Por: Elstor Hanzen | 21 Novembro 2024
Seja por excesso ou por escassez de chuva, quem primeiro e mais intensamente costuma sofrer os efeitos dos fenômenos climáticos são as comunidades de minorias étnicas, raciais e moradores de regiões periféricas distantes dos centros urbanos. O problema se evidencia nas habitações em áreas de risco, por exemplo, em que pessoas de baixa renda vivem em condições precárias e insalubres.
A intersecção desses fatores e sua consequência na população mais vulnerável, em síntese, é conhecida como racismo ambiental. Neste contexto, os saberes ancestrais e práticas dos povos negros e indígenas costumam ser instrumentos relevantes de resistência e emancipação dessas pessoas historicamente marginalizadas.
“O racismo ambiental é uma mazela histórica no Brasil e na região Norte. É causado pelas injustiças sociais”, explica Francy Júnior, historiadora e articuladora do Movimento das Mulheres Negras da Floresta Dandara, de Manaus. Conforme ele, “se olharmos como e de que forma foram o processo de povoamento da região Norte, as manobras de ocupação das terras indígenas e dos quilombolas, podemos perceber escurecidamente o racismo ambiental.”
Questionado pela reportagem do Amazônia Real sobre onde o racismo ambiental se revela mais, Francy Júnior destaca. “Através da forma como as populações mais empobrecidas, jogadas à margem, são afetadas de forma desproporcional pelos impactos ambientais negativos”. Ainda segundo ele, “as moradoras e os moradores das comunidades periféricas estão expostas e expostos a um risco maior de sofrerem com as inundações, os deslizamentos de terra, a falta de saneamento e, enfim, a ausência de políticas públicas. A falta de acesso a serviços básicos, como água potável e saneamento, agrava ainda mais os impactos negativos do racismo ambiental.”
Os resultados do Censo 2022 revelam que sete em cada dez brasileiros que vivem em moradias precárias são pretos, pardos ou indígenas. Além disso, as cidades brasileiras com menores índices de coleta de lixo estão localizadas na Amazônia Legal.
Já de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em 2018, cerca de 70% das vítimas de desastres naturais no Brasil eram negras.
Nesse cenário, a educação ecológica mesclada com os sabres e práticas dos povos marginalizados pode ser poderosa ferramenta de resistência para o enfrentamento ao fenômeno do racismo racial. O desdobramento desses sabes e suas nuances vão ser tema da palestra do professor da Universidade Federal do Norte do Tocantins (UFNT) Vinicius Aguiar, sob o título Do racismo ambiental à educação ecológica afrogênica. Desafios e emancipações.
A conferência virtual acontece nesta quinta-feira, 21-11-2024, e vai ser transmitida no site do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, no YouTube e no Facebook, às 17h30. A programação completa está disponível aqui.
A atividade integra um espaço de discussão, análise e avaliação de questões que constituem grandes desafios de nossa época. O objetivo geral do projeto é fomentar o debate sobre temas da atualidade, abrangendo as áreas de atuação do IHU.
Vinicius Gomes Aguiar é professor do curso de licenciatura em Geografia e do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura e Território (PPGCult) da Universidade Federal do Norte do Tocantins (UFNT). É membro do Neuza - Núcleo de Pesquisa e Extensão em Saberes e Práticas Agroecológicas - e atua na Superintendência Federal de Desenvolvimento Agrário (SFDA) de Goiás, vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). É doutor em Geografia pela Universidade Federal de Goiás - UFG (2015) e tem experiência em trabalhos envolvendo conflitos ambientais, territoriais, geotecnologias e comunidades tradicionais.
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Racismo ambiental afeta mais povos marginalizados, e educação pode ser ferramenta de resistência - Instituto Humanitas Unisinos - IHU