23 Janeiro 2025
"Um “presente bobo que nunca deveria ter sido feito”: foi assim que Donald Trump, em seu discurso de posse, definiu a cessão do Canal do Panamá ao Panamá a partir de 1º de janeiro de 2000. Se Putin tivesse dito isso, um barril de pólvora teria explodido."
O comentário é de Gian Antonio Stella, jornalista, publicado por Corriere della Sera, 23-01-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Naquele dia, na realidade, apenas se encerrou o contrato secular pelo qual o estado, ajudado pelos EUA em 1903 a se separar da Colômbia, havia concedido aos EUA a construção do canal, que, ao cruzar o istmo, poupava 13 mil quilômetros de circum-navegação da América do Sul. Um investimento de 375 milhões de dólares na época (12,5 bilhões de dólares hoje), incluindo 40 milhões de dólares para a França, que havia iniciado o projeto, e 10 milhões de dólares para os panamenhos, mais valor anual de 250 mil dólares, que subiu gradualmente para valores mais altos, mas não muito altos se, depois de arrancada a soberania sobre o canal, que há três anos viu 14.080 navios passarem, o país centro-americano passou a ganhar mais de 4 bilhões de dólares por ano. Para além do “negócio” farejado pelo presidente estadunidense e do desafio à China, que hoje cobre 24% do tráfego no canal, onde a gestão de dois portos está nas mãos de dois grupos de Hong Kong, a preciosa hidrovia, que em 2023 viu uma queda obrigatória de 30% nos trânsitos, está na verdade enfrentando graves problemas ambientais por causa da mudança climática que Trump teimosamente nega.
Uma reportagem da Reuters explica que a repetição de anos de seca e perturbações causadas pelo El Niño e La Niña está tendo efeitos mortais sobre esse istmo que já foi abençoado por chuvas tropicais: “A precipitação do ano passado”, escreveu o New York Times meses atrás, “foi um quarto menor do que o normal, tornando-se o terceiro ano mais seco do país em quase um século e meio de dados”. E os meteorologistas, de acordo com a Reuters, “preveem que o Panamá enfrentará secas mais severas e uma evaporação mais rápida da água devido às temperaturas mais altas no futuro”. Isso é um grande problema para o canal, que funciona com um sistema de comportas que acaba esvaziando em um e outro oceano uma quantidade assustadora de água dos reservatórios de Gatún e Alhajuela, formados pela escavação do canal e agora em dificuldades. Basta dizer que a empresa Salini Impregilo, parte do grupo que está ampliando o canal, apresenta como objetivo de sucesso reduzir o consumo de cada passagem, para passar pela eclusa mais desafiadora, de 500 para 200 milhões de litros de água.