10 Janeiro 2025
Uma nova avaliação da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas alerta que um em cada quatro animais que vivem em rios, lagos e pântanos estão ameaçados pela poluição, barragens ou espécies invasoras.
A informação é de Antonio Martínez Ron, publicada por El Diario.es, 08-01-2025.
Cerca de 25% das mais de 23.000 espécies de animais que vivem nos habitats de água doce do planeta estão em risco de extinção, de acordo com um novo relatório publicado nesta quarta-feira na revista Nature, que também destaca a situação crítica das espécies que vivem na Península Ibérica.
O trabalho, liderado por Catherine Sayer e sua equipe, consiste em uma avaliação da fauna mundial de água doce para a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), que inclui 23.496 peixes, crustáceos decápodes (como caranguejos e camarões) e odonatos (como libélulas e cavalos-moscas).
De acordo com o novo relatório, 24% das espécies que vivem em rios, lagos e pântanos da Terra correm alto risco de extinção, sendo os mais ameaçados os caranguejos e camarões, com 30%, seguidos por 26% dos peixes de água doce e 16% das libélulas.
A análise identifica a poluição, as barragens, a agricultura e as espécies invasoras como as principais ameaças para esses animais, e visa contribuir para embasar os esforços futuros para reduzir a perda de biodiversidade de água doce.
Entre as espécies estudadas, 54% são consideradas afetadas pela poluição, 39% pelas barragens e a extração de água, 37% pela mudança no uso da terra e os efeitos associados da agricultura, e 28% por espécies invasoras e doenças.
Os ecossistemas de água doce são afetados pela perda de biodiversidade, mas até agora não foram realizadas avaliações completas dos riscos de extinção das espécies dentro desses ecossistemas. Os autores lembram que esses habitats abrigam mais de 10% de todas as espécies conhecidas e que essa diversidade oferece múltiplos benefícios, como o ciclo de nutrientes, o controle de inundações e a mitigação das mudanças climáticas.
Miguel Clavero, pesquisador da Estação Biológica de Doñana (EBD-CSIC), não se surpreende com os resultados, pois aqueles que trabalham com espécies de água doce estão acostumados a ver esse declínio. "Os números das espécies em risco até nos parecem baixos, porque em lugares como os ambientes mediterrâneos do planeta, a proporção de espécies ameaçadas provavelmente seja muito superior", afirma.
Quanto ao estudo, a Clavero não se surpreende que a Península Ibérica se destaque pelo número de espécies de água doce ameaçadas a nível global. Em relação às causas da ameaça, ele aponta que as modificações nos cursos dos rios, a construção de barragens e as invasões biológicas estão muito interligadas. "É como um conjunto de ameaças que atuam ao mesmo tempo", argumenta. "As espécies invasoras são favorecidas pela construção de barragens e pela disrupção do regime de vazões, e isso tem um efeito muito grave sobre as espécies nativas, que vão sendo perdidas em cadeia".
"A situação destacada da Península Ibérica deve-se, por um lado, ao fato de termos uma alta diversidade e muitos endemismos, e, por outro lado, ao fato de termos muitas ameaças", concorda Rafael Miranda, pesquisador do Instituto de Biodiversidade e Meio Ambiente BIOMA e professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Navarra. "Somos um dos países que têm mais barragens do mundo — enumera —, assim como uma exploração excessiva da água, um impacto humano contínuo da agricultura e as espécies invasoras que aqui são muito agressivas".
Belinda Gallardo, cientista titular do Instituto Pirenaico de Ecologia (IPE-CSIC), acredita que este estudo lança luz sobre o alarmante estado de conservação dos ecossistemas de água doce a nível global, destacando a Península Ibérica como um ponto quente em relação às espécies ameaçadas. "Esses ecossistemas estão sob uma pressão sem precedentes devido a ameaças como a poluição, a modificação de habitats e as espécies invasoras", afirma.
Em linha com essa constatação, lembra a pesquisadora, o projeto Life Invasaqua identificou 122 espécies invasoras aquáticas de alto impacto já presentes na Península Ibérica, incluindo espécies especialmente daninhas como a perca americana, o mexilhão zebra e o jacinto d'água. "As espécies invasoras aquáticas são extremamente difíceis, quando não impossíveis, de erradicar, o que ressalta a importância da prevenção em pontos críticos de entrada, como portos e áreas de intensa atividade humana", observa.
Na opinião de Gallardo, o estudo publicado na Nature destaca a necessidade de desenvolver objetivos estratégicos de conservação específicos para os ecossistemas aquáticos, levando em consideração suas características únicas e os serviços ecossistêmicos que oferecem, como a purificação da água e a mitigação de inundações. "Esses objetivos não devem se traduzir apenas em políticas globais, mas também em medidas locais concretas que ajudem a proteger nosso patrimônio natural", afirma. "Podemos reverter a situação, nunca completamente, mas sim em grande parte, como demonstramos com a recuperação de muitos rios", conclui Miranda. "O desânimo não é uma opção".
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1/4 dos animais de água doce está em perigo de desaparecer devido à pressão humana - Instituto Humanitas Unisinos - IHU