéria vegetal e voltam a redefini-las através de micróbios artificiais, para assim produzir combustíveis ou princípios farmacêuticos”, disse Silvia Ribeiro (foto), diretora do Grupo ETC para a América Latina, para a Rel.
Da mesma maneira, as companhias que se lançaram a conquista desta nova fronteira da engenharia genética já estão produzindo materiais que já existem na natureza, entre outros podem citar: borrachas; fragrâncias; aromas; óleos; especiarias e cosméticos...
Um negócio muito rentável
Segundo a BCC Reserch, as vendas de produtos fabricados com biologia sintética alcançaram os 1,6 bilhão de dólares em 2011 e espera-se que cresçam para quase 11 bilhões em 2016.
Este enorme negócio, que envolve quase 3 mil pesquisadores em 40 países, está sendo controlado pelas maiores empresas químicas e energéticas, assim como as grande companhias de cosméticos, aditivos e fragrâncias, comerciantes de grãos e medicamentos.
Estes velhos atores da política de acumulação mundial operam em colaboração com centenas de operadores financeiros, “que estão investindo bilhões de dólares em capital social em mais de 100 novas empresas que vão se especializando em biologia sintética”, explica em um relatório detalhado do Grupo de Ação sobre Erosão, Tecnologia e Concentração (Grupo TC).
Atualmente, há mais de 20 produtos que já são comercializados a nível mundial (bioplásticos derivados do milho, sabores de uva e laranja, ácido chiquímico e um agrodiesel derivado do açúcar), as grandes companhias estão patenteando “as rotas metabólicas” que cobrem a produção de outras centenas de compostos biossintetizados.
Entre os objetivos a curto prazo se encontram borracha de isopreno, ácido láurico e mirístico (derivado de óleo de palma e de coco), a artemisinina (composto anti malária), o açafrão, o esqualeno (hidratante cosmético), o perfume patchouli, a baunilha e óleo de vetiver (elemento essencial de fragrâncias).
Economia do saque e da espoliação. Camponeses e indígenas desabrigados
“As grandes corporações vendem a ideia de que esta nova tecnologia serve para acabar com a fome e as doenças no mundo, assim como para solucionar as crises dos combustíveis, mas a realidade é diferente.
A criação através da biologia sintética de produtos que já existem na natureza afetará gravemente e desalojará milhões de famílias camponesas e indígenas, que atualmente sobrevivem produzindo estas substâncias em todo o mundo”, disse Ribeiro.
De acordo com o relatório do Grupo ETC, o que mais preocupa sobre esta nova indústria da chamada “bioeconomia” é o crescente uso de biomassa tropical, que requer insumos massivos, como da cana de açúcar, a celulose dos bosques e as algas.
Neste sentido, a demanda da biomassa incrementaria de forma brutal, comprometendo 74% da biomassa que permaneceu até agora fora da economia de mercado, a metade da qual se encontra no mar.
Além de um aumento do acumulo das melhores terras agrícolas e dos bosques, o Grupo ETC assegura que a capacidade que presume esta nova forma de engenharia genética extrema para tornar fontes de biomassa em produtos, poderia incluir outros tipos de territórios, como os desertos e as costas, na tendência global a espoliação.
“A economia da biologia sintética é uma economia da espoliação e da expropriação. Com seu otimismo tecnológico guiado pelo lucro, pretende substituir o trabalho de camponeses e indígenas, e introduz sérios riscos, ameaças e impactos sobre a biosseguranças, saúde e meio ambiente em geral”, concluiu Silvia Ribeiro.
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Biologia Sintética, um projeto de desapropriação - Instituto Humanitas Unisinos - IHU